Elisabete era só uma criança quando salvou Benjamin de algo que ninguém tão jovem deveria passar.
Os dois tornaram-se inseparáveis, contrariando o que todos em sua volta acreditavam.
Anos depois os fantasmas do passado voltam a assombra-los e colo...
Aos poucos, com o passar dos meses, Celeste relaxou com a presença de Benjamin, assumindo até que ele tinha um charme peculiar. De alguma forma, era fácil gostar do garoto.
- Não, não, não! O último chocolate é meu! Tire a mão, Ben! – Lis inclinou-se para dar um tapa na mão de Benjamin, que estava quase alcançando o último bombom da caixa que dividiam.
- Lis, eu acabei de fazer aniversário... Acho que mereço o último chocolate!
- Fazer 15 anos não te dá direito a nada, Ben, largue o chocolate!
- Ok... – Ele respondeu, de forma maliciosa, já pensando em penaliza-la por isso. - Se eu vou ficar sem chocolate, então nós iremos ver um filme de terror! Não adianta revirar os olhos.
Já era tarde da noite e os dois estavam na casa de Lis, preparando-se para verem um filme. Desde que Ben tinha conquistado Celeste, eles passavam muito tempo ali.
Recentemente, tinham comemorado o aniversário dele com uma pequena festa na casa de Haroldo. Agora, aguardavam com ansiedade o de Lis, que não demoraria a chegar.
Ben sabia que ela tinha medo de filmes de terror, principalmente naquele horário. Mas, nos últimos tempos o agradava o fato de que quando assistiam a esses filmes ela sentava-se ainda mais próxima a ele.
Talvez tenha sido apenas por isso que ele abriu mão do chocolate, assim ganhava poder para barganhar sobre o filme.
Às vezes, quase sem querer, as mãos deles se encostavam e Lis ficava vermelha tal qual um tomate.
- Ei, nerd. Onde está o esquisito do seu namorado? – Quem falava com Lis era Carlos Borges, um aluno do Pracinha dois anos mais velho que ela e que quase todos os dias pegava no pé da garota quando Benjamin não estava por perto.
Por estar no time de futebol do colégio ele se achava superior a todos os outros alunos e pensava que todas as garotas queriam estar com ele.
– Não vai falar comigo hoje?
Os dois estavam sozinhos na rua próxima ao Pracinha e Lis tratou de apressar o passo na tentativa de deixar Carlos para trás. Um repentino puxão em seu braço fez com que ela se virasse para ele sem equilíbrio.
- O que você está fazendo? – Perguntou, com a raiva começando a borbulhar juntamente medo que sentia de Carlos. – Me solte!
- Venha aqui, Elisabete, não se faça de difícil. Se você consegue ficar com aquele retardado do Benjamin, não vai ter dificuldades em ficar comigo.
Carlos a puxou pelo braço mais uma vez, agora tentando beija-la. Lis reagiu, tentando escapar das suas mãos, mas Carlos era muito mais forte que ela e a segurava de tal forma que não dava espaço para que pudesse lutar contra os braços em volta de seu corpo.
Sem alternativas, quando Carlos investiu para beija-la, ela o mordeu. Tão forte que sentiu o gosto do sangue dele em sua boca. O revide veio de maneira rápida, e ela quase não viu quando a mão dele a atingiu, machucando seu rosto e fazendo-a cair ao chão.
- Idiota! Você é uma puta escrota, Elisabete! Vá! Corra atrás do seu namorado! Vocês dois se merecem... – Dizendo isso, ele cuspiu no chão e por pouco não a acertou.
Lis sentou-se no meio-fio, desejando poder ficar ali encolhida para sempre. Todo o medo e humilhação que sentiu bloqueava seu corpo de uma forma que nunca antes teria imaginado ser possível. Mal conseguia se mexer.
Foi só o pensamento de que tudo poderia ser ainda pior caso alguém aparecesse e começasse a questionar o que tinha acontecido que a fez levantar-se, continuando seu caminho até a escola. Sentia vergonha e não queria contar a ninguém sobre o que tinha passado.
Todos os dias ela e Benjamin iam juntos para escola. Ou pelo menos quase todos. Nesse dia em questão, Ben tinha perdido o horário depois de ajudar Haroldo em um trabalho no dia anterior. Prometeu para Lis que chegaria na escola mais tarde e a encontraria no intervalo.
Tentando disfarçar o que tinha acontecido, ela lavou o rosto da melhor forma que pode antes de adentrar à sala de aula. Ficou aérea todo o tempo em que seus professores falaram, não conseguindo prestar atenção em uma só palavra. Também não se sentia ansiosa para encontrar Ben, não tinha muita certeza de como ele reagiria quando a visse machucada e sabia que dele não conseguiria esconder o que tinha acontecido.
Quando o intervalo chegou, Lis foi para o costumeiro jardim onde eles ainda ficavam juntos na pausa entre as aulas. Ali, não conseguiu mais segurar as lágrimas, toda a pressão que estava sentindo em seu peito saiu de uma só vez.
Estava péssima, como se o que tivesse acontecido tivesse sido sua culpa, mesmo ela sabendo que nada podia ter feito para impedi-lo. Na verdade, o que podia fazer ela fez, caso não tivesse reagido tudo poderia estar muito pior agora.
Quando ouviu os passos de Ben se aproximando, ela já não chorava mais. Mas, as marcas das lágrimas que escorreram por seu rosto ainda eram visíveis, assim como os olhos vermelhos e inchados.
- Ei, aí está você... O que aconteceu com seu rosto, Lis?
Benjamin estancou instantaneamente ao ver que Elisabete estava machucada. A junção de seus olhos vermelhos de tanto chorar e sua boca com um pequeno corte foi mais do que suficiente para que o corpo de Benjamin começasse a tremer, mesmo que ele se controlasse para não demonstrar.
Ela poderia apenas ter caído ou batido em algum lugar, não poderia?
Soube que a resposta para sua pergunta era não assim que ela o encarou e seus olhos inundaram de lágrimas novamente.
Elisabete contou com dificuldades o que tinha acontecido e ele ouviu com atenção. Absorveu cada palavra, deixando que elas se assentassem em meio ao ódio que crescia dentro de si.
- Ficou feliz que você tenha arrancado sangue dele, Lis. – O sorriso de Ben quando ela terminou a história confortou Lis, mas havia um brilho frio em seus olhos que não estavam ali anteriormente. – Vamos, Haro consegue dar um jeito nesse ferimento e podemos dizer para sua mãe que você caiu...
Alguns dias depois Carlos pediria transferência de colégio após ter aparecido bastante machucado depois de uma briga na mesma rua em que Lis foi agredida.
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