Elisabete era só uma criança quando salvou Benjamin de algo que ninguém tão jovem deveria passar.
Os dois tornaram-se inseparáveis, contrariando o que todos em sua volta acreditavam.
Anos depois os fantasmas do passado voltam a assombra-los e colo...
Foi preciso poucos minutos para que a vida deles voltasse a normalidade já conhecida. Lis escolheu deixar o que tinha acontecido no passado e, o que pareceu que iria afasta-los, acabou juntando-os ainda mais – como se algo assim fosse possível de acontecer.
- Achei que você fosse querer aqueles bailes ridículos e ainda iria me fazer dançar com você. – O assunto da vez era o aniversário de 15 anos de Lis, que se aproximava, e eles discutiam sobre isso enquanto jogavam buraco na casa de Haroldo. Ela fez uma careta ao imaginar aqueles vestidos enormes e desconfortáveis.
- Como se você pudesse ser um bom príncipe...
- Poderia fingir ser um com perfeição. – Elisabete sorriu quando ele piscou para ela, distraindo-a. – Bati! – Lis o encarou boquiaberta. Como é possível? Ela estava quase, Ben tinha um monte de cartas, e...
- Você roubou, Ben! Cadê as aquelas cartas todas que estavam na sua mão?
Lis cruzou os braços e o encarou emburrada, enquanto ele se desfazia em uma risada.
- Você é um idiota, Benjamin. Idiota!
- Ei, não me bata! – Ele se encolheu quando Lis se levantou para estapeá-lo por ter roubado.
- Eu devia fazer você engolir todas as cartas! – Como ele podia continuar roubando suas coisas sem que ela percebesse?
- Tente me pegar primeiro!
- Volte aqui, Ben!
- Vocês dois! Parem de correr pela casa! AGORA! – Haro apareceu vindo da cozinha e deu de cara com os dois correndo entre os móveis. Eles não deram muita importância para a ordem de Haroldo, talvez nem sequer tivessem o escutado, e apenas passaram por ele, ainda rindo, em direção ao quintal onde continuariam a perseguindo um ao outro até cansarem.
- Quem diria... Você completando 15 anos e a gente aqui, sentados no quintal de sua casa em um piquenique noturno.
Uma grande colcha havia sido estendida no jardim da casa de Elisabete e ela tinha providenciado algumas comidas. Era a melhor festa que podia querer. Com Benjamin e ninguém mais.
- Por acaso você está reclamando? – Lis sorriu para ele, que estava sentado de modo displicente, enquanto ela estava deitada olhando para as estrelas em um céu com poucas nuvens. – Se eu fizesse uma festa de verdade, poderia convidar toda nossa turma. O que acha? Quanto tempo você aguentaria aquelas pessoas que mal falam com a gente, Ben?
- É... Nisso você tem toda razão. Seria uma chatice do início ao fim, e logo eu daria um braço para estar aqui na sua casa.
Algo havia de ser confessado. Lis não sabia exatamente como e nem quando, mas já fazia algum tempo que ela se pegava pensando em como seria ter algo a mais com Ben.
Às vezes, a proximidade com ele deixava seu corpo quente e, quando por acaso eles se tocavam, ela desejava que o contato durasse um pouco além, e que pudesse ser intensificado. Como por exemplo, quando suas mãos se encostavam. Ela desejava que pudesse entrelaçar seus dedos nos dele e ficar ali, de mãos dadas. Passava horas, antes de dormir, imaginando como seria cada sensação.
Lis sonhava em como seria abraça-lo ou beija-lo, e tudo que a impedia de tentar era o medo de jogar para o alto a amizade que eles tinham conquistado. Era difícil estar perto dele o tempo todo com esses pensamentos a incomodando, mas seria ainda pior ficar sem vê-lo. Fora que ela teria que se mudar de planeta para superar a vergonha caso ela assumisse o que sentia e ele não correspondesse aos seus sentimentos.
- Lis? Você está me ouvindo? Venha aqui! Você está estragando meu papel! – A garota foi retirada dos seus devaneios românticos por um Benjamin em pé ao seu lado, demonstrando impaciência. Não tinha sequer visto o momento em que ele se levantou. – Vamos! – Ele ofereceu a mão para ajudá-la a levantar-se também.
- O que você está fazendo, Ben? – Perguntou, sem entender.
- Oras, se não teremos uma festa de verdade... – Lis se surpreendeu quando ele a segurou pela cintura e deu início a lentos movimentos desajeitados. – Posso ser um príncipe de mentira também.
O coração dela batia descompassado a cada movimento. Era engraçado como seu corpo se encaixava com perfeição ao dele. Não conseguiu pensar em nada inteligente para responder, sua mente parecia um infinito céu nublado. Tudo o que ela conseguia ter consciência era da forma como ele a segurava e do contato que estavam tendo.
Os olhos dele ficavam ainda mais escuros com a pouca iluminação e Lis não conseguia quebrar a ligação entre os dois. Estava perdida. Completamente perdida.
Ela riu, surpresa, quando Ben a afastou para gira-la. Ao voltar para seus braços, contemplou ele sorrindo de forma triunfante.
- Quem disse que eu não posso ser um bom príncipe?
A frase dele a fez dar uma pequena gargalhada.
- Obrigada. – Lis sussurrou, bem próxima ao amigo. Queria que aquele dia durasse para sempre. Poderia ficar ali, fazendo 15 anos, uma infinidade de vezes. – Obrigada por esse dia. É o melhor aniversário de todos!
- Eu jamais perderia esse momento... Faça um pedido, Lis!
Muitos desejos passavam pela cabeça dela naquele instante. Mas, para dizer a grande maioria deles era preciso uma coragem maior do que a que ela sentia.
- Só quero que a gente não se separe...
- Qual a graça de pedir algo que já é certo? – Benjamin indagou, sorridente. – Nós somos inseparáveis, Lis.
Ela riu, mas não pode responder. Perdeu-se mais uma vez ao olha-lo. Desejava que ele estivesse certo e que eles nunca precisassem se separar.
Deitou a cabeça em seu ombro, inalando o sútil aroma amadeirado do perfume que ele usava àquela noite.
As palavras entalavam em sua garganta, queria dizer o que sentia, mas não conseguia. Tinha vontade de subir as mãos pelos cabelos dele, mas o quão estranho isso pareceria?
Droga, eu sou uma molenga.
Internamente, ao contrário do que tinha dito para ele, seu pedido era outro. Ela repetia várias vezes, para que fosse registrado pelos astros sem erros, o desejo de um dia ter coragem de assumir para Benjamin o que sentia por ele.
Tudo que ela precisava era isso: ser corajosa.
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