Hyldren ficava à pelo menos seis dias de viagem de Monterygon, sendo uma cavalgada bem mais árdua do que a feita em direção ao castelo após deixar Engarth. Seria o próximo local onde procurariam auxílio para sua empreitada em Aledrac, onde esperavam arranjar tropas. Decidira-se que nem os darlos e nem os elfos os ajudariam em seu objetivo, os primeiros porque eram tão belicosos que já estavam em várias guerras e os segundos porque eram tão passivos e pacifistas que armas são até mesmo mal vistas em seu território.Darkus aproveitava a marcha para conversar mais com os Cavaleiros de Santigar, que forneciam história fantásticas e provavelmente verdadeiras sobre oque viveram em combate por todo o Continente. Desde lutas contra quimeras e ghouls, à participação em batalhas cruéis contra os monstros e contra outros reinos.
Durante uma dessas conversas, no terceiro dia de viagem, ele estava falando com Adelard e Rymond enquanto cavalgavam pelas planícies do interior de Continente. Rymond riu-se e se inclinou para a frente.
- Sim, seu pai esteve em todas esssas missões, aquele vagabundo era um guerreiro impecável mesmo comparado à todos os homens que já pegaram em armas nesse mundo. Lutou em várias batalhas e apenas tombou quando já não havia jeito, quando era necessário morrer para que seus companheiros conseguissem fugir.- Segredou-lhe o cavaleiro.
- Como meu pai e Gerald se conheceram?- Perguntou o jovem de cabelos negros, fascinado com as histórias sobre seu pai.
- Olha, eu não sei se eu seria o melhor para contar essa história, talvez devess- Foi interrompido por Gerald, que havia se aproximado do grupo sem fazer qualquer barulho.
- Eu e seu pai, Darkus, nos conhecemos quando ele foi pego tentando roubar um pão lá em Aurelin. O coitado do malandrinho ficou preso em uma estaca de madeira em uma praça da cidade e eu o libertei, conversamos e nos tornamos amigos. Decidimos que queríamos virar cavaleiros, percorrer reinos sob o lombo de um cavalo com espada na mão e o suspirar de donzelas em nosso encalço. Fomos inseparáveis desde então, e então ele decidiu morrer....- Deu um sorriso melancólico na última frase, levou a mão aos cabelos do menino e os afagou.
Darkus ficou estupefato com a história, saíra de Vila Primaveril desejoso por ser um cavaleiro, e no fundo talvez ainda quisesse seguir essa carreira. Gerald era uma pessoa vigorosa, seria um rei para Engarth durante muitos anos, era um tempo em que o jovem de olhos vermelhos poderia seguir esse sonho.
- Ei, que espada é essa?- Perguntou Adelard, vendo Trono de Ossos. Não se demorou em se curvar para mais perto do menino e tirar a espada negra de dentro da bainha.
Darkus se preocupou, sequer Gerald sabia muito bem sobre a espada, ele não perguntara mesmo depois do dragão desaparecer acima do menino. Ninguém tocou no assunto desde então, ainda mais com o cavaleiro tão constantemente longe para conquistar e cuidar do reino.
- Não é uma arma rude, rapazinho, não faço ideia de que material a lâmina seja. Parece feita inteiramente de obsidiana, tirando os detalhes de algo parecido com prata....- Adelard franziu as sombracelhas. Aparentemente o homem não conhecia nada sobre Trono de Ossos, nem a maldição que o dragão disse que ela carregava.
- É...uma espada especial. Eu achei na caverna de Engarth e decidi ficar com ela, se tornou a minha espada desde então.- Estendeu a mão para receber a espada de volta. Adelard olhou desconfiado, mas devolveu pelo cabo, com a ponta virada para seu peito.
Continuaram à cavalgar pelas terras verdejantes, se mantendo na estrada de terra batida quase vazia. Algumas vezes topavam com comerciantes passando com suas carroças com suprimentos de alimento e armas, destinados ao sul onde a guerra era travada. As pastagens se estendiam até onde a visão acabava, lavouras e fazendas produziam o alimento para as cidades e vilas. Depois de seis dias de viagem já estavam atravessando o Rio Alvo, à meio passo de Hyldren, e foi lá em que se separaram.
Os Cavaleiros de Santigar iriam seguir em direção à Ponte de Sallor, o desfiladeiro onde Edmund morrera para salvar os seus amigos, lá iriam passar pela Linha de Lerna e chegar adiantados em Aledrac. Gerald, Darkus e Anya entrariam em Hyldren, o primeiro reino em que iriam pedir ajuda.
No momento da despedida, Adelard e Rymond conversaram afastados com Gerald, uma conversa que Darkus e Anya só puderam especular sobre o conteúdo. No fim, os dois cavaleiros voltaram para a dupla e sorriram para o menino.
- Nos veremos bastante em breve, Darkus, e espero que seja com um exército às suas costas. Aledrac não irá cair conosco defendendo suas muralhas.- Falou Rymond, permitindo-se rir um pouco.
- E eu espero que vocês nos recebam com uma boa bebida antes da batalha, ainda mais uma tão importante quanto essa.- Respondeu o jovem, estendendo a mão para os cavaleiros.
Os homens apertaram, e então se dirigiam à Anya. Por mais que soubessem da índole da menina, o bloqueio ainda existia, afinal a garota demônio ainda era um demônio. Fizeram um pequeno aceno de cabeça e cavalgaram até a hoste, que se pôs à marchar rumo ao sul.
Gerald colocou sua mão sob o ombro da menina demônio, que parecia triste por essa frieza. O Rei de Engarth suspirou e deu suas palavras sábias.
- Não se preocupe, garota, logo esses canalhas podem acabar sendo destruídos por pedras de alguma catapulta de seu reino. Seria uma boa vingança, não?- Gargalhou e deu meia volta com o cavalo, saindo à galope.
Darkus viu que mesmo assim Aranya não estava muito feliz, então se aproximou da menina e lhe segredou no ouvido.
- Não ligue pra isso, se você chegar no Gerald antes de mim eu deixo você dar uma olhada na Trono de Ossos...- Bateu os calcanhares nos flancos do cavalo e saiu à galope.
Só olhou para trás ao ouvir Anya resmungar e começar à galopar atrás de si.
- Ei, espera por mim, idiota!- Gritou a garota, com uma mistura de raiva e divertimento.
Darkus riu, mas não deixou que ela o alcançasse. Talvez surgisse ali uma amizade tão bonita quanto a de Gerald e seu pai.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Trono de Ossos - Livro Um
FantasyVestroya, que impedia a passagem dos monstros aos Reinos dos Homens, caiu. O reino outrora poderoso, caiu perante as criaturas das trevas que se banquetearam sob as ruínas da cidade-estado e seus cadáveres. Nova Asgaet, Hyldren e os Estados Pontífic...