O Sol despontava ao Leste, e um garoto se sentia animado ao retornar para casa.Darkus estava montado em um cavalo, que dava passadas rápidas pela estrada de terra batida que serpenteava pelos campos do Ducado de Baltair. Ao seu lado, também montavam Drey, o filho do Senhor de Vila Primaveril e também Wallace, um dos oficiais que guarneciam a vila murada à oeste de Baltair, onde o duque residia.
Vila Primaveril era um dos assentamentos mais importantes do Reino de Nova Asgaet, sendo erguida em uma planície fértil e bem habitada, sua produção agrícola invejada por muitos. No entanto, ainda era extraordinariamente pequena e pouco impressionante se comparada às grandes cidades que se erguiam longe de si.
Mas não para Darkus, que amava aquele lugar.
Fora criado ali desde que tinha memória, sendo um órfão criado pelo próprio senhor da vila, que tomara o bebê com a mãe morta como filho adotivo, mais por pena do que qualquer outra coisa. E então crescera, recebendo uma educação senhorial de um nobre de baixa hierarquia. Apesar de ter sido acolhido e nunca maltrado, não deixava de pensar que não pertencia àquele lugar.
- Seguimos o rastro daqueles goblins durante uma semana e nada encontramos, aqueles bandidinhos conhecem a mata como a palma de suas mãos imundas.- Disse Drey, em seu clássico tom ferrenho e forte.
Era alto e bonito, com cabelos castanhos que lhe desciam até o ombro, dando uma aparência elegante. Seus olhos eram verdes e vivos, como seu interior.
- Talvez tenham fugido em direção aos vilarejos menores, não são loucos de rumarem em direção à Baltair e sofrerem com a fúria dos batedores do duque.- Comentou Darkus, que não tinha muitas semelhanças com o irmão de criação.
Darkus tinha cabelos negros como a noite, arrepiados para a frente e permanentemente presos naquele penteado. Sua pele era pálida como se tivesse no Sol o tempo inteiro, e as íris de seus olhos eram vermelhas como sangue, coisa que fora considerada um mal agouro quando a criança chegara na vila. Era três anos mais novo que Drey, o fazendo consequentemente mais esguio e menor.
- De fato, Darkus, mas quer queira quer não, devemos transmitir as novidades para o Barão de Vila Primaveril.- Disse Wallace, um homem compulento e de barba negra e farta. Os garotos usavam gibões de couro negro entrecortados por duas faixas vermelhas.
Os cavalos terminaram de prosseguir pela estrada, e os cavaleiros finalmente puderam avistar a vila. Vila Primavera poderia ser considerada uma cidade apesar do nome, grande e provida de muros baixos de pedra. As casas se espalhavam por ruas de tijolos, lá morando os humildes habitantes do assentamento humano.
Tinham problemas com goblins desde que Vestroya caíra perante o Duque de Lerna, antes de Nova Asgaet chegasse com poderosos reforços. " O máximo que conseguiram foi acolher os Cromwell e os transformar em duques." pensou o menino.
Darkus sorriu ao retornar para os portões de ferro, imaginando a refeição que o esperaria no castelo. Um guarda gritou das ameias, tirando o garoto de seus devaneios.
- Levantar portões!- E o acesso foi permitido aos três viajantes.
O garoto adentrou na vila com entusiasmo, acenando para os trausentes. Reconheceu Dalla e Dent, dois agricultores que plantavam cerejas. Também reconheceu Mycah, o cozinheiro do castelo, negocionando com Dalla e Dent o preço de um caixote de repolhos.
Conhecia quase todos os rostos, e todos eles o conheciam, pois a criança orfã era bastante sociável e amável.
Quando se deu por si, Edric Fannon já estava lhe dando um soco no braço e sinalizando para que Darkus descesse do cavalo. O menino amarrou a cara e pulou da montaria.
- Viu algum goblin, Darkus?- Perguntou Edric ansioso. Edric era dois anos mais novo que Darkus e servia como cavalariço do castelo. O jovem almejava se tornar um cavaleiro e poder cavalgar ao lado do barão para conter invasões de monstros ao Sul.
- Talvez tenha visto um batedor montado em um javali, mas não sei ao certo. O Bosque Verde é bem..verde.- E os dois garotos começaram à rir na falta de preocupação da infância.
Discutiram sobre oque fariam quando atingissem a maioridade, Darkus queria atingir honra o suficiente perante o Duque de Baltair e se tornar um barão. Edric queria se tornar um cavaleiro e servir nas fileiras da Ordem dos Cavaleiros Sagrados, que eram subornados diretamente à Fé de Auren.
Foram tirados de seus sonhos de glória quando um mensageiro entrou nas cavalariças, esmagando o feno sob o peso de suas botas.
- Darkus, o Barão Ardric quer vê-lo..- Disse o homem, e Darkus se sentiu confuso. "O barão quer me ver?!" pensou, achando que deveria ser algo em relação aos goblins.
Se despediu de Edric e correu para os corredores, subindo as escadas rápido para que conseguisse chegar logo nos aposentos do barão.
A Fortaleza de Springate era pequena e forte, possuindo seis torres e mais algumas torrinhas, guarnecidas por um número baixo de homens. O garoto rumou para a Torre Oeste, onde sabia que estava o barão. Quando chegou à porta do aposento, conseguiu ouvir uma discussão acalorada entre o barão e um conselheiro.
- ...já disse que não vou mandar o garoto para andar pelo mundo, podendo muito bem morrer nisso!- Disse o nobre, completamente furioso, mas parou quando Darkus entrou nos aposentos e se curvou levemente.
- Vossa Alteza..- Murmurou o garoto, inclinando a cabeça para o homem que havia o criado como um pai.
- Sente-se, Darkus, temos coisas à conversar..- Respondeu o barão, em um tom completamente exausto. Darkus se sentiu preocupado com a saúde do homem.
O aposento era grande e redondo, com paredes de pedra e janelas grandes e arejadas. O chão era coberto por um piso de madeira escura e lisa, coberto por cadeiras e mesinhas. Archotes iluminavam o local, colocados em suportes aqui é ali, auxiliados pela forte luz que emanava da lareira acesa às costas do nobre. Dois guardas domésticos se encontravam parados um de cada lado da porta, com espadas curtas no cinto.
Darkus se sentou e estudou o rosto de Ardric Springate. Era um homem alto e em boa forma, que ainda estava na casa dos trinta anos, embora pendendo bem mais para os quarenta. Tinha cabelos castanhos cortados até o ombro, se unindo à uma espessa barba que cobria o queixo e ao redor da boca. Ardric era o Senhor de Vila Primaveril, sendo um nobre menor à serviço do Duque Boros Baltair, oque lhe dava o direito de usar vestes ricas e um brasão de armas com cores deslumbrantes.
- Darkus..eu te chamei para uma proposta que me foi enviada por um conselheiro que conversou com um certo homem. Há alguns dias, um cavaleiro veio dar uma parada em Vila Primaveril, e disse que procura um aprendiz para que possa o ajudar. Não me agrada o enviar para algo tão perigoso, mas ele prometeu que o devolveria inteiro..não que isso seja um bom consolo. - Ardric deu uma risada fraca. - Chegou a hora de você decidir, afinal em dois anos será um homem feito, e com isso terá de encontrar um rumo. O que diz?-
Darkus se sentia bastante animado, apesar de lhe ser chocante a perspectiva de abandonar o lugar onde fora criado. O garoto nunca saíra mais do que poucas milhas além de Vila Primaveril, e agora enfrentava a perspectiva de nunca mais voltar à ver sua casa. Quando estava pensando em recusar, veio à sua cabeça a maldita idéia de que aquela era a chance de se tornar um grande nome como as lendas, uma lenda grande como Thorin Quebra-Escudos e o Príncipe Loren Draegys(antes de se tornar rei).
- Sim! Diga à ele que eu aceitarei a proposta com bastante prazer!- Respondeu Darkus finalmente, com uma grande animação estampada em seu rosto. "Sir Darkus de Vila Primaveril", pensou "É como nas histórias".
Lhe foi dirigido um sorriso triste por parte do Barão Ardric Springate, visivelmente pesaroso por perder o menino que considerava um filho. Colocou a mão sobre o ombro de Darkus.
- Pense bem, filho, pois depois disso pode ser que o cavaleiro não aceite bem uma deserção..- Começou Ardric, porém foi interrompido.
- Não se preocupe, senhor, eu prometo que não irei ceder. Retornarei como um cavaleiro às muralhas do castelo!- Retorquiu Darkus, com um sorriso no rosto.
O barão suspirou, encantado com o sangue quente da juventude e a sua capacidade para tomar decisões tão difíceis com tamanha facilidade. Se ao menos o garoto soubesse como havia mudado sua vida com isso..
O homem se levantou e encarou os serviçais parados à porta, usando um olhar avaliador.
- Pois bem, chamem Sir Gerald de Elizaet e tragam os pertences de Darkus, provavelmente o cavaleiro gostará de partir o mais cedo possível..e que Lugres guarde esse garoto.-
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O Trono de Ossos - Livro Um
FantasyVestroya, que impedia a passagem dos monstros aos Reinos dos Homens, caiu. O reino outrora poderoso, caiu perante as criaturas das trevas que se banquetearam sob as ruínas da cidade-estado e seus cadáveres. Nova Asgaet, Hyldren e os Estados Pontífic...