Capítulo XII - A Pedra de Drune

25 6 10
                                    


  Estavam apenas à um dia e meio de viagem até Hyldren, Anya podia jurar que havia visto uma grande torre ao norte.
   A garota demônio já sentia as coxas em carne viva, doía bastante, cavalgar pelo terreno rochoso era difícil com os constantes solavancos que se seguiam. A jovem que se acostumara com a vida de luxo do castelo de Trigendolf, o palácio de tijolos escuros erguido no meio da cidade que fica no interior do vulcão adormecido. Tudo isso mudou quando ouviu a conversa entre seu pai e o seu irmão, sobre o ataque à Última Cidadela.
    Passara dias pensando naquilo, desejando parar a guerra, desejando impedir mortes.  Toda semana vinha algum mensageiro atualizar o número de baixas, em tempos de ataques fracassados podia-se chegar à duzentos. Anya não queria isso, ela conhecia o povo, conhecera a família dos legionários. Caso atacassem Aledrac, os dois lados perderiam, e após conhecer Darkus...ela se preocupava com os humanos também.
    O garoto se tornara seu amigo, que a fizera ver o mundo. Atravessara metade do continente apenas para chegar à Engarth, diante dos boatos de um homem que derrotou um dragão, aquele seria o guerreiro perfeito para acabar com aquilo tudo. Agora estava viajando com esse mesmo cavaleiro e seu protegido pelo leste do continente atrás de homens para compor as fileiras que vão reforçar as defesas de Aledrac.
    - Estamos perto de ter que pegar um barco para atravessar o rio, de lá entraremos na cidade. Segundo Adelard e Rymond, os portões do rio são os únicos que são abertos desde que o Rei Maegon Draegys assumiu o trono. É um homem paranóico com monstros, reuniu uma guarnição generosa na cidade e bloqueou o comércio na própria cidade. Hyldren vive pelo comércio, e mesmo com os monstros léguas ao sul, ele fechou os portões. Os senhores das outras cidades se recusaram e são a única coisa entre o povo hyldreano e a miséria.-  Falou Gerald, quando o terreno começou à se tornar mais íngreme.
   - Paranóia com monstros.....- Anya sussurrou, um pouco magoada com isso. Como convenceria o Reino de Hyldren à ajudar se ela era o motivo deles não auxiliarem Nova Asgaet? Era impossível.
   Darkus percebeu essa mudança de humor e tocou-lhe o ombro, sorrindo.
   - Não se preocupe, iremos arranjar um jeito. Vamos ter o apoio para acabar com essa guerra.- Disse o jovem de cabelos negros, e Anya involuntariamente sorriu também.
   O único meio de acabar com aquela guerra era derrotando os monstros. Nem mesmo seu pai, o rei, poderia garantir que as invasões parariam em caso de um tratado de paz. E como seu pai não parecia incomodado com essa matança...a solução era as armas.
   
  Agora chegavam na margem norte do rio, vasta e cheia de pedras e lama. As elevações eram altas, com uma escada gasta pelos tempos em que o rio enche, a subida por eles parecia íngreme. Anya instivamente desceu da montaria ao ver aquilo, sentindo os olhares de confusão de Darkus e Gerald. Enquanto subia a curta escadaria até o cume do rochedo, viu runas riscadas na pedra, a garota conseguia lê-las..afinal ao sul do Vale Kharsim os monstros ainda cantavam a língua antiga.
     Lia coisas como a invocação das forças da natureza por reis mortos há muitos anos, sobre homens gigantes montados em hisurtos auroques castanhos e também sobre dois dragões combatendo perto daquele lugar. Era um lugar de história, aquela escadaria registrava acontecimentos daqueles reinos humanos, acontecimentos que os próprios humanos provavelmente não conseguiriam ler antes que o rio os fizessem desaparecer para sempre.
     Se sentou na beirada da pedra para escrever em um papel, passando tudo aquilo para a língua asgaetiana falada pela maioria dos humanos e pelos monstros mais cultos. Ouvia os dois companheiros conversando qualquer coisa ali embaixo, esperando ela terminar oque quer que estivesse fazendo. Já tinha enchido bastante páginas de traduções o mais fiéis possíveis, tentando manter nomes de lugares e alguns termos antigos. Teve uma ideia melhor e andou até o topo da pedra, onde um grande pedaço de mármore estava, decidiu escrever lá..mas daria muito trabalho.
    - Senhor Gerald? Podemos acampar aqui hoje?- Gritou em direção aos amigos, recebendo uma confirmação pela boca de Gerald. A menina demônio desceu para ajudar à fazer a fogueira, Darkus lhe acompanhou para pegar lenha.
     - Anya, o que era que você estava vendo no topo da pedra? É algo importante?- Perguntou o jovem de olhos vermelhos, enquanto reunia uma braçada de galhos.
     - Oh, Darkus, é algo incrível, são escritos de anos e anos atrás sobre a sua raça. Há também uma pedra gigante no topo do monte.- Anya estava bastante animada. Ela queria conhecer mais sobre o povo que queria ajudar, queria gostassem dela por isso. - Você podia ir ver junto comigo, né?
    - Claro, claro, só vamos antes pegar a lenha para a fogueira e ajudar à montar o acampamento.- Darkus encolheu os ombros, não parecia interessado, mas não queria decepcionar a menina. Anya não sabia se ficava grata ou triste.
     Levaram a boa quantidade de madeira até onde Gerald já tinha armado as barracas. O rio corria alegre e os peixes pulavam para fora, e agora o cavaleiro furava trutas com uma longa lança improvisada de madeira. Já tinha um cesto cheio de peixes.
    Anya subiu pelas escadas estreitas com o garoto em seu encalço. Os olhos vermelhos de Darkus passavam pelas runas estranhas para ele, mesmo tendo sido letrado não era realmente culto, o Bastardo de Primavera era mais espadas do que livros.
   -  Chegamos....- A pedra de mármore ainda estava lá, grande e assaltada pelo vento. Tudo parecia como horas atrás, até que viu algo cuja brisa fazia folhear, o papel dançante e seduzente com o conteúdo à mostra sem ser compreendido, como uma dançarina misteriosa em alguma hospedaria de Trigendolf.
     Aranya de Tregon se curvou à frente da pedra de mármore, encontrando pousado na grama um livro encadernado em couro preto. Seus dedos seguraram a lombada e ergueram o objeto para perto de seu rosto, os olhos dourados lendo o conteúdo. Parecia uma língua ainda mais antiga de a das runas, porém ela conseguia ler e deduzir significados por causa da proximidade linguística.
    - O que foi? O que é esse livro?- Darkus se aproximava, mas Anya não respondeu. Fechou o livro e analisou a capa, onde uma chama havia sido bordada na cor vermelha. Na língua antiga, estava escrito "Segredos".
    Abriu novamente e folheou as páginas, amareladas e cobertas de runas feitas com uma caligrafia desleixada e tinta duradoura. Apenas metade das folhas estavam cobertas com anotações, e Anya conseguiu entender que eram ordens em uma língua antiga.
    Ao erguer um pouco mais, um bilhete caiu na grama. Uma onda passou por dentro de si, imediatamente sua mão pegou a pequena carta e a desdobrou ansiosamente. Pouco estava escrito, mas era o suficiente para deixar o mistério plantado na mente de Aranya de Tregon.
   " Para o sul, com os olhos vermelhos, para a morte ou para o renascimento. Tens poder nas mãos, arcano e belo, terrível e sangrento. As palavras convocam caos.
         Aelin"

  - Já entendi oque isso é, Darkus, é algo incomum mesmo no mundo dos monstros....- Anya mordeu os lábios inferiores e fechou o livro, se virando para o menino. - É um grimório, um livro de magia...-

O Trono de Ossos - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora