Capítulo XXII - Faça arder

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        - Podem atirar.- Gritou novamente o Duque de Lerna, e um de seus oficiais foi enviar a ordem para os acampamentos ao longo da grande cidade. Em uma hora, pedras devastaram a muralha.
  
        Na opinião do duque, faltavam poucos dias para que abrissem uma brecha significava na muralha. Já haviam buracos onde trabucos e catapultas liberavam sua força, caso quisesse poderia lançar um assalto e tomar a construção.
         O real desafio seria tomar a muralha interior, a Muralha de Alehandro, construída na Era Asgaética pelo rei asgaético Alehandro I. Possuía cerca de vinte e oito metros de altura e uma espessura de oito metros, além de cobrir toda Aledrac e ter um fosso profundo a separando da muralha exterior.
        Por outro lado, supunha que o fato de derrubar a muralha acabe de vez com a moral aledraca. Os bombardeios causavam terror generalizado, tomar uma das muralhas da cidade seria mais um punhal no peito da moribunda cidade. Apenas duas pessoas haviam derrotado aquela muralha, o Rei Prometheu II de Olimpiana e a Rainha Andrômeda I de Normeria. Um deles era um rei guerreiro de imenso valor e a outra era a Rainha Dragão, que ou era um dragão ou montava um, os registros se confundiam.
         " Não possuímos um dragão, pois os dragões já se foram. Oque temos são o maior exército da história desse Continente, a maior máquina de guerra já vista e um ideal. Um ideal de um povo", pensou o demônio, de cima de seu cavalo.
      Flechas se seguiram às pedras, e novamente arqueiros aledracos e monstrios trocavam saraivadas de setas entre a muralha e os acampamentos. Era uma briga inútil, a batalha não acabaria só por causa disso e as baixas seriam irrelevantes. Haviam vinte e oito mil militares aledracos dentro das muralhas, e também rumores idiotas de uma imensa tropa de cavalaria.
    Westexia não tinha como enviar uma tropa assim, e os Estados Pontíficies estavam perdendo seu sul à partir de Galantine. Hyldren ainda não se erguera, Aledrac perdera essa guerra.

  Seu escudeiro viera aos tropeços até Valtryek, o comandante olhou de cima de seu cavalo para o menino desajeitado.
    - Meu senhor, seu elmo, as flechas podem acabar chegando por aqui.- O escudeiro lhe trouxe a peça, uma coisa magnífica forjada em Trigendolf, com viseira provida de fendas e buracos para deixar os chifres livres.
    - Agradecido, mas creio que não ousariam atirar contra o grosso das tropas. Esses aledracos são covardes, não irão fazer surtidas, os esmagaremos dentro de sua própria cidade.- Disse o homem, bastante despreocupado.
    Observou o embate até que ele cessassem e os arqueiros monstrios recuassem. Eram majoritariamente compostos por sátiros e faunos, porém alguns demônios lideravam. Era um exército composto por quase todas as Seis Tribos de Monstros: demônios, faunos, sátiros, orcs e lucenos, com os goblins estando fora por sua fraqueza e covardia, vermes que serviam somente para pilhar aldeias humanas.
     O Duque de Lerna tinha algum parentesco com orcs, devido à sua constituição física robusta, e sua avó fora uma lucena, assim lhe rendendo algumas escamas. Mas acima de tudo era um demônio, a raça que subjulgara as outras sob o domínio de Trigendolf.
     " De escravidão o nosso reino foi formado, poderíamos mudar isso, mas sem essa pedra em nossa história não seríamos a mesma construção." Pensou com amargura, mas ele era somente o responsável por essa guerra, cabia ao seu rei fazer esse tipo de escolha.
  
   Retornaram para o acampamento com o fim das hostilidades do dia, o Sol já estava alto no céu e logo chegaria a hora de se recolherem para um longo bombardeio no dia seguinte. As catapultas e trabucos também seriam aprontados para fazer bem sucedido o grande ataque.
    Valtryek estava retirando sua armadura em sua tenda, deixando os cabelos negros caírem atrás das costas, quando lhe veio um mensageiro. O homem era um luceno com uma pele verde e escamosa, no lugar de chifres tinha algo semelhante à cristas.
     - Vossa Alteza, cerca de dez cavaleiros vieram pela estrada de Trigendolf, carregando o estandarte do rei. Com eles vieram a Princesa Pandora de Tregon e o Tenente Andor Valkhar, e a princesa exige conversar com vossa senhoria.- Disse o pobre mensageiro.
    O demônio franziu o cenho, a princesa sempre quisera participar dos combates, não era realmente alguém de ficar parada enquanto os homens lutavam por ela. Não era como o pai, nenhum dos príncipes havia puxado o rei. Mas havia algo de errado, ela não iria por nada na companhia de um comandante da Legião de Messaria por nada.
     - Deixem que ela entre então...- Disse o duque, e imediatamente viu a jovem entrando. Ela era mais nova do que Aranya, a princesa fugitiva em terras dos humanos, mas mais alta e mais sensual, com seios fartos apertados no colete de couro, as coxas grossas nas calças de montar.
     - Valtryek de Lerna, vejo que já passaram os dias em que você derrubava Vestroya e Galantine. Aledrac ainda está de pé mesmo você tendo cinquenta mil homens e mais de vinte armas de cerco, vai precisar de mais de uma volta de lua?- Pandora soou arrogante, olhando com seus brilhantes olhos dourados e face carmesim sardenta. 
     - Não temos problemas com abastecimento e Aledrac e Nova Asgaet estão acuadas, não temos com oque se preocupar. As linhas de suprimento vem de Melro e Nova Tregon.- Respondeu o duque, de forma fria. - Veio aqui preocupada com minha campanha ou com algum outro objetivo?-
     A princesa se sentou em um dos bancos sem ser convidada, e fuzilou o tio com o olhar. Era como se estivesse irritada por ele não ter entendido mesmo sem ela ter explicado.
     - Messaria possui somente uma guarnição de uns dois mil recrutados, Erlokyn levou toda a Legião de Messaria para Vestroya. Ele pretende assumir a Cidade Ponte com o apoio do exército e se tornar duque, você próprio pode o interceptar se sair logo dessa merda de cidade humana. Precisaria tomar Aledrac em uma quinzena para isso, e se pôr em marcha, nem ocorreria sangue, os legionários iriam mudar de lado ao ver que seria você comandando.-
     Aquilo o pegou de surpresa, demorou alguns segundos para sentir raiva. Seu filho, Orwick, era o Conde de Vestroya de acordo com o tratado assinado pelo próprio pai de Erlokyn, maldito príncipe. Ele pretendia usurpar se aproveitando do poder da cidade e da importância de Vestroya que era demasiada elevada para ser disputada e enfraquecida.
      - Tentarei terminar com esse cerco, pode ficar tranquila. Não marcharei agora por dever para com meus homens, mas irei impedir Erlokyn. Por que não apoiou seu próprio irmão?- Questionou o duque, um tanto curioso.
       Pandora corou e se enfureceu como se tivesse recebido uma ofensa descabida. Tentou falar várias vezes antes de soltar a voz.
       - Me toma por uma traidora, tio?! Sou acima de tudo uma filha do rei e uma mulher monstria, sou fiel ao meu povo. Essa audácia de Erlokyn serviria apenas para nos enfraquecer, saiba que a batalha contra Nova Asgaet ainda não está ganha, Cromwell reúne um exército enorme para rechaçar seu filho e seus comandantes.- Proclamou a moça, oque deixou Valtryek admirado perante o conhecimento político de uma jovem de quinze anos.
      Valtryek queria dizer tantas coisas, tanto avisar que teria de lidar com Cromwell cedo ou tarde e terminar de esmagar os restos do Reino de Vestroya, mas outro maldito mensageiro chegara.
      - Meu lorde...- O homem estava ofegante, caiu morto antes de terminar a fala. Tinha mais de meio metro de lança cravado no flanco esquerdo, um sátiro agora cujo cadáver esfriava.
     O duque fez sinal para a sobrinha ficar ali e lentamente caminhou até a espada, se dirigiu até o exterior da tenda e viu um soldado correr desalentado pelo acampamento. O parou com uma mão firme.
     - Estão atacando! Centenas de homens com roupas dos Cromwell, vingança por Vestroya, meu senhor! Esmagaram os soldados no Portão Norte!- Falou o luceno.
     O general riu-se e gritou ordens. Pelo visto havia sido descuidado.
      
   

O Trono de Ossos - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora