Capítulo XIX - Terras Agrestes

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     - Ela vai melhorar logo. Feitiços geram efeitos com um preço, e feitiços assim cobram o vigor do usuário.- Disse a bruxa, debruçada sob Anya. - Agora que ela já acordou, é só deixá-la de repouso.-
 
   Anya, que havia esgotado suas forças realizando aquele feitiço contra o monstro, agora estava deitada em um saco de dormir. Darkus se sentava ao lado dela, olhando para a bruxa.
    - Então...você conhece sobre magia?- Perguntou a Princesa de Tregon, olhando-a sem se erguer.
    - Sou estudiosa da arte de usar a força da magia, Sua Alteza, uma das poucas que existem nesse mundo. Estudei com elfos, monstrios e orientais, tenho conhecimento vasto.- Respondeu a mulher. 
    Darkus se levantou e olhou para a bruxa com total desconfiança, ela havia aparecido logo após a batalha e dito que queria o encontrar. Ela apenas pedira para ver Aranya de Tregon, o fato dela saber o nome de Anya o abateu o suficiente para que a levasse mesmo que sem confiar.
     - Seu nome?- Indagou o bastardo.
     - Que falta de cortesia, meu lorde, poderia ser mais educado com uma dama viajante. Sou Aelin, nascida de Vestroya antes da queda, fui criada na Ilha de Asgaetia e viajei pelo mundo por anos. Agora vim até esse fim de mundo procurando por você.- Ela deu uma gargalhada, a próxima frase foi uma troça. - Satisfeito, meu lorde?-
      - Por que veio até aqui?- O rapaz a fulminou com o olhar, um tanto irritado.
       - Por que? Bem, houveram vários motivos. Você e sua espada, a Princesa Demônio e a sua missão idiota de salvar a Última Cidadela. Aledrac vai cair antes do próximo ciclo de lua, e sangue pagará essa queda.- Ela ainda tinha um tom de zombaria na voz.
      - Ainda há chance, as tropas já devem ter chegado, e nós estamos quase saindo da Ponte de Sallor.- Darkus se recusava, ainda tinha esperanças. Haviam ido de Engarth até ali, e estavam atravessando um dos lugares mais perigosos do mundo.
      - As muralhas de Aledrac a protegeram, assim como sua glória. A Última Cidadela cairá assim como a Cidade Ponte, nada pode mudar isso. A rixa de sangue entre as duas raças está sendo paga com sangue, os monstros estão na vantagem. Assim como você deveria conquistar essa sua espada com sangue, eles estão conquistando essa terra com ele.-
      Darkus não entendia, parecia o mesmo tipo de conversa do dragão, algo místico. A única espada naquela tenda era...
     - Como assim? Conquistar com sangue?- Sua cabeça tonteava.
     - Sabe o que era aquele monstro? Um espírito. Espíritos são seres de magia, são eles que fazem muitas coisas, dragões são espíritos e a Trono de Ossos também. A espada atraiu a besta, assim como a espada atraiu a tal maldição para você. - Ela não se dignou à ser menos direta, foi lançando revelação após revelação como golpes de espada.
   " Assim como feitiços, um ramo da magia, exige vigor de seu usuário para domar a natureza, para conquistar um espírito você deve fazê-lo se curvar. Dezenas antes de você tentaram domar essa espada, que só pode ser domada em após o pagamento de posse, o pagamento de sangue e o pagamento de sacrifício."
      - Como ele pode fazer esse pagamento de sangue?- Não prestaram atenção em Anya, mas ela havia se sentado e falara.   
      - Quanto à isso não sei, nunca domei nenhum espírito travestido de espada. Você deverá descobrir oque significa, ou então morrer. Os espíritos surgem de acordo com um acontecimento marcante, essa criatura que matou provavelmente foi criada com a Batalha de Sallor, algo do tipo.- Ela rumou para fora da barraca. Lançando um último olhar para Anya de Tregon.
     " Se continuar usando magia do jeito que você usa, vai se tornar um cadáver em pouco tempo. Me encontre mais tarde, irei ensiná-la algumas coisas antes de chegarmos na perdição" E foi-se embora.

     Tiveram sua primeira batalha logo após atravessarem o penhasco, alguns metros depois acharam uma torre de guarita em uma rocha. Quando a guarnição os vira, já era tarde, Gerald levara cem subida acima e matara os doze monstros que ali estavam. Não hastearam bandeira e alguns tiveram um teto para dormir e comer durante uma noite.
     Após o combate contra o monstro, a contagem havia sido feita. Foram registrados seiscentos e quarenta homens de Cromwell, uma miséria se comparado ao terrível exército que o Duque de Lerna levava.
     Encontraram três cartas de imensa importância na torre: uma anunciando que Anya estava sendo procurada; uma contabilizando as tropas do Duque de Lerna como formada por cinquenta mil homens, seis mil cavalos e trinta trabucos e catapultas e uma visando que o cerco estava sendo montado em torno de Aledrac.
     Darkus ouviu discussões acaloradas por toda a noite, resolveu não tomar parte delas e subiu os andares para ver o vale nas ameias. Via um pouco longe Anya conversando com Aelin, de tempos em tempos ouvia algum estampido.
      " Sou um fantasma aqui, se oque a bruxa disse for verdade sou um homem morto antes de uma volta de lua. Falhamos antes de tentar ou é tudo um equívoco?" pensou, a realidade havia sido fria o suficiente com ele para que não acreditasse em qualquer esperança.
     Desembainhou Trono de Ossos e olhou a espada profundamente, o material negro refletia levemente o seu olho, como uma mancha de sangue recente.
    " Por posse, sangue e sacrifício..." Deixaria o mundo o guiar, de espada na mão e olhos à frente.

    Deixaram as montanhas após dois dias, e prosseguiram muito mais rapidamente no terreno pedregoso mas amplo do norte das Terras dos Monstros. Não era nada do local digno de pesadelos das lendas, era apenas como qualquer campo verde em Nova Asgaet.
     " Mais uma mentira, e agora atravesso território inimigo em direção à Última Cidadela." refletiu.
    Para sua surpresa, quando pararam em uma cidade em ruínas fumegantes, viu enorme rio correr perto dali. Não era possível.
     - Essa é....- Aella, ao seu lado, estava boquiaberta. Pensaram que deveria ser um lugar mais grandioso.
     - Essa é Vau Thyr. - Confirmou Dunceon, O Manco. - Mas se vencermos, não será o fim dessa cidade. Vau Thyr já foi queimada, saqueada e devastada provavelmente uma centena de vezes, irá se reerguer.-
     Ficou à par dos planos de Gerald em pouco tempo através de Dunceon, mas não da boca do Rei da Montanha. Os homens de Cromwell ficariam estacionados em Vau Thyr se aproveitando do que foi deixado pelos monstros.
    Quando um sinal fosse enviado, eles cairiam como uma distração ou armadilha para o Duque de Lerna. Estariam à meio dia de viagem, de pontos altos diziam que até se podia ver os trabucos e escadas de cerco. Caso o ataque contra as linhas de cerco fosse mal sucedido, ainda tinham as Colinas de Ferro como refúgio, que eram uma série de montanhas bem próximas da Última Cidadela.
    Se despediram, Aella insistiu veementemente para acompanhar Darkus já que era sua espada juramentada e a bruxa também iria. Assim cavalgaram pouco depois do sol nascer, em direção às muralhas que se erguiam no horizonte.
    
   Aledrac era uma coisa monstruosa, menor do que Hyldren e duas vezes maior do que Radriel. Eram duas muralhas maçicas de pedra escura, bastante semelhantes às que compunham as Montanhas da Noite. A exterior oferecia um ângulo arredondado para desviar projéteis, e a exterior era quadrada. Os portões estavam firmemente trancados e pareciam já ter sido golpeados recentemente.
    O acampamento de cerco estava abaixo, cheio de tendas e homens vestidos com boas armaduras e armados com boas armas. Darkus encontrava criaturas semelhantes à homens mas com pequenas galhadas e rostos peludos, seres verdes e de alta estatura com pequenos olhos violetas e os demônios, com suas cores variadas e chifres de carneiro.
     Como a carta dizia, lá haviam armas de cerco. As catapultas e trabucos estavam à postos, e alguns danos eram vistos nas muralhas, mas nenhum havia sido suficiente para causar qualquer dano. A muralha seguia incólume, marcada por séculos de outros ataques de igual magnitude, a cidade prevalecia.
      Pararam à alguns metros das tendas, olhando hesitantes para a vastidão do poderio dos monstros.
      - Gerald...- Tentou chamar o nome do homem, mas ele não respondeu. Seus olhos miravam ao longe.
      - Já sabe oque fazer...- Sussurrou Aelin de Vestroya, mas ela se dirigia à Anya. A garota demônio suspirou e abriu os braços longamente.
       Frases em rúnico ressoaram pelo ar, como em todas as vezes Darkus sentiu um longo arrepio pela espinha. Seus braços sumiam à sua frente, assim como Aella, Gerald e Anya. Não via à si mesmo, era como se houvesse se tornado um camaleão.
     Sem dar uma única palavra, marcharam por entre as tendas. Quando Darkus olhou para trás, a bruxa havia desaparecido.
   
   
   
      

O Trono de Ossos - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora