Capítulo XXIV - Batalha de Aledrac

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        Irromperam pelos portões de forma organizada, já estavam atravessando os campos quando o acampamento em total bagunça os notou. Dez mil cavaleiros, divididos em dois grupos de cinco mil até que se reunissem por fim e dessem a volta, para uma nova carga ou batalha campal.
      
       Aquele era o plano, pelo que sabia Darkus, mas na loucura de uma batalha era dificultoso saber se as formações realmente estavam em prática. Trono de Ossos estava em sua bainha, era a longa lança que portava, com uma haste de bem mais de um metro de comprimento.
     Preferira não portar um manto, portando suas placas de metal pareciam pouco gloriosas sem o ornamento. O elmo lhe impedia o total da visão, mas era o suficiente para ver à sua frente e perceber que alguns dos soldados tentavam se organizar à frente dos acampamentos.
     - Cunha!- Gritou Rymond de Galantes, em seu corcel vermelho e fogoso com os cascos fazendo um barulho forte. Carregava uma espada com o tamanho
    E então o choque ocorreu, Darkus não lembrava de ter abaixado a lança e erguido o escudo, mas aquilo o impedira de morrer logo de início. Sua lança não se cravou em ninguém, mas os cascos de sua montaria atropelaram dois desavisados.
     Adelard, marcado por suas escamas no elmo simulando um luceno, havia conseguido empalar dois oponentes de uma só vez, e em seguida trocara sua lança para continuar seu papel na carga. A primeira barreira fora atropelada com velocidade, do outro lado um berrante ao longe confirmou que o choque ocorrera também com o segundo grupo. 
     A Batalha de Aledrac, para eles, havia se iniciado finalmente.

  - Abaixar lanças!- Gritara Rymond, agora já esmagavam tendas e armações, infantes caíam aos seus pés. Darkus viu pela primeira vez os famosos legionários de Trigendolf, cerca de duas dezenas deles contra mais de dez mil que varriam tudo pela sua frente envolvendo os sitiantes.
     Os legionários usavam uma armadura de placas semelhante à dos cavaleiros, mas seus elmos não cobriam a face. Eram ditos por cobrirem distâncias enormes em pouco tempo mesmo atulhados de peso. Carregavam piques, lanças enormes erguidas para parar a cavalaria.
     - As pontas das lanças vão ficar vermelhas!- Gritou um dos cavaleiros, antes de sua montaria ter o coração perfurado por um pique e arremessar seu montador para longe. "Ele talvez esquecera de deixar claro qual lança", pensou Darkus em um humor mórbido.
     Sua lança furou um escudo de madeira e se cravou no pescoço de um legionário, quebrando ao se dobrar com o choque. Darkus ainda usou a haste quebrada para golpear e derrubar um infante que viera lhe combater mesmo abaixo de si. Tirou Trono de Ossos da bainha finalmente quando se aproximavam do grosso das tropas do acampamento.
      - Pelo Rei de Engarth! Por Aledrac!- Gritaram os homens de Santugar, Darkus gritou com eles, se sentia bêbado pela febre da batalha. Uma cabeça de maça lhe tentara morder o elmo, desviou escoiceando a montaria e dando a volta com o cavalo, trocando golpes com a espada negra. Trono de Ossos queria sangue, lhe deu sangue ao cortar um homem da cintura para cima, não ficou para ver as tripas.
      Era uma coisa sangrenta matar homens de cima do cavalo, também um tanto fácil...ao menos pensava até receber uma grande dor na face, na forma de uma estrela da manhã. Um sol cruel, ferro ou chumbo com espinhos feitos para causar estrago, o impulso lhe amassara o elmo, revidou com um arco da esquerda para a direita. Não ficou para saber se matara alguém, continuou cavalgando.

    Darkus via cada vez mais homens indo pela sua frente, pelo que diziam à Adelard eram a maior parte do exército sitiante que mal tinha tempo para se organizar. Aqueles que se movimentavam com mais rapidez tinham recuado e formado hostes menores que iam na direção das montanhas, estavam pondo os exércitos do Duque de Lerna em fuga.
      Como vanguarda poderiam dar batalha para cada um dos exércitos, disse Adelard, enquanto paravam em meio à desolação do acampamento. Darkus podia ver os cavaleiros arremessando archotes contra as balistas e catapultas, fariam arder o maquinário monstrio antes que pudesse ser usado contra eles.
     - Adelard, pelo que disseram o Duque de Lerna recuou com um dos três grupos. Se perseguirmos o correto podemos o capturar e ainda desbaratar uma dessas hostes, é a oportunidade perfeita com os exércitos divididos.- Disse Rymond, o elmo manchado de sangue e respingos de miolos, tinha uma claymore vermelha até o botão.
        - Há detalhes sobre cada um dos três grupos?- Perguntou Darkus, limpando Trono de Ossos no pano de armas do cavalo. O escudo estava afetado, mas nada que o impedisse de receber mais ataques no lugar de seu dono.
         - Dois grupos de legionários, pelo que dizem são oque sobrou das duas legiões que o Duque de Lerna trouxe, recuando para leste das Colinas de Cobre. Provavelmente vão para Vau Thyr, é a posição mais segura nas redondezas, e onde o Duque de Lerna pode resistir....- Respondeu um dos soldados batedores, o pobre homem perdera um braço.
         - E o terceiro grupo é de uma pequena cavalaria de pouco mais de mil monstrios e infantes recrutados, na maioria camponeses armados. Provavelmente são covardes, já que fugiram para posições mais baixas nas Colinas de Cobre, nas antigas vinícolas.- Contou Aella, que também estava na cavalaria acompanhando Darkus.
         Ela deveria ter ido com a infantaria, mas havia insistindo enormemente que devia acompanhar aquele à quem ofereceu sua espada. Darkus aceitou, seria bom lutar junto de uma amiga, mas os cavaleiros ficaram receosos, não achavam que uma mulher seria útil.
         Ela lhes provara o contrário, combatendo com vigor e determinação, sua espada e lança eram tão mortais quanto foram na Ponte de Sallor. Era uma guerreira exemplar, Darkus reconhecia isso e a admirava enormemente.
       - Vamos seguir os grupos de legionários, senhores, não devemos deixar as legiões de Trignefolf à solta. Os esmaguem junto com o grupo de cavalaria comandado por Alastor, iremos os entregar para o inferno de onde não deveriam ter fugido!- Gritou Adelard, todos ergueram as armas e partiram guiados pela sede de vitória e pelos batedores.
        Trono de Ossos desceu contra dois infantes, um depois do outro, os derrubando e os fazendo sangrar. O escudo parou um, dois, três e quatro golpes seguidos, revidou cinco, seis e sete vezes, destruindo o escudo e estocando com a lâmina. O cavalo galopou esmagando cabeças e lanças, esporeou o animal e o fez saltar por cima de um pedaço de catapulta em chamas.
       Encontrou um cavaleiro, um luceno montado em um diómede feroz que mordeu o pescoço do cavalo de Darkus, fazendo o animal empinar e grunhir de dor. O cavaleiro fez a maça cruelmente amassar o elmo de Darkus, fazendo sua visão se enevoar por segundos à mais, recebeu outro golpe que quase o fez cair do cavalo.
        Por um reflexo conseguiu bloquear a maça com o escudo, e colocou a espada perto da face para Trono de Ossos beber o seu sangue. Ergueu a espada e gritou com a voz embargada.
       - Ilume Esradia!- O fogo cobriu Trono de Ossos, sentiu a espada vibrar de êxtase, a morte estava em sua mão. O fogo iluminou e o calor despertou, o diómede reagiu mal às chamas e se assustou, o luceno se desequilibrou e foi mordido pelo fio da espada que o fez arder junto da montaria.
         Largou o escudo em ruínas no chão e tirou o elmo com a mão livre, deixando cair aquela ruína amassada. Seus cabelos, testa e pálpebras estavam cheias de sangue, a cabeça latejava. Seus olhos percorreram o ambiente que parecia ter aumentado grandemente o tamanho. O céu já estava escuro e recheado de gritos, cadáveres estavam caídos, do seu lado ou dos monstrios. Os cavaleiros avançavam pelo terreno conquistado, ouviu o berrante soando atrás, significando que Gerald já avançava com a infantaria.
        Sem elmo, esporeou o cavalo e o fez seguir os seus companheiros, para o novo foco da batalha. Os alcançou depois de alguns minutos, agora estavam no escalço de homens à pé que corriam de modo inumano, mesmo carregando lanças e armaduras pesadas.

   As flechas voaram contra si, ergueu sua espada de fogo para abater os legionários que ficavam para trás, os homens atrás de si fizeram o mesmo. Talvez ficar sem elmo não tivesse sido uma boa ideia, as setas lhe erravam por sorte e por sua experiência como cavaleiro.
       - Ataque! Ataque!- Ouvia os homens berrando, flechas vinham agora da esquerda, não conseguia entender o porquê. A batalha prosseguia sob o manto da noite, cada vez mais em terreno pedregoso, suas espadas mordiscavam a hoste fugitiva como piranhas, mas algo estava errado.
        - O que está acontecendo, Darkus? Por que estamos sendo empurrados? De onde estão vindo essas flechas?- Gritava Aella no meio da confusão, mas nenhum dos dois entendia.
       Se aventurou à olhar para a esquerda, viu uma nuvem de flechas cobrir o céu e desabar sobre homens, fazendo seus cavalos desorganizarem as hostes. Lá estava o motivo do ataque, estavam nas beiradas das Colinas de Cobre.
     E uma hoste muito maior do que a dita descia as colinas completamente preparada, com as lanças à frente e os cavalos avançando pelos lados. No centro, ele via, aquele maldito elmo, elmo do homem que prendia os cavaleiros de Santigar entre a hoste que perseguiam e sua própria tropa.
      O Duque de Lerna estava nas Colinas de Cobre desde o início, não eram covardes...eram o fim daquela maldita esperança.
       
  
   

  

O Trono de Ossos - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora