Prólogo

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Sejam bem-vindos a Segredo de Sangue! É hora do clichê, do sofrimento, de treta, de mistério e deste capítulo especial, o comecinho dessa história que pode ou não ter a ver com a trama principal do livro.

Os capítulos serão uma vez por semana porque são muito longos e densos, e eu preciso sentar, ponderar e escrever... Aos poucos vocês vão entendendo o motivo. (mas o capítulo 1 sai ainda hoje, como prometido - prólogo e cap 1 saindo no mesmo dia)

(a mídia acima é da Sete Portas, quaaase no centro de Salvador, é uma região de acesso a várias partes da cidade, tanto para bairros classe média quanto para bairros mais populares. No entanto, essa foto é de antes da última requalificação, ou seja, não está mais assim, mas no período em que a história começa, Sete Portas está exatamente assim)

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Não era fácil se esconder no carro grande – como dizia a velha, no "buzú" – mas ele e seu irmão, que era igualzinho a ele – conseguiram subir pela porta de trás bem rápido e o irmão ainda puxou Tininha para dentro.

Eles tinham que puxar Tininha para dentro, ela era irmã deles, e irmão protegia irmão. Ela era menor, não falava e era diferente deles, mas seu irmão dizia que ninguém podia triscar em Tininha.

Seu irmão viu que os "doidos" – que a velha chamava de "craqueiros" – ficavam rodeando Tininha quando a mulher que ficava com ela não estava, e eles já tinham visto os "doidos" mexendo estranho com outras que eram igual a Tininha. Eles não iam deixar que fizessem a mesma coisa; então quando um dos "doidos" foi em cima dela, seu irmão jogou uma pedra e pegou Tininha.

Os dois foram correndo no meio da rua, senão os "doidos" iam matar todo mundo, e nem a velha nem o velho iam cuidar deles. Os dois odiavam ele e seu irmão, e ninguém gostava de Tininha. Mas eles gostavam dela, porque Tininha dava pão pra eles e era boazinha.

A mulher que ficava com Tininha não gostava dela. Eles viram uma vez ela batendo em Tininha, do jeito que a velha e o velho faziam com eles. Um dia seu irmão jogou uma pedra na mulher, que ficou bem chateada.

- Vou matar vocês, desgraças! – ela estava "doidona" também, e sempre que ela ficava "doidona", ela sumia e Tininha ficava andando com o dedo na boca. Aí ele e o irmão iam lá onde ela ficava para brincar e olhar os "doidos".

Seu irmão ficava com a pedra, ele jogava muita pedra nos "doidos". Um dia ele tentou jogar a pedra no velho, mas não pegou e o velho bateu muito nele.

Mas não iam ver mais o velho, nem a velha, nem a mulher que ficava com Tininha. Eles iam para bem longe dali, e o buzú ia deixar os três tão distantes que ninguém ia bater neles de novo.

Conseguiram se esconder debaixo da cadeira, ninguém ia ver, o ônibus estava vazio.

- A gente vai...

- A porta... A gente vai bem longe. – as frases saíam estranhas porque eles não tinham costume de falar com ninguém que falasse diferente do velho e da velha, ou dos "doidos".

A porta do buzú abria e fechava, mostrando pessoas saindo e entrando, um homem gritando alto, dizendo que "pururuca" era "um real" e os dois irmãos não sabiam dizer o que era "pururuca". Tininha não ouvia nada, ela dormia com o dedo da boca, encolhida perto da parede, com a mão segura na do irmão que não jogava pedra nas pessoas.

O buzú seguia por algum caminho que levava a um lugar mais alto, e os meninos reconheceram estar bem longe de onde estavam anteriormente. Ele acordou Tininha empurrando a menina com o ombro, e ela abriu os olhos, assustada,

- Bó, Tininha.

Na hora que todo mundo desceu, um universo de pernas fazendo fila enquanto a porta estava aberta, os três serpentearam entre os vãos de cada perna e conseguiram sair do buzú, encarando um lugar que nunca foram na vida. Não sabiam o que era aquilo ali: tinha um barulho, gente por todo lado, carros pequenos, carros grandes e muita luz. Muitos cheiros, mas não tinha aquele cheiro de onde eles ficavam, era algo que misturava tudo com tudo.

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