Jogo de cartas

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Patrícia Bastos tomava uma água com gás, enquanto aguardava na sala da presidência do conglomerado Villar a chegada de Gustavo.

Estava lá com um único objetivo: descobrir se o empresário sabia mais alguma informação sobre os filhos recém-descobertos, e se apresentar como uma boa amiga, oferecendo seus préstimos e o apoio da ONG para encontrar as crianças.

- Você os encontrando primeiro, manda os pirralhos para a nossa mão. - ordenou Amparo. - A gente despacha os filhos da puta pra bem longe, tô negociando a venda para uns gringos.

Bebeu mais um gole d'água, comprimindo os lábios para manter o batom vermelho na boca, e arrumou os longos cabelos, já impaciente.

Sua espera, contudo, foi compensada pela aparição de Gustavo, visivelmente apressado, com um sorriso alegre no rosto.

Patrícia também sorriu, mas logo notou que aquela expressão de júbilo não era por sua presença.

- Obrigada por me receber Gustavo, sei que você é um homem muito ocupado e não queria atrapalhar a sua rotina-

- Não se preocupe. Pelo que minha secretária havia dito, o tema da nossa conversa seria a respeito da ONG...

- Sim. - respondeu Patrícia, simpática, enquanto passava a mão na longa saia florida, que ia até a canela. Sempre fazia a linha modesta quando se encontrava com o empresário – Nossa ONG não está cuidando apenas de meninas em situação de vulnerabilidade, como também na busca por filhos desaparecidos, tanto crianças quanto adultos. São histórias muito tristes de mulheres que, por diferentes razões, especialmente relacionadas a violência doméstica, acabaram abandonando os filhos e estamos tentando fazê-los se encontrar.

- É uma iniciativa muito boa! Como você quer o apoio da UBaES nisso?

- Pensei em conversar com sua mãe a respeito do apoio do setor de responsabilidade social, mas ela me parece ultimamente um tanto distante da área...

Patrícia queria se apresentar como uma espécie de contraponto a Amparo, a fim de que Gustavo fosse mais receptivo às suas ideias.

O executivo cruzou os braços.

- Bem, se Amparo não está interessada em lidar com este assunto, eu posso ajudá-la sem problema algum. Podemos colocar você em contato com o núcleo de psicologia, o núcleo jurídico e o pessoal de medicina. Acredito que são as três áreas que podem te apoiar de maneira mais direcionada nessa iniciativa.

- Agradeço por sua ajuda, Gustavo!

- Agora estou curioso: por que decidiu incluir esse novo foco de atuação para a ONG?

- Foi um caso o qual tive acesso recentemente. Uma senhora em busca de sua filha. Parece que ela a havia dado para adoção em desespero, e logo depois se arrependeu, querendo a menina de volta, mas descobriu que as crianças foram vendidas. Terrível.

A informação fez Gustavo ter um estranho brilho no olhar. Patrícia notou.

- Você tem alguma informação sobre como foi feita essa venda?

- Como assim, Gustavo?

- Digamos que estou fazendo investigações específicas sobre algo que aconteceu há 10 anos atrás. Até acho bom que você saiba, porque em breve você e boa parte da sociedade terão convivência com eles.

- Eles quem?

- Meus filhos. Descobri que tenho gêmeos, e eles estão morando comigo.

 Descobri que tenho gêmeos, e eles estão morando comigo

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