Herói de Troia

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A notícia recebida por Vivi foi a pior possível.

Estava grávida, e ela tinha certeza de que o filho era de Gustavo, o único homem com quem transou sem camisinha nos últimos tempos.

Sabia que estava perdida – com um filho na barriga, seriam meses sem ganhar dinheiro, ela ficaria "imensa" e teria que cuidar de uma criança. Odiava bebês, davam trabalho e choravam.

Precisava fazer alguma coisa – "sim, a porra do DNA! Com esse bebê, ganho um dinheiro alto! Não vou criar o pivete, mando pra Gustavo e ele que se vire, mas em troca eu quero grana.

No entanto, Vivi não conseguia contato com o ex-namorado há semanas; ele não atendia às suas ligações e sua presença na sede do conglomerado fora proibida por "alguém". "Eu vou acabar com Magnum e aquele filho da puta-"

- Você não pode entrar aqui, Viviana.

A voz que a interpelava com humor vinha da fonte que ela não queria ver, nem pintado. O contratante, o responsável por ferrar com sua vida e seu ganha-pão estava lá, rindo, vencedor, sabendo que o plano dera resultado.

- Sério, filho da puta?

- Não fale da minha santa mãezinha aqui, vadia. Saia logo.

- Eu não vou sair, Edgard. Quero falar com Gustavo.

- Ótimo, então chamarei a polícia e você ficará detida por algum crime que vou inventar logo logo...

- Melhor, chame a polícia mesmo que aí eu conto a toooodo mundo que eu fui enganada e deflorada por Gustavo Villar, dono do Conglomerado Villar, e estou grávida.

Edgard arregalou os olhos verdes, em choque. "Não, isso não pode ser possível... Como essa mulher... Como Gustavo foi tão imbecil?" Aquela informação seria terrível para seus planos. Um herdeiro podia não fazer o irmão voltar para Vivi – pelo contrário, ele ia querer apenas o filho consigo – mas um filho era mais uma pessoa a dividir a fortuna. Um herdeiro que seria o sucessor no conglomerado, e não ele, Edgard, que faria do Colégio Escala e da UBaES a potência que merecia, e não instituições de caridade para ajudar alunos pobres, bolsistas, miseráveis.

Não, Gustavo jamais poderia saber da existência daquela criança.

Foi então que ele se lembrou de que havia uma forma do irmão ser alienado de tal informação. A alternativa que ele conhecia bem, e vinha lhe rendendo uma boa grana desde que sua mãe pediu ajuda para intermediar uma adoção junto a uma família conhecida.

- Vamos conversar em um local discreto, Viviana.

- Ótimo, finalmente estamos nos entendendo.

Marcel Carneiro conhecia pessoas – que conheciam pessoas.

Com a informação passada por Gustavo sobre os últimos momentos de Vivi, decidiu fazer uma pesquisa a respeito da clínica clandestina alvo da denúncia, e o sumiço dos gêmeos oito anos antes.

- Essa história já foi até encerrada, Marcel... – comentou delegado Palhares, ex-namorado de sua irmã mais nova, Marlene. Os antigos cunhados tinham uma boa relação, mas era a primeira vez que o engenheiro pedia ajuda a Palhares em um assunto ligado à área de trabalho dele. – Prenderam os donos da clínica e descobriram que eles vendiam crianças para adotantes no exterior, mas nunca chegaram no cabeça do esquema.

- Mas o que eu quero é simples, Duca: saber o que houve com as crianças que nasceram ou estavam dentro da clínica quando a polícia deu a batida.

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