O julgamento

1.4K 249 115
                                    

Agnes Barbosa foi até o escritório de advocacia localizado no Caminho das Árvores, um dos metros quadrados mais caros de Salvador, acompanhada de um advogado que fazia parte do núcleo jurídico da UBaES.

Gabriela havia recomendado o rapaz e informado que ele era mais barato. E...

- Você não pode ir nesse negócio sozinha, Agnes. E nem com defensor público! Tem que ir com advogado e mostrar que você é a mãe deles, e não é porque ele tem grana e advogado caro que pode chegar dando uma de putão e pegando as crianças! Elas têm mãe!

O advogado, Jorge Viana, também pediu a Agnes que levasse toda a documentação relacionada à adoção de Daniel e Heitor, bem como as análises da assistente social.

- São as provas de que você adotou os meninos de maneira correta e honesta, e que você não roubou ninguém.

- Doutor, o senhor acha que ele pode pegar meus meninos se provar que é o pai biológico deles?

- Não, Agnes. A adoção é irreversível. Nem que ele vá à justiça. Você é a mãe deles. Além disso, ainda tem o vínculo emocional que os meninos possuem com a irmã mais nova, como você me explicou e o que eu li nos documentos. Não se preocupe com nada, tudo bem?

Era um advogado muito jovem, mas passava confiança para Agnes, que respirou fundo antes de se encaminhar até o escritório e se apresentar à secretária.

Os dois subiram as escadas, após serem informados pelo advogado a respeito da sua presença no escritório. Agnes se sentiu tensa – era um escritório bonito, todo com portas de vidro e secretárias com os cabelos impecavelmente arrumados, saltos altos, roupas sem um vinco. Agnes, por sua vez, encontrou uma das roupas que usava para ir trabalhar - uma calça jeans mais larga, estilo "mom jeams", camisa social de botões azul, corte masculino e as mangas dobradas até o cotovelo, e um sapato marrom, mocassim. Não tinha nenhuma maquiagem - se tinha algo que Agnes mal tinha tempo era em passar um batom - e os cabelos cacheados estavam soltos, uma parte deles amarrada para trás em um rabo de cavalo, o resto caindo pelos ombros.

"Meu Deus, eu tô parecendo a mulher do almoxarifado em comparação com essa secretária", concluiu a jovem, antes de caminhar até a sala de reuniões no final do corredor, atrás de outra porta de vidro - porém fumê.

Jorge Viana bateu à porta pedindo licença e logo abriu. Antes dele olhar além da porta, era um homem confiante; quando ele se voltou para a cliente havia um tremor, um temor tanto em sua expressão quanto na voz.

- Doutor... O que é que tá acontecendo dentro?

- Agnes, eu vou lutar o quanto eu puder para que isso dê certo.

- Doutor, o senhor disse que estava tudo certo com os meninos, que... Que eu não ia perder os meus filhos. O que está acontecendo?

- É melhor a gente entrar...

Assim que adentraram a sala, deram "bom dia", encarando os presentes: o advogado do homem que dizia ser pai dos gêmeos, Haroldo Brandão; outro homem, que parecia ser apenas uma testemunha dos eventos – um homem alto, negro, levantou-se arrumando o terno azul-claro, acompanhado por uma camisa listrada preta e branca. O rolex caro no pulso e o perfume cítrico indicavam um homem de posses; e a terceira pessoa envolvida.

O mundo parou quando finalmente os dois se viram - ele, tentando passar tranquilidade para que toda aquela situação fosse resolvida da melhor forma possível; ela em choque, assustada com o reconhecimento de alguém que ela conheceu poucos dias antes.

Gustavo Villar ainda era o mesmo homem elegante, o terno impecavelmente preto, bem como a camisa de botões e a calça social. Os cabelos penteados para o lado, perfeitamente alinhados, além da barba por fazer em seu rosto moreno, mas os olhos verdes... Que agora ela sabia, ela entendia porque eram tão familiares, a denunciaram.

Segredo de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora