Como prometido, o capítulo 1 deste livro...
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A Universidade Baiana de Educação Superior (UBaES), conhecida carinhosamente como "Baê", tinha mais de 50 anos de história, iniciadas quando o empresário Cláudio Villar, dono de uma escola tradicional de Salvador, uma das poucas particulares respeitadas que não eram colégios religiosos, decidiu investir no ensino privado. Inicialmente, o objetivo de Cláudio era apenas formar novos advogados, mas aos poucos, a oferta de cursos se ampliou, para cursos de licenciatura (Letras, Matemática, História, Geografia, Química), chegando ao primeiro curso de bacharelado – Psicologia, que transformou a antiga faculdade em um Centro Universitário.
Após a morte repentina de Cláudio, a UBaES passou a ser comandada por um grupo de diretores, já que a viúva do falecido, Amparo, preferia comandar a escola, e os filhos ainda não tinham idade para assumir o controle de tudo. Entretanto, os executivos ficaram surpresos quando, com apenas 20 anos, o filho mais velho de Cláudio, Gustavo, decidiu se assenhorar de tudo que fazia parte da herança familiar.
Dividindo-se entre a faculdade de Administração e o entendimento da UBaEs, Gustavo aos poucos se tornou um gestor tão inteligente quanto o falecido pai – tanto que a UBaES expandiu suas unidades para cidades no interior baiano: Feira de Santana, Camaçari, Ilhéus, Juazeiro, Vitória da Conquista e Barreiras; além de ter espalhado polos EAD focados em Licenciatura, tanto nas cidades com ensino presencial quanto em localidades menores no estado.
No ensino básico, Gustavo também incluiu unidades do Colégio Escala nas mesmas cidades em que a UBaEs tinha unidades de ensino presencial, oferecendo não apenas valores em conta e bom ensino, como também a oportunidade de estudar na universidade com um preço menor, caso o calouro fosse ex-aluno do Escala desde a pré-escola.
A decisão não alegrou Amparo Villar, sua mãe, que não gostou de a escola ter se expandido no interior, oferecendo mensalidades mais baratas.
- É uma decadência no padrão! O Escala sempre se valeu pelo ensino de excelência e valores que-
- Quem manda no conglomerado Villar? Eu.
- Mas se não fosse por mim, você nem teria esse conglomerado, filho ingrato-
- Amparo, sejamos sinceros: meu pai construiu tudo. Você apenas usufruiu.
Gustavo não tinha paciência para sua mãe, e quem circulava pelos corredores do conglomerado, a área administrativa que coordenava as operações da escola e da universidade, costumava ouvir as discussões acaloradas entre mãe e filho, encerradas sempre com Amparo saindo a passos duros do escritório onde ficava a presidência. Era notório que Gustavo apenas tolerava a presença de sua mãe e irmão no conglomerado – Amparo, após ser "gentilmente" retirada do comando da Escala, ficou com o comando de um "setor de Responsabilidade Social", que incluía ações de caridade, mas era uma posição decorativa.
Já Edgard tinha um cargo de "diretor estratégico", mas sequer participava de reuniões. Chamavam-no jocosamente de "aspone" – só recebia um salário robusto e aparecia na hora que queria; mas Gustavo mal se importava. Só não o queria se envolvendo em nada. Infelizmente, não poderia chutar nenhum dos dois da empresa, já que sua mãe e o irmão eram donos de uma pequena parte; mas além de CEO, ele tinha a maior parte do conglomerado, e era respeitado pelo pool de diretores, além de parceiros, fornecedores, representantes da educação e políticos.
Ou seja, se os familiares não saíssem do conglomerado, ele faria a vida de Amparo e Edgard um inferno.
Quase ninguém sabia o motivo pelo qual Gustavo Villar odiava tanto a família – a tal ponto de ele não morar com a mãe e o irmão em uma mansão simples, porém bem equipada e elegante, localizada no Caminho das Árvores, um dos metros quadrados mais caros de Salvador. O empresário vivia sozinho em um duplex em Patamares, com vista para o mar e relativamente perto de uma das unidades da UBaEs em Salvador; e diziam as más-línguas que nem Amparo tampouco Edgard sabiam a localização de sua residência.
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Segredo de Sangue
RomanceAmargurado e infeliz com uma traição do passado, Gustavo Villar se tornou um homem frio e calculista, focado em dinheiro e manter uma convivência apenas tolerável com sua rica e tradicional família, uma das mais poderosas da Bahia. No entanto, uma...