CAPITULO 1

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Amy bebeu mais um gole do horrível café. As pessoas a sua volta pareciam gostar, mas estava muito forte, e o adoçante era dos piores. O lado bom era que se conseguisse encontrar um quarto naquele fim de mundo o tio nunca a encontraria. E se tomasse café todos os dias naquela lanchonete, talvez perdesse alguns quilos. Deus sabia que ela precisava.
Suspirou. A idéia de sair da mansão do tio, naquele condomínio de segurança máxima teve seus atrativos. Agora, só podia imaginar a humilhação que seria ligar pedindo que ele a buscasse.
E não demoraria muito. As jóias da mãe que tentou vender, quase a fizeram ser presa. Nos filmes era tão fácil vender jóias para fugir. Porém jóias como as de sua mãe eram rastreáveis. Havia um banco de dados sobre jóias assim. Nenhum penhor honesto compraria. Ela ainda teve a sorte do senhor idoso explicar isso a ela, acreditar em sua história e garantir que não chamaria a polícia. Ainda tinha dinheiro, mas não poderia depositar em uma conta, pois rastreariam. Ela estava com os bolsos do casaco cheios de notas de cem dólares, teve a maior dificuldade para pagar o café. Acabou comprando um monte de coisas que não comeria.
Ela estava sem fome. Olhou para o enorme omelete que pedira, para o bolo inteiro que ainda estava na embalagem, os chocolates. Ela devia ter pedido algo saudável, mas não havia nada disso naquele lugar.
O pior era o medo de ser descoberta e levada ao tio. Ela voltaria, mas quando quisesse. Sair de lá tinha sido sua proclamação de independência. Ela tinha vinte e seis anos, pelo amor de Deus! Estava cansada de ser tratada como criança. Voltaria de cabeça erguida e diria ao tio que queria viajar pela Europa. Era a hora da sua pós graduação. Não cederia mais. Se ele fosse contra teria que trancá-la.
A sensação de estar sendo observada aumentou e ela varreu o lugar com os olhos, o mais difarçadamente que conseguiu. Várias pessoas tomavam café e conversavam despreocupadamente. Ela era apenas mais uma mulher tomando seu café, iniciando um dia de trabalho. Havia outras mulheres sentadas sozinhas como ela. Nenhuma delas tinha a mesa cheia de comida e guloseimas, mas ela era gorda, talvez até ajudasse seu disfarce. E havia um homem. Ele estava sentado numa mesa bem a frente dela. Ele estava de óculos escuros e tinha na cabeça um chapéu preto de cawboy. Ele era o estereótipo do motoqueiro bad boy. Umas das fantasias de Amy, quando ela era adolescente, era transar com um cara desses sobre a moto. Será que era possível? Ela se sentiu esquentar um pouco. Ele era grande e forte. Os cabelos eram compridos, de um castanho intenso, quase escuro. A pele que ela podia ver era bronzeada.
Meu Deus! A quanto tempo ela não se encantava por um rapaz bonito? Anos enfiada na galeria de arte particular da família a fizeram perder coisas simples para a maioria das mulheres. Era por causa disso que estava agora salivando por aquele motoqueiro.
Ele também a estava observando. Ela sentia isso. E pensar que pudesse de alguma forma despertar mesmo que só a curiosidade de um cara assim a deixou um pouquinho entusiasmada.
Ele se levantou e ela pode ver o quanto ele era alto. E forte. A jaqueta estava nas costas da cadeira, ele usava uma camiseta, totalmente colada nos braços e peito. Ele pegou a jaqueta, mas não vestiu. Deu dois passos e parou em frente a mesa dela.
"Você tem intenção de comer isso?" Disse apontando para o omelete. Amy tinha aberto a boca quando ele se levantou. Com a estranha pergunta, ela fechou a boca e inspirou ar pelo nariz.
"Eu... Acho que não." Será que ele era parente do cozinheiro da lanchonete? Talvez ficasse bravo se ela não comesse a comida do seu tio? Ou pai? Meu Deus! Ela estava tendo pensamentos muito idiotas! Ela era uma idiota.
"Você não é idiota. Pelo menos não parece ser." Ele disse e sorriu. Ela estava pensando alto como sempre fazia. Ela sentiu o rosto todo esquentar. Isso Amy! Fique vermelha como uma beterraba. Com a cor de cenoura de seu cabelo, parecerá uma salada!
"Eu estava vendo você roendo as unhas pensativa. Então vim tentar conversar com você. Eu sei que te perguntar sobre a comida foi meio bobo. Mas eu realmente detesto desperdício. Se não quiser comer a omelete, eu a comeria com prazer." Ele disse olhando para ela, como se estivesse falando que comeria ela, Amy. Isso foi o que a mente pervertida dela pensou no fim das contas.
"Ninguém nunca se ofereceu para comer algo em minha mesa, isso é estranho. Mas se quiser, por favor, fique a vontade." Disse empurrando o prato na direção dele.
Ele sorriu um sorriso malandro, de lado sem abrir muito a boca. Sexy! Muito sexy! Ela baixou os olhos para as mãos, sua unhas estavam no limite. Tinha roído tudo, agora não tinha o que fazer para destravar o nervosismo.
Ele comeu a enorme omelete em minutos. Fez sinal para o garçom e pediu dois refrigerantes.
" Diet pra mim, por favor." Ela odiava tudo que era diet, ou light, mas estava tentando baixar o peso. E era sempre chique pedir coisas diet. Ou não?
Ficar enfurnada catalogando as obras de arte da família, tinha seu preço. Ela não sabia nada das interações sociais, ou o que era considerado rude ou não.
Talvez até comer a comida do outro fosse uma coisa legal e aceitável hoje em dia.
"Obrigado, eu sei que você deve estar me achando um cara sem noção por comer sua omelete, mas eu acho que você não ia mesmo comer, estou certo?"
"Sim. Eu só queria o café. Que, diga-se de passagem é horrível, mas ele não tinha troco."
"E você comprou tudo isso?" Ele estava sorrindo meio condescendente, como se ela fosse uma idiota. Mas não podia culpá-lo. Ela era estranha.
"Você também parece um pouco perdida, sem saber para onde ir. Está se mudando para cá?"
Ela sorriu. Talvez ele soubesse de um lugar para alugar por alguns dias, ou um hotel. O motel onde ela tinha ficado esses dois dias era horrível.
"Ainda não decidi. Você conhece um hotel bom por essas bandas?"
Ele se recostou na cadeira. Amy teve medo da cadeira quebrar, ele era muito grande. Os olhos dele pareciam estar fixados nela através das lentes dos óculos escuros.
"Poderia tirar os óculos? Eu fico um pouco desconfortável em falar com alguém sem ver seus olhos." Ela disse mesmo isso? Era uma bobagem maior que a outra que saia da boca dela.
"Você fica corada com muita facilidade. Fico imaginando que seus mamilos devem ser da cor em que suas bochechas estão agora." Ele disse e passou a língua pelos lábios. Amy sabia que devia se levantar e sair dali. Como ele ousava falar daquele jeito com ela? Mau educado e vulgar! E lindo, forte, sexy... Ela ficou onde estava.
"Me desculpe, eu pensei alto. Se quiser eu vou embora." Ele olhou para baixo e fez uma carinha de cachorro arrependido. Amy tinha um fraco por coitadinhos.
"Eu não gostei do que você disse." Mentiu. Ela adorou pensar que ele pudesse se interessar por uma garota sem sal como ela." Mas não precisa ir embora, só não falte com o respeito de novo."
"Mas eu pensei nos seus mamilos com todo o respeito." Ele disse com seu sorriso de lado."E infelizmente está na hora de ir. Gostei de te conhecer senhorita..."
Amy arfou. Daria seu nome para ele? Talvez houvesse algum anúncio do tio a procurando e ele poderia ligar e dizer onde a tinha visto. Melhor não.
Olhou a volta pensando num nome falso. Caramba! Era difícil!
"Simpson. Amy Simpson." Ela quase falou Lisa Simpson. Aí a idiotice seria completa.
"Como os Simpsons? Eu adoro aquele desenho!" Ele sorriu, mostrando um pouquinho do branco dos dentes. Ele era lindo! Amy perdeu o foco olhando para ele, o que ele tinha acabado de dizer? Desenho. Oh, sim.
"Eu também gosto deles. Principalmente da Meg com aquela chupeta."
Ele sorriu mais. Era fácil conversar com ele.
"Você viu o episódio em que ela vai pra creche?"
Era um dos preferidos dela. Não era tão difícil interagir com as pessoas afinal.
"Um dos meus preferidos." Disse e riu. Se pudesse conversar mais com ele! Mas ele iria embora e nunca mais se veriam. Ela nem saberia a cor dos olhos dele. Ele ignorou o pedido dela, e continuou com os óculos.
"Bom, senhorita Amy Simpson, eu tenho que ir. Espero que encontre seu hotel. Nessa cidade não há nenhum, a propósito."
Pena! Amy pensou. Ele parecia frequentar a lanchonete daquela cidade. Seria bom vê-lo de novo. Ela tomou coragem e perguntou:
"Você vem sempre aqui?" Ela escondeu as mãos trêmulas debaixo da mesa. Até desviou o olhar, para parecer ser uma pergunta casual. Mas estava em cólicas pela resposta.
Ele pensou um pouco antes de dizer.
"Sim. Quase toda manhã."
Quase? Droga! Ela queria muito conversar mais com ele. Mas "quase" era melhor que "nunca".
"Então talvez a gente se veja por aí, senhor..." Ela só então percebeu que não sabia o nome dele.
"Harley. Meu nome é Harley."

HarleyOnde histórias criam vida. Descubra agora