SUE TANNER
(De volta à Texas, 1963.)— Está mais vermelho do que antes. — Estendo meu pulso inchado, cravado com números de significado duvidoso.
Payton pega um pequeno vaso com água quase congelada e algodão. É tudo que temos há algumas semanas. Lentamente, ele passa o algodão molhado em minha ferida, com carinho. Não parece, mas é pior do que se ele só passasse muito rápido. Agora também dói mais do que antes.
— Não fique mexendo. Pode inchar mais.
Tiro sua mão fria de cima do meu pulso. O algodão começa a pingar água nos lençóis da cama. Ele me olha e de repente fico triste.
— Eu queria sair.
— É o que nós dois mais queremos desde o dia em que chegamos aqui — diz.
Não. Sinto falta de como tudo era antes. Mas também sinto falta até de ir aos bares e festas daqui. É estranho, porque realmente voltei no tempo. Às vezes paro para pensar sobre isso e só não entra na minha cabeça o que eu estou vivendo. O que nós estamos vivendo.
— Não foi o que eu quis dizer — começo à explicar. — Eu queria sair dessa casa agora.
— Você sabe que não pode. Está doente.
Payton já não me olha mais. O vejo empurrar com os pés os lençóis para fora da cama e se deita. Agora ele é quem parece triste.
— Posso te confessar algo? — Sua voz é suave. — Não quero que sinta empatia.
Penso em dizer "não, não pode, eu não quero saber", porque é o que eu faria tempos atrás. Também sinto falta disso. De odiá-lo. Sinto falta de muita coisa.
— Pode.
— Às vezes eu me culpo — assume. — Só não sei direito o motivo principal. São muitas coisas. Me culpo bastante por você estar presa aqui.
Respiro fundo. Abaixo a cabeça e meu cabelo cai no rosto. Tento contar mentalmente até algum número grande, muito grande, mas falho. Aperto meus olhos e lábios. Tento não chorar.
Não quero que sinta empatia.
— Por que você teria culpa? — Levanto a cabeça e vejo seus olhos. E sinto mais vontade de chorar.
— Eu não sei se tenho, mas sinto — diz. — Acho que me culpo bem mais por não saber se algum dia vou conseguir te tirar daqui.
— Não deveria se cobrar por isso. Não é só sobre mim. Estamos juntos aqui — falo, mas logo me arrependo. Payton parece ofendido.
— Foi só um desabafo.
— Desculpa. Você não costuma fazer isso. — Fico mais triste ainda. Me pergunto se sente raiva de mim. Então o pergunto também. — Está bravo?
— Não. Só não quero que sinta pena de mim.
— Não sinto pena de você. Só acho estranho você pensar que a culpa de estarmos aqui é sua.
— Não é. Não é — ele balança a cabeça. — Esquece o que eu disse. Você não entendeu.
Quero intervir, mas deixo o assunto para lá.
— Também posso te confessar algo? — pergunto. Ele não me responde, não com palavras. Mas parece querer que eu continue, então eu continuo. — Me odeio por estarmos assim.
— Assim como?
— Cansados. Mentalmente, se você me entende — respondo. Penso em como explicá-lo. — Desde o incêndio, nós mal nos divertimos. Todo dia é igual. Eu me deito. Você se deita. Comemos, dormimos, conversamos pouco. E então é isso. Queria rir de novo com você, ou brigar por nada à todo minuto. Queria que você voltasse à falar besteira em momentos errados. Não sei. Queria voltar a sentir alguma coisa. Qualquer coisa.
Acho que Payton entende. Mais uma vez, ele se senta na cama e me olha. Aí me abraça. Me odeio por ter sorrido com isso. Mas já faz um tempo desde que eu o abracei de verdade, então aproveito. Aperto seu pescoço contra o meu com ambos braços.
— Eu não sabia disso — ele diz sério, mas agora ele ri. — Foi mal, pirralha. De verdade, não sabia que você gostava quando eu te xingava. Vou ter que fazer mais vezes.
— Não é uma competição, mas você sabe que eu faço pior. — Payton abre a boca, muito pronto para me rebater, com certeza, mas aí tampo seu rosto com minhas mãos e sorrio. — Não responda.
Eu não acho que o amor mude. As pessoas mudam. E nós dois mudamos. Sempre fomos opostos em quase tudo, mas dessa vez é diferente. Acredito que todo mundo, em pelo menos certa fase da vida, se sente vazio e só cansado demais para ter forças para sair e resolver algo. É mais difícil de lidar quando nós dois estamos nesta mesma fase.
E muito mais do que só isso, estamos sozinhos e juntos. Juntos nessa década frustrada. Sozinhos na dor.
Nada continuará igual daqui para frente. É o que prometo para mim mesma no momento em que me dou conta de que não. Não estamos juntos nessa década frustrada. Também estamos sozinhos em 1963. Ninguém irá nos tirar daqui além de nós mesmos. Então me prometo mais uma vez.
As coisas mudarão.
• boa tarde pra vocêsss ❤️
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GOLD RUSH - Payton Moormeier
Fanfiction⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Sue Tanner e Payton Moormeier se conhecem desde crianças, e se há algo que eles sabem muito bem sobre um ao outro, é que eles se odeiam. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Mas, após um infeliz acidente, eles se encontram juntos... Nos anos 60! Agora o casal terá que...