Angel

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Hoje eu finalmente vou me matricular na melhor universidade do meu estado, a Univates. Mas só vou depois do trabalho, agora estou fazendo as rotas de sempre, um pouco mais cedo pois vou ter que ajudar outra equipe fazer vales verdes e depois tenho que ir pra sinaleira.

Passo pela casa do cara idiota que pediu meu número e não evito revirar os olhos. Cara idiota, coloco o papel de qualquer jeito e continuo meu caminho.
Quando termino já vejo o caro do Seu Jandir me esperando para levar até os outros.

Vales verdes é uma merda de fazer, as casas são muito longe uma das outras e o calçamento do chão fica extremamente quente conforme as horas vão passando. Mas não estou reclamando, longe de mim, amo meu trabalho.

Já conheço essas ruas de cor, como se fosse o bairro em que eu moro.
Conheço alguns moradores mas não sei o nome de nem um, aqui todos tem o nariz bem empinado tudo burguês.
Mas mesmo assim não tiro meu sorriso do rosto, já falei que amo sorrir? Pois então eu amo sorrir.

— Credo Angel você parece até uma louca, gosta de vim trabalhar não tira esse sorriso bizarro do rosto. — Reclama Luana, essa menina só enche minha paciência, mas eles insistem em me colocar com essa garota.

— Sabe Luana, eu prefiro mil vezes trabalhar com meu sorriso bizarro no rosto, do que me sentir uma inútil, e eu não pedi pra trabalhar com você, então se você quiser pode se mandar na frente não vou me importar.— Nunca faço isso mas realmente fiquei fora de mim.

Nem prestei atenção por onde ia e do nada esbarro em alguém, Luana faz uma cara espantada e meus panfletos vão todos ao chão, ótimo.

— Desculpe. — Falo me agachando pra pegar os panfletos.

Quando me levanto pra ver em quem me xoquei, levo um xoque literalmente, ÓTIMO só O que me faltava, o idiota da sinaleira.

— Bom dia pra você também, Angel. — Diz com um sorriso divertido, canalha. — Parece até destino sempre nos esbarramos.— Fala e agora a intrometida da Luana atravessou a rua para catar a minha vida.

— Pse eu sempre tenho o desprazer em ver tua fuça feia.— Falo e os construtores atrás dele se seguram para não rir. — Agora se me der licença tenho que trabalhar. — Falo e saio andando, consigo escutar Luana pedindo o número dele e ele nega, toma vadia.

Será que ele é o dono dessa contrução? Parece ser enorme sei lá um condomínio de gente rica, um que eu só vou conseguir morar depois de ser médica, tomara que chega logo não vejo a hora de ter um cantinho só pra mim.

Luana ficou mais emburrada ainda. Mas logo vamos para a sinaleira entregar Univates novamente hoje às pessoas parecem estar mais alegres e gentis, até reconheço algumas que passam diariamente por essa sinaleira.

Inclusive o cara idiota, que ainda nem sei o nome, nem pretendo saber, ele fez questão de encostar na minha mão quando pegou o folheto claro que eu recolhi rapidamente e fui pro próximo caro, estou perdendo a paciência com esse homem chato.

— MANHEEE — grito assim que entro em casa.
Ela sai da cozinha me olhando apavorada,

— O que ouve garota.—Minha mãe me grita, de volta.

— Só queria avisar que eu cheguei. — Digo sorrindo e vou para meu quarto, arrumo uma roupa fresquinha e vou tomar um banho, uso meu shampoo favorito de maracujá e depois fico um tempo no banho.

Quando volto para a sala vejo minha mãe com boletos na mão olho e vejo mais em cima da cama, mas não são poucos, são muitos muitos mesmo.

— Tem tudo isso?— Pergunto apavorada, eu achava que ja tinha colocado as contas em dia.— Você estava escondendo de mim?— Pergunto preocupada.

— Angel, você nunca iria conseguir pagar tudo, e eu não queria te ver preocupada. — Fala de cabeça baixa, pego o papel de sua mão e olho.

É um aviso, de que se até o fim do ano não terminarmos de pagar todas as contas atrasadas seremos expulsas do nosso apartamento.

— Você não devia ter escondido isso de mim, da onde vou arranjar tanto dinheiro em tão pouco tempo, se tivesse me falado antes eu podia trabalhar em dois empregos mãe. — Falo desolada, somando tudo junto da 9 mil, eu não tenho todo esse dinheiro, eu recebo 180 reais por semana só isso.

Pego todos aqueles papéis, e volto pro meu quarto, coloco uma roupa para trabalhar e pego minha mochila e me preparo para uma longa caminhada até o banco, vou ver se consigo fazer um empréstimo no nome da minha mãe, e com o tempo eu vou pagando.

Ela devia ter me falado, agora estamos correndo o risco de ficar sem onde morar.
Mas eu vou conseguir sei que vou, eu sempre consigo dar um jeito. Nem que pra isso eu hipoteca   a casa, vale tudo pois não vou deixar minha mãe na rua.

Estou andando o mais rápido que posso, quase correndo pelas ruas do centro, e finalmente chego na frente do banco.

Senhor vai na minha frente, me ajuda e guarde meu futuro.

[•••]

Estou saindo agora do banco himpotequei  a casa e eles vão quitar nossas dividas, mas terei que dar 300 reais todo mês.
Vou ter que pagar por dois anos e meio. Já estou bem mais aliviada, mês que vem, chega o primeiro boleto tá hipoteca.

Encontro minha mãe sentada no sofá chorando. A abraço e ela pede perdão.

— Não precisa ficar assim mãe, eu já dei um jeito, já está tudo bem.—  Ela me olha desconfiada.

— Angel o que você fez?— Pergunta alarmada, isso aí dona Maria prepara o coração pra bomba.

— Eu hipotequei a casa.— Falo e ela arregala os olhos.

— Não vamos conseguir pagar.— Fala pondo a mão na boca.

— É trezentos reais por mês, posso arranjar outro emprego e trabalhar de manhã no panfleto e a tarde em outro lugar.— Falo a abraçando eu sei que vai ser difícil mas eu não vou desistir eu vou ser forte.

Doce Pecado.Onde histórias criam vida. Descubra agora