Viena: A verdade não importa.

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Eu o olho, e sei que tudo o que vejo não é exatamente a verdade, embora eu já saiba qual seja

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Eu o olho, e sei que tudo o que vejo não é exatamente a verdade, embora eu já saiba qual seja. Tudo é muito confuso, até mesmo o ato de me cumprimentar ou sorrir enquanto disfarça o clima estranho e monótono. Um teatro perfeitamente bem organizado e o ator... merecedor de um Oscar. Os olhos famintos pelo poder, nada fora capaz de frea-lo, nem mesmo as noites longas onde me fez juras de amor e uma amizade enganadora. Honestamente, não foi ele quem mentiu, mas eu que fui boba o suficiente para acreditar nas suas conversas. Enganei a mim mesma ao permanecer na mentira de um conto de fadas.

Ele vem até mim, e quanto mais se aproxima, mais temo o que estar por vim. Fui avisada que esse dia chegaria, que o momento em que precisasse desafia-lo, seria o momento onde lembraria da nossa história fadada a tragédia. Por mais que minha mente esteja sã do mal que ele representa a cada suspiro, meu corpo rejeita cada proposta de ir embora. É como se tivesse me tornado dependente de um simples gesto seu, e repúdio tal pensamento.

As pessoas ao redor se aglomeram, curiosas e ansiosas para o que estar por vim. Um show as aguarda, e não estão dispostas a ignora-lo.

Os lábios se curvam num sorriso automático, estende a mão até a minha e a apanha, depositando um beijo cálido, que em outra situação me despertaria tanto sentimento bom. Lentamente curva-se para me cumprimentar. A farsa do perfeito cavalheiro já se desmoronou há muito tempo, mas ele continua a atuar impecavelmente perante a sociedade. Ergue os olhos, e vejo a escuridão que habita em suas órbitas. Ele sabe que não precisa de mim, mas sim o contrário. O fato de usar isso para me tornar sua refém é.... sujo. Nada define tanto sua existência quanto a palavra "pecaminoso". O homem à minha frente é... o meu comprador.

Mas que direito tenho para julga-lo? Não sou uma mulher indefesa. Eu também escolhi estar aqui. Eu também pensei primeiro em mim. Eu também sou egoísta. Eu poderia apenas assinar o divórcio e dar fim a isso, mas não, porque não vou destruir meu futuro por causa de escolhas do passado.

— Você veio. — deduz o óbvio. — Pensei que não viria.

Automaticamente reviro os olhos.

— Essa foi a única decisão que me foi dada. Não tive outra. — rebato. Mesmo sorrindo um para o outro e trocando toques, ambos sabemos que isso não passa de uma farsa. Talvez essa seja a verdadeira natureza do nosso relacionamento, aliás, do nosso destino: fingir. — Não haja como se não soubesse que eu não estaria aqui. É repugnante.

Por um breve momento percebo seu sorriso tremer, rapidamente disfarça com a chegada de Lars e Naz, que nos guiam às cadeiras reservadas. É constrangedor ter que explicar para um monte de câmeras que tudo o que foi dito é mentira, que tudo fora inventado e difamado. Soco meu orgulho de forma tão bruta que não sobra nada. Nem um pingo de dignidade. Me torno uma marionete sendo controlada por um milhões de espectadores. Pessoas essas quem nem se importam realmente com a verdade.

— Não se preocupe, isso logo terminará. — avisa próximo ao meu ouvido, e me afasto, sentindo-me enjoada. Estou tão decepcionada com ele que já não sou mais capaz de encara-lo nos olhos. Tudo nele me causa ânsia e isso não é passageiro, sei que - aos poucos - vai se tornando real. É sobre o que dizem, o amor nasce nos detalhes, e também morre neles.

Um contrato com Viena. - 2Onde histórias criam vida. Descubra agora