Publicado: Fevereiro de 2015.
Existem dias que sou tomada pela tristeza e medo. Como se não houvesse outras possibilidades. Observo meus pais e imagino se também temem o amanhã. Parece que meu último aniversário foi há tanto tempo; a festa que terminaria por desvendar meus olhos. Meu coração se quieta quando estou no grupo; eles realmente são meu apoio. Mas eu desejo rebelar ao mesmo tempo em que busco aproveitar as horas que estamos juntos, aprender que a vida continua seu curso, mesmo diante de tantas adversidades.
É claro, sou tomada absolutamente pela angústia ao encontrar pessoas cuja doença caminha para o estágio avançado. Não quero demonstrar pavor ao ver mulheres grávidas no consultório, pois imagino a mulher que me gerou. Será que conhecia os riscos? Estará viva? Qual a minha história roubada - foram onze meses - por acaso pensaram ficar comigo?
Depois do baile minha amizade com as meninas voltou a ser como antes, embora eu não seja a mesma. Pietra tem feito tudo para estressar a senhora Martha, decidindo cursar Artes Visuais. Às vezes compreendo seu anseio de escapar da arbitrariedade. Contudo, acho que sou incapaz de fugir. No momento só tento sobreviver, e aproveitar todas as ocasiões felizes.
Isso me torna algo? Parece que escrever é o único recurso que detenho para não enlouquecer totalmente.
O celular apitou, interrompendo Verônica de seu breve relato. Girou o rosto para o lado, fechando o caderno que agora se mostrava melhor que as antigas terapias. Segurou a beirada da escrivaninha e impulsionou a cadeira até a cama.
A leve irritação desapareceu quando reconheceu o número:
"Eu não cobiço o papel dos personagens de Shakespeare, mas adoraria vê-la na varanda por meros segundos".
Leu rapidamente à mensagem, um sorriso singelo fez-se em seu rosto. Sentia o coração bater mais rápido e embora as palavras do namorado fossem consideradas bregas pelas amigas; Verônica notava a paixonite infantil ganhar proporções inimagináveis. Ainda sorrindo, jogou o celular de qualquer maneira e correu até a janela, adorando ver Bryan encostado ao carro; esperando-a.
— Estou descendo e quero uma poesia recitada — ela articulou, voltando para o quarto, mas não se olhou no espelho ou quis retocar o brilho labial. Por alguma razão Verônica não era atormentada pelo rapaz para ser o exemplo ideológico; precisava ser apenas a namorada adolescente.
Abriu a porta com destreza e desvencilhou da arrumadeira, que subia para guardar os lençóis.
— Tomou os medicamentos?
Olhou de relance para Catrina, mandando-lhe um beijo:
— Sim, mãe — ela respondeu, revirando os olhos, estava mais preocupada em esquecer esse detalhe.
— Não desça as escadas correndo! — Catrina implorou, seguindo a direção contrária da filha.
Mas Verônica não poderia aceitar a sugestão. Estava vivendo as emoções do primeiro namoro. Não apagava nenhuma mensagem e esperava ansiosa a ligação noturna. Ignorava os limites e as sugestões para que resguardasse os sentimentos.
Os degraus da mansão foram vencidos rapidamente e sem preocupar com os jardineiros, beijou os lábios de Bryan demoradamente, aproveitando a sensação das mãos do rapaz em suas costas.
— Posso saber o motivo da visita? — Ela perguntou, sorridente, mantendo as mãos entrelaçadas na nuca do rapaz.
— O que acha de viajarmos no final de semana para Los Angeles?
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Limite
General FictionO cassino baseado na sorte ou azar marca o encontro de Verônica e Ulisses, tendo o passado como ponto de partida ambos se concentram em uma aposta imposta pelo desejo, adrenalina e medo. Ulisses é um homem centrado, que se vê cada dia mais envolvid...