Publicado: 25/07/2016
— Tem certeza que pode ficar? — Ulisses estava na sacada, a tensão era nítida em sua postura e voz.
Do outro lado da linha ouviu-se um suspiro e uma confiança que ele adoraria crer:
— É claro, sabe que tem a família inteira como apoio — Emily respondeu — As crianças vão estranhar no começo a fragilidade de Verônica, mas vou pedir ajuda para Cindy na organização de horários, assim ela não se cansará muito.
— Obrigado.
— Por que? — Ela perguntou com desdenho — Verônica é tia dos meus filhos, a cunhada que amo e uma amiga inimaginável. Nós estaremos ao lado dela.
Ulisses apoiou a mão na curvatura do braço. Não havia palavras para descrever seus próprios sentimentos, quando precisava mostrar segurança a Verônica. Ele resistia ao choro e medo. A ragazza atrevida estava em sua vida há maravilhosos oito anos. A convivência marcada por baixos e altos acontecimentos, mas até hoje Ulisses não havia sentindo tanto medo de perdê-la. Não estava preparado para desistir.
— Ligue se acontecer alguma coisa.
— Sabe que eu faria um escândalo por qualquer joelho ralado — ela disse em um tom ameno, para em seguida ouvir-se panelas caídas e latidos — Minhas crianças acordaram, eu peço que Leonel passe em sua casa?
Ulisses olhou para a mulher deitada sobre os lençóis brancos, abraçada a dois travesseiros. Ao menos o sono não era turbulento como os anteriores após o diagnóstico.
— Não estou com cabeça para tratar de negócios, Emily.
— Talvez você precise de alguém para conversar — ela sugeriu.
— Quando você fala desse jeito é como se o pior fosse acontecer em breve — ele riu sem humor — Ligo depois, Emily.
Ulisses bufou, apertando a cabeça com as mãos. Andou devagar até a cama e afundou o colchão ao deitar atrás de Verônica, mantendo os travesseiros em seu lugar habitual, pois sabia que assim ela aliviava as dores no corpo.
— Você me conhece, amore mio, vamos continuar pesquisando novos tratamentos, achar um coquetel melhor — Ulisses dizia em voz baixa, cobrindo-a novamente — Enquanto isso temos que evitar que fique desprotegida para os importunos fluxos de ar. Você me disse que deseja comemorar seu aniversário de trinta anos juntamente ao meu de cinquenta — o italiano riu, jogando a cabeça para trás — Somos um dos casais mais improváveis que se tornaram verdade.
Ele pegou uma mecha do cabelo castanho de Verônica, enrolando no dedo:
— Me considero um sortudo, Verônica.
Deu um beijo na região próxima da orelha, encostando sua face a dela. Verônica mexeu-se um pouco, mas continuou dormindo, havia trocado a roupa depois de ter suado à noite; um dos sintomas do estágio agudo.
— Nós voltaremos para a fazenda. E você usará um dos vestidos coloridos e mesmo que minha mãe tenhas suas sandálias, você irá correr pela vinícola sujando os pés na terra. Sentirá o vento e depois correrá entre os regadores ligados no jardim, e quando menos esperar estarei lhe segurando em meus braços.
***
Ela jogou a colcha para o lado, pisando no chão descalça. Deixou o relógio sobre a cama e seguiu em direção as escadas. Por mais insano que parecesse aos conhecidos, Verônica não sentia falta do trabalho, o que comprovava a instabilidade emocional. Ao pegar a demonstração financeira se assustou ao perceber que não sabia o que deveria fazer, como se todo o conhecimento aprendido tivesse sido trancado em um local proibido em sua mente.
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Limite
Ficción GeneralO cassino baseado na sorte ou azar marca o encontro de Verônica e Ulisses, tendo o passado como ponto de partida ambos se concentram em uma aposta imposta pelo desejo, adrenalina e medo. Ulisses é um homem centrado, que se vê cada dia mais envolvid...