CAPÍTULO DOZE - BEAM ME UP

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 Publicado: 19/07/2015

Silêncio!

Apenas a mão com o copo vazio era visível na penumbra da sala. Com a cortina fechada era difícil saber se estava amanhecendo. A camisa branca não abotoada e encontrava-se descalço. Ulisses olhou para a possível sala do apartamento, já que os únicos móveis que se preocupara em comprar foram a poltrona - onde jazia sentado - e a televisão.

— Como se eu pudesse perder tempo acompanhando jogos — recriminou-se, passando a mão sobre a testa e logo puxando os fios de cabelos para trás.

Ele não conseguia dormir, revivia os acontecimentos a partir do telefonema do hospital. Por que se sentia abalado por Verônica? Sua relação com a família Dream era unicamente profissional e como ela mesma dissera, não precisava de uma babá. E por quais motivos tornava-se responsável por Verônica? Ulisses esfregou a testa, a conversa com Marcus vívida em sua mente.

— Desculpe por ligar tão tarde — Marcus adiantou-se, a voz incontida e por instantes o empresário compartilhou as angústias daquele pai — Só queria agradecer por ter cuidado de Verônica, nossa família enfrenta uma pequena crise — o senhor Dream dissera de maneira nervosa.

— Não fiz mais que minha obrigação, Marcus, até por que eu a trouxe.

Ulisses conseguia a sensação de estar imponente diante o estado de saúde de um filho. E isso o desmoralizava. Era como uma erva daninha impregnada em sua mente e coração, as lembranças surgindo a cada anoitecer, atormentando-o a catorze anos.

— Eu o compreendo. Catrina e eu estamos a caminho, assim como o especialista de Verônica — Marcus fez uma pausa — Peço que mantenha a discrição quanto ao estado de saúde de minha filha.

O copo deslizou o piso, mas Ulisses permaneceu estático na poltrona, percebendo a real situação. A cautela era uma tentativa de manter a privacidade familiar e acima de tudo da jovem. Durante seus trinta e oito anos se enxergara nas mais peculiares situações, no entanto, jamais imaginou-se o guardião de um segredo tão íntimo. E os questionamentos que surgiam sobre como adquirira.

— O que eu faço com você, Verônica? — Ele murmurou em italiano, a cabeça jogada para trás, os olhos castanhos fitando o teto.

****

O guardanapo apoiado no prato limpo ganhava palavras. Ela precisava desabafar, mas a pequena bolsa trazia apenas o dinheiro e seus documentos, o restante encontrava-se no hotel. E não havia ninguém que buscasse seus pertences. Verônica rasgou o pequeno papel, mordendo o lábio. A visita inesperada do casal Dream abalara sua determinação.

— É tão doloroso ser rejeitada! — Ela disse, as lágrimas deslizavam pelo canto do olho.

Uma lei?! Talvez por causa disso nunca consiga minha resposta, querido relato. Então, minha fuga será em vão, assim como a revelação. Questiono-me por que demorei quinze anos para descobrir e, às vezes, imagino se em algum momento da minha vida fui apresentada aos meus pais biológicos. Eles teriam participado de um aniversário ou outra data comemorativa? Quem sabe aproveitado os passeios e me observado na rua a distância? Busco conhecer seus motivos e evitar ao máximo que a verdade seja devastadora.... Não sei se teria estrutura para manter-me em pé. Não foi intencional tornar minha carga viral detectável, eu deveria estar trabalhando em minha investigação pessoal, ao contrário de receber visitas. Marcus e eu, pela primeira vez, não sabíamos o que falar. Observei meu pai nesse quarto de hospital, sua expressão de sofrimento resultou em minha culpabilidade. Cansados de discussões sem um entendimento final, eu não queria magoar meu pai, mas eu tinha que encarar meu segredo. Por essa razão tive que evidenciar a realidade.... Ter dezoito anos não significa nada, e eu não posso esperar mais três anos para encontrá-los.

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