Publicado: 06/04/2015
O ambiente era branco semelhante a tantos outros, as cadeiras azuis no corredor eram ocupadas por um casal bastante jovem. Médicos e enfermeiros uma vez ou outra passavam, devagar ou apressados, sorridentes ou sem expressão, deixando as seis pessoas ali reunidas ainda mais preocupadas.
— Já se passaram horas! — Marcus exasperou em pé, a mão esfregando o queixo. Os olhos mostravam-se alerta e embora o ar condicionado estivesse ligado, manchas de suor eram evidentes em sua camisa.
— O bebê é enorme, pai! Talvez mais complicado que eu.
Marcus fitou a filha de mãos dadas com o namorado. Quanto atrevimento do rapaz em um momento tão íntimo.... Íntimo! Ele não poderia lembrar-se dessa palavra, não após flagrar o meliante saindo do quarto de Verônica pela madrugada.
— A senhorita já me dá dores de cabeça constantes — ele disse, recordando da conversa interrompida quando Catrina anunciou o rompimento da bolsa. Aos quarenta anos e ele se sentira naquele momento um adolescente inexperiente, ao contrário de palavras confortadoras, Marcus mostrara-se assustado, sem saber como proceder. Nem o caminho para o hospital lembrava-se!
— Imagina quando tivermos nosso filho. Prometa que não viveremos nessa aflição, Verônica — o namorado da jovem pediu, beijando-lhe os nós dos dedos.
Com o desenrolar dos meses os jovens descobriram que aquinhoavam a felicidade de implicar Marcus, embora se estendessem aos pais de Bryan, que também começavam a preocupar com namoro explosivo.
Discussões repentinas, ligações do colégio de Verônica questionando suas faltas, assim como o descompromisso de Bryan com a universidade. Eram ocasiões de frustração e angústia para os responsáveis que não conseguiam contatá-los.
— Quietos!
Verônica pensou em retrucar, mas ergueu-se da cadeira quando reconheceu o obstetra da mãe. Havia sido um milagre o primeiro trimestre, tendo apenas uma ameaça de aborto na vigésima semana. Depois vieram os momentos de euforia com o primeiro chute, ultrassom que revelou o quanto estava certa sobre o rapazinho que traria mudanças na vida da família Dream.
Doutor Colin tinha a máscara entre as mãos:
— Parabéns, senhor Dream, é um belo garoto de quase três quilos. Ele já foi encaminhado ao berçário e sua esposa para o quarto. Creio que em uma hora poderão vê-la.
Os avós abraçaram-se e Verônica jogou-se nos braços do pai:
— Eu disse que daria tudo certo — ela murmurou entre sorrisos — Quando tomamos uma decisão não cedemos até alcançar o objetivo, pai. O senhor entende?
Marcus fitou a adolescente de dezessete anos; a manteria longe da verdade. Ela não precisava conhecer aquelas pessoas, acima de tudo não queria que Verônica se machucasse ao encontrar o pai biológico. O discurso preconceituoso e mesquinho não abandonara o casal mesmo após tantos anos.
— Não vamos falar sobre isso agora — ele pediu, apertando ainda mais os braços em volta da filha.
***
Catrina estava encostada em um amontoado de almofadas, os cabelos amarrados e usava um simples pijama. Ao seu lado Bridget dobrava uma colcha que desconsiderava no momento. Era uma mulher com mais de sessenta anos, personalidade forte que combinava com sua aparência. Cabelos pintados, unhas cuidadas e roupas sérias. Os olhos eram da mesma tonalidade de Verônica, azuis encantadores, mas que na face da senhora marcavam uma severidade desconcertante aos estranhos.
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Limite
Ficção GeralO cassino baseado na sorte ou azar marca o encontro de Verônica e Ulisses, tendo o passado como ponto de partida ambos se concentram em uma aposta imposta pelo desejo, adrenalina e medo. Ulisses é um homem centrado, que se vê cada dia mais envolvid...