CAPÍTULO OITO: IT'S TIME

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Publicado: 03/04/2015

Não vou mais chama-lo de diário e sim de relatos. Como se essa peculiaridade tenha o poder de oscilar nossa interação ou talvez seja minha rota de fuga dessa fase complexa a qual me foi incumbida. Nesse momento são três horas da manhã e Bryan está dormindo. Eu deveria estar ao seu lado, mas minha mente relembra as cenas de Otelo e a frase se repete "Reputação é uma imposição tremendamente falsa e inútil, muitas vezes angariada sem mérito e perdida sem um real motivo". Percebe o quanto nos assemelhamos? Para alguns fomos precipitados e outros me julgarão por manter meu segredo. Eu quis aproveitar cada segundo com Bryan e viver a descoberta de amar.

Não quero ser uma imposição na vida das pessoas, e agora tenho o direito de escolher. É algo tão intrépido! Há dezesseis anos fui mandada a um orfanato para que estranhos cuidassem de mim e naquele momento não tive meus direitos respeitados. Direito a vida? O que teria acontecido comigo se não fosse adotada? Quais as chances de ter recebido um tratamento correto?

Hoje eu tenho um sonho: conhecer o meu passado.

Verônica apoiou as mãos na pia após guardar as caixinhas de medicamentos. Queria evitar que o namorado as encontrasse pela manhã e surgissem perguntas que não teriam respostas. Fechou os olhos, não se importava mais de tomar os antirretrovirais, era algo automático.

— Bom dia — Bryan disse, beijando-lhe o ombro, as mãos agiam como cadeados envoltos da adolescente.

— O correto seria dizer boa madrugada — ela murmurou, sorrindo — Sabe o que acho? Não deveríamos voltar para Las Vegas.

— E por qual motivo, Verônica? — Ele questionou, fitando-a pelo espelho.

— A história de Otelo e Desdêmona não teve um final feliz — ela argumentou sem ênfase, quando na verdade seus temores baseavam no preconceito. Será que Bryan a aceitaria como era? Antes de viajarem para Los Angeles, Verônica enfrentara uma nova discussão com Marcus sobre seus pais biológicos.

— Mas eu confio em você, Verônica — afirmou, fazendo-a se virar para encarar seus olhos — Eu estou realmente apaixonado e muito feliz por estarmos aqui, juntos — concluiu, beijando-lhe a mão — Além disso, não tive que disputar você com o trio das meninas malvadas.

Verônica gargalhou, enlaçando-o pelo pescoço:

— Nenhuma reclamação, Bryan? Sabe que quando o avião aterrissar terá que aceitar a realidade imposta e nem sonhando que meus pais o aceitarão desfilando por meu quarto — ela brincou, sentindo as mãos do rapaz acariciar seu dorso.

— Há sempre novas opções, paixão — ele murmurou, dando-lhe um beijo.

— E como conseguirá me raptar do trio de meninas malvadas? — Ela perguntou com ironia.

Bryan respirou fundo, afastando um pouco, a expressão desafiante:

— Vamos prolongar nosso final de semana — ele disse com triunfo, pegando-a no colo — E torcer para que Marcus não apareça, enquanto isso podemos planejar — completou, deitando-a na cama, a mão afastando delicadamente os cabeços da face de Verônica — Irei à universidade e você ficará mais um ano em Las Vegas.

— Essa é a ideia! — Ela retrucou, enlaçando-o pelo pescoço — Está preocupado com as supostas universitárias bonitonas? Sabe que não sou ciumenta.

— Fico impressionado com seus sentimentos por mim.

— Mas eu confio plenamente, Bryan — ela tratou de se justificar — Só descordo sobre o assunto planejamento, isso soa ditatorial e não posso prever o que eu farei na próxima semana. Tem o meu irmão que chegará em alguns meses e minha mãe precisa de mim.

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