Publicado: 22 /07/2016
A porta do escritório parcialmente aberta revelava um senhor de costas, utilizava um colete escuro, cujas mãos estavam escondidas nos bolsos da calça. Mesmo que seu corpo revelasse certa distração, a visão concentrada nas mulheres que passeavam pelo jardim, facilmente os demais sentidos captaram a aproximação de seu filho primogênito.
— Posso ouvir sua respiração daqui, filho.
O empresário, embora estivesse para completar quarenta anos, sentiu-se como um menino. Não um menino qualquer; era o antigo Ulisses que sonhava em fazer fortuna na América.
— Os ouvidos continuam funcionando bem, pai.
Enzo soltou um suspiro longo, mas que nada deixava transparecer o total desagrado com aquela afirmação.
— Existe um conselho sobre como um homem constrói sua família. Primeiramente é preciso conhecer o sabor do silêncio, para em seguida aprender a ouvir ao redor. Só assim o homem será capaz de proteger aqueles que ama — Enzo Bellucci virou em direção ao filho, os ombros cabisbaixos e um sorriso de derrota — Há vinte anos cometi o erro de não respeitar essas palavras.
Ulisses esfregou o queixo, havia aceitado o conselho de Verônica, abandonando todas as roupas que usava diariamente como um escudo. A simplicidade naquele momento era prova de que não buscava armas para persistir no confronto.
— Eu não posso me arrepender de minhas escolhas, pai. É claro que poderíamos ter seguido um caminho com mais vida! Aceitar seu dinheiro naquela época, todavia, era o mesmo que pisotear meu orgulho.
Orgulho! Por que essa emoção tão vil acertou como uma flecha suas vidas?
— Sempre foi nosso dinheiro, Ulisses — os olhos do italiano mostravam-se marejados — Essas mãos calejadas foram para garantir seu futuro e de seus irmãos — Enzo sorriu, erguendo as palmas — Minha pele queimada de sol era a maneira de proteger vocês de um destino duro.
— E eu agradeço, pai.
O patriarca manteve os lábios cerrados por um tempo, uma singela felicidade por saber que o agradecimento lhe era atribuído sem ironia.
— Talvez o meu erro foi desejar que Luna fosse para você da mesma maneira que Gina é para mim. Quis a alegria que senti quando me casei com sua mãe duplicada em seu próprio relacionamento.
— Vocês apenas agiram como adultos. Por um tempo Luna e eu acreditamos que nossa relação era forte o suficiente. Ninguém de fato sabe como tudo aconteceu — Ulisses sentou e apoiou os cotovelos nas coxas, as mãos juntas.
— Não precisa me dizer nada.
— É o único em quem confio, pai.
Enzo assentiu, emocionado.
— Luna quis tornar o namoro público e por um tempo eu me senti bem, mas como um jovem estúpido senti ferido porque os solteiros poderiam beijar as outras garotas bonitas e eu deveria me contentar com uma — Ulisses comprimiu os lábios em desagrado com a própria confissão — Eu traí e me arrependi, foi nessa época que Luna se afastou. Mas o ciúme e a raiva me fizeram agir como um idiota e isso nos levou a delegacia.
— Eu me recordo já que dividimos a mesma cela.
— Desacato por minha culpa.
— Xingar você não me importou na ocasião, mas acrescentar minha esposa foi um erro do delegado.
— Meu amor por Luna não enxergava limites e o futuro não preocupava a nós. Até a gravidez.
— Repetimos a briga tanto em solo italiano como americano — Enzo tentou ser engraçado.
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Limite
General FictionO cassino baseado na sorte ou azar marca o encontro de Verônica e Ulisses, tendo o passado como ponto de partida ambos se concentram em uma aposta imposta pelo desejo, adrenalina e medo. Ulisses é um homem centrado, que se vê cada dia mais envolvid...