Publicado: 05/ 07/ 2016
Encostada no capô do jipe, Verônica arrumou o chapéu vermelho, tendo os olhos protegidos pelos óculos escuros. Ao seu lado, Hugo articulava sobre as mudanças do grupo de apoio.
— Então, Yasmin e você?
O rapaz de olhos cor de mel limitou a sorrir, apoiando as mãos atrás da cabeça:
— Eu estava carente, princesa — respondeu ao recordar das sete semanas que tentou um romance — Mas você sabe que não era Yasmin que eu realmente quis.
Verônica virou a rosto para direita, estendendo a mão para Hugo. Observou os dedos entrelaçados, antes de voltar a encarar o céu límpido de Las Vegas, longe o suficiente da realidade da cidade. Suspirou diante o cenário de deserto, os tons áridos, vermelhos e quentes das rochas preenchendo os vales.
— Nunca daríamos certo, Hugo, sou uma empreendedora — ela arriscou, gargalhando.
— Definitivamente ter a ruiva por perto me enlouqueceria — admitiu, citando Pietra que já se sentia à vontade com o grupo de apoio a crianças soropositivas — Nem Susan conquistou essa façanha.
Assim que ouviu o nome da antiga amiga, Verônica desvencilhou as mãos, deslizou pela lataria do automóvel e firmou as botas no chão. Umedeceu os lábios por instinto, enquanto sentia uma aflição no peito. Não gostava de falar sobre Susan, na verdade, tentou durante meses esquecer a existência da jovem. Mas em seu íntimo os momentos tornavam-se incompletos.
— Desculpe, eu não quis seguir o conselho de Pietra.
Ela sorriu, voltando a encarar o amigo:
— Não é sua culpa — Verônica garantiu, erguendo as mãos e dando de ombros — Quem imaginou que uma das minhas melhores amigas ficaria com um ex-namorado. Sabia que Susan foi a primeira que conheci? — Questionou os olhos marejados, mas Hugo não percebeu, pois, a voz da morena permaneceu inalterada — Meus pais foram convidados para seu aniversário de sete anos, por minha esperteza consegui fugir da constante vigilância e simplesmente entrei no quarto de Susan, apossando-me de sua cama e brinquedos. — Ela sorriu saudosa — Qualquer outra criança teria feito um escândalo, mas não aquela loira estúpida! Susan apenas sentou ao meu lado e passou o resto da festa brincando comigo.
Hugo cruzou os braços, a testa franzida:
— Já pensou em procurá-la?
— Para quê? Ouvir o quanto Bryan a faz feliz e seus planos? Poupe-me, Hugo! Eu não tenho estômago para visitá-la, tampouco sentar disciplinarmente numa mesa com o casal — Verônica explodiu, bagunçando o cabelo — Eles conseguiram me desmoronar por completo e se não fosse por Ulisses... — interrompeu o discursou, engolindo em seco.
Por que tocar no nome de Ulisses? Apertou os olhos, usando o broncodilatador.
— Ainda ama o Bryan?
Ela fitou atônita, a pergunta incomodou inicialmente, principalmente por permitir que as recordações a bombardeasse. No entanto, já não era preenchida pela dor de perda, não havia o sentimento de luto. É óbvio que um ressentimento vagueava por seus ossos e se mesclava a seu orgulho.
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Limite
General FictionO cassino baseado na sorte ou azar marca o encontro de Verônica e Ulisses, tendo o passado como ponto de partida ambos se concentram em uma aposta imposta pelo desejo, adrenalina e medo. Ulisses é um homem centrado, que se vê cada dia mais envolvid...