O empresário havia desligado o celular nem um pouco satisfeito, a resposta de Zaira foi curta e direta. Por que não trocava de secretária? Ele esfregou o queixo, finalmente notando a presença da filha dos Dream.
Após a promessa de deixá-la em qualquer lugar, Verônica silenciou-se e virou o rosto para a janela entreaberta. E devido ao final de noite exaustivo, adormecera antes que chegassem ao aeroporto. Contudo, Ulisses não fizera questão de acordá-la e tampouco pensara nessa possibilidade. Apenas reabasteceu e continuou a viagem de carro.
Ele, de fato, não possuía nenhum interesse nos problemas domésticos do sócio. Além disso, Verônica já não demonstrava aquela arrogância, na verdade Ulisses jamais imaginaria reencontrá-la numa estrada tão tarde e o semblante abatido com o olhar pressuroso.
— É perigoso não prestar atenção enquanto dirige, Slughorn — a jovem disse, assumindo uma postura correta, os dedos indicador e médio esfregavam as maçãs do rosto — E acho que o aeroporto não era tão distante — ela completou com um sorriso perspicaz.
— Estamos em Oakland — ele respondeu sem detalhes.
— Poderia ter me jogado do carro em qualquer hotel barato — ela continuou indagando, o barulho de zíper da mochila aumentando a irritação de Ulisses — Ou talvez tenha ligado para Marcus e feito o meu caixão, ansioso para me jogar ali.
— Seu humor negro é inebriante, Verônica, mas não mudei meus planos por sua causa. Na verdade, os culpados são os incompetentes que mantenho como empregados.
— Já ouviu falar de demissão por justa causa?
Ulisses parou o carro bruscamente, para em seguida livrar Verônica do cinto de segurança. Ela observava atônita, enquanto pendurava a mochila no ombro e aceitava uma pequena mala de mão que lhe entregara.
— Poxa! Alguém disse o quanto explode facilmente? — Ela disse em tom de piada, imitando uma bomba — Obrigada pela carona, Slughorn e, se não for pedir muito, não diga a ninguém que me viu.
Verônica saiu e não encarou o carro novamente, apenas respirou fundo e caminhou em direção ao hotel. Sabia que Catrina arcaria com um grande furacão e ressentia-se por ser o motivo. Ela estava cansada de encenar. Empurrou a porta chamando a atenção na pequena recepção. Não era um hotel ao qual estava acostumada, pois não recebeu nenhuma atenção especial como nos últimos anos.
Os senhores de meia-idade a cumprimentaram, enquanto um rapaz alguns anos mais velhos que Verônica cuidava da bagagem.
— Está a passeio, querida? — A mulher – Esther – perguntou com amabilidade.
— Sim, conhecer alguns parentes — Verônica respondeu, escondendo a tensão. No momento só desejava dormir para que a dor de cabeça passasse.
***
— O que temos para hoje, Zaira? — Ele perguntou, desabotoando o terno. Abriu a pasta, retirando o último balanço que já havia revisado assim que chegara a São Francisco.
— Bom dia, senhor Slughorn — a secretária tentou evitar soar com ironia, a agenda de Ulisses aberta — Primeiramente, o senhor possui quatro ligações: a senhora Bellucci pediu que dissesse o quanto está furiosa com sua falta de amor pela vida, pois sua recepção ao novo sobrinho soou cruel — Zaira interrompeu, encarando Ulisses com sarcasmo — Continuando... Precisa confirmar a entrevista ao Financial Time na sexta-feira, também uma reunião foi marcada para hoje em prol da inauguração do Ankh e por último uma mulher ligou.
— Uma mulher? — Ulisses perguntou com o cenho franzido, encostando-se à cadeira — Deixou um nome ao menos?
— Chama-se Verônica e pediu o número da sua conta bancária — Zaira respondeu com um sorriso — Acredite, senhor Slughorn, nunca pensei que viveria até esse momento. Como não consegui contatá-lo, respondi a Verônica que não tinha autorização, ela riu e o ofendeu com um vocabulário sortido. Depois pediu o endereço do prédio e desligou.
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Limite
General FictionO cassino baseado na sorte ou azar marca o encontro de Verônica e Ulisses, tendo o passado como ponto de partida ambos se concentram em uma aposta imposta pelo desejo, adrenalina e medo. Ulisses é um homem centrado, que se vê cada dia mais envolvid...