CAPÍTULO CATORZE - TOXIC

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  Publicado: 24/07/2015

Guadalupe esfregava a flanela azul na bancada da cozinha, o olhar perspicaz seguia o empresário e a visitante, que nada diziam. As expressões eram idênticas, uma fisionomia sombria e uma careta sempre que se chocavam no ambiente.

Verônica sentou-se, levando a xícara aos lábios, o pé esquerdo balançava sobre o calcanhar direito. Não sabia o que conversar com Ulisses, e o silêncio naquele instante era convidativo, uma vez que após a discussão sua noite se estendera a uma madrugada insone. Ela não sabia o por que dele ter opinado sobre uma boate!

— Estarei na empresa caso precisem de mim — Ulisses disse, vestindo o casaco.

Verônica repartiu o pão sem respondê-lo.

— Vocês discutiram por minha causa? — A empregada perguntou assim que o italiano abandonou o apartamento.

— Não — Verônica garantiu com um sorriso — Nós apenas temos opiniões diferentes, embora eu possa ter uma parcela de culpa. Eu só.... Odeio me sentir para baixo, não é sempre que consigo reerguer com o mesmo fôlego e terminei por dizer coisas pesadas.

— Tenho certeza que vocês encontrarão um meio termo — Guadalupe afirmou amável — É a segunda mulher que Ulisses traz para casa, mas agradeço por não ter um nariz empinado.

— Como assim?

— A loira não gostava muito de mim, e eu também não ia com a cara dela. Desde menina posso sentir as áureas das pessoas e a dela não trazia nada de bom, mas quem sou eu para intrometer na vida do patrão?

— E como é a minha áurea? — Verônica resolveu perguntar com um leve interesse, não desejava invadir a privacidade de Ulisses e a última coisa que precisava no momento era entender o tipo de mulher ao qual o empresário estava acostumado.

— Você é uma moça muito fiel e amorosa, que guarda um ressentimento.

— Uau! Seu talento é inegável — Verônica disse com um sorriso triste — Ontem eu omiti uma coisa muito importante, Guadalupe, não fui aquela agência para uma possível ajuda financeira ou causas nobres sobre a adoção — suspirou, penteando o cabelo com os dedos — Eu queria descobrir sobre as pessoas que me colocaram no mundo.

— Por que? — Guadalupe foi direta — Não está feliz com os pais que lhe escolheram?

Verônica riu, mostrando os dentes.

— Eu amo Catrina e Marcus, sou apaixonada pelo meu irmãozinho e adoro os meus avós que sempre me fizeram sentir especial. Não por causa da minha saúde, mas pelos meus planos extravagantes quando criança e até na adolescência. Talvez estejam um pouco decepcionados agora, embora eu tenha certeza que se precisar eles me receberão de braços abertos.

— Isso é bom!

— Guadalupe, só quero saber o que eu perdi. Quem sabe eu tenha outros irmãos ou demais parentes, imagino como reagiram quando April soube da gravidez. Preciso saber se entre essas pessoas que fizeram parte da vida dela, alguém se interessou por mim, pode nutrir algum sentimento bom enquanto eu desenvolvia no ventre dela.

— E está disposta a enfrentar a decepção, Verônica?

A jovem apertou os lábios, dando de ombros:

— Acho que não tem como voltar atrás.

Traição! Durante esses últimos meses me preparei para a notícia de que Bryan encontrara alguém, mas jamais pensei que essa pessoa fosse uma de minhas melhores amigas. Recordar os braços dele envoltos em seu corpo e o beijo apaixonado, terminou por abrir uma ferida que acreditei estar cicatrizada. Bryan havia me olhado daquela forma, sorrido e me tocado, mas agora era Susan quem preenchia o meu lugar. Como ela pode? Por que se mostrou tão preocupada com nosso rompimento quando o consolava de uma maneira tão vergonhosa? Meu amor por Bryan era verdadeiro e, por isso, me machuca! Eu queria ser forte e orgulhosa para fingir que tudo está bem. Só agora percebi que tudo acabou.

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