A área comercial onde se localizava a floricultura estava sempre movimentada e naquela tarde de verão não foi diferente, eles estavam no ápice da temporada dos turistas e consequentemente os turnos se extendiam por mais algumas horas.
Elizabeth aproveitou os seus poucos minutos de descanso para se debruçar sobre o balcão e fechar os olhos, ela sempre se esforçava para ser atenciosa com todos os clientes, mas algumas pessoas simplesmente abusavam disso e tornavam o dia mais cansativo.
— Boa tarde! – Assim que o sino da porta soou a florista arrumou a sua postura, mas não conseguiu terminar a frase de boas vindas, sua voz sumiu completamente quando notou a presença de Martha. – Mãe?
— Já disse para não me chamar assim. – A voz carregada de ódio da mulher fez com que a mais nova encolhesse os ombros sem saber ao certo o motivo para estar recebendo aquele tratamento. – Eu sempre estive certa sobre você, aquele encontro na lanchonete deixou bem claro as suas intenções com o meu marido.
— Do que você está falando? – Elizabeth franziu as sobrancelhas e não conseguiu esconder a sua expressão de nojo, aquela ideia era tão absurda que fez o estômago da garota revirar.
Martha bateu com as duas mãos contra a mesa fazendo um barulho alto e por puro instinto a florista se levantou assustada, ela conhecia muito bem aquele olhar e suas pernas bambearam só de lembrar das memórias ruins que marcaram sua infância.
— Não tente me enrolar, eu vi a maneira como você olhou para ele! Vocês já se conheciam? – Elizabeth abaixou a cabeça, mas logo em seguida sentiu as mãos da mulher mais velha agarrarem os seus ombros com força o suficiente para machucar. – Eu fiz uma pergunta!
— Me desculpa... – A voz tremida da garota saiu em um sussurro, mas foi o suficiente para irritar ainda mais a mulher mais velha. – Foi ele quem me procurou, naquela noite eu só estava fazendo o meu trabalho!
Tentando se controlar, Martha tirou as mãos daquela garota e deu um longo passo para trás enquanto apertava com força a ponte do nariz, seu estado ainda era de descrença e não conseguia nem mesmo pensar direito.
— Não quero roubar o seu marido, eu tenho medo dele! Eu não queria que aquilo tivesse acontecido nem pelo dinheiro, pedi para que ele parasse várias vezes e ele apenas riu!
— Sua mentirosa! – Martha se virou de uma vez deferindo um tapa contra o rosto da garota que nem mesmo teve reação. – É muito fácil falar que não queria depois de dar para um homem casado, tenho certeza que não era nisso que estava pensando quando abriu as pernas.
Elizabeth não conseguiu aguentar por muito tempo ouvir aquelas palavras duras, as lágrimas começaram a cair sem parar e ela nem mesmo teve a chance de tentar esconder quando ouviu o som do sino da porta de entrada. As mãos da florista suaram frio de pensar ser um cliente a vendo naquele estado, mas a voz rouca e cansada de sua amiga a acalmou.
— Lizzie, eu percebi que você não levou a sua marmita, e sei como você sente fome durante... – Kate parou imediatamente, encarando aquela cena com os olhos arregalados.
Martha se virou de costas para a grisalha, como se não tivesse qualquer envolvimento com o choro da loira. A bochecha vermelha de Elizabeth havia a marca certa de uma mão, e isso foi o suficiente para a mulher deduzir o que estava acontecendo.
— Me desculpe, quem é a senhora mesmo? – Kate perguntou, cutucando o ombro da loira mais velha que ainda evitava a olhar, e o que recebeu como resposta foi apenas uma risada fraca disfarçando a raiva que sentia.
Martha se virou de frente para a grisalha, a encarando de cima por ser mais alta que ela, e a expressão fechada com o rosto vermelho mostrava que algo ali estava errado.
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Liability [REESCRITA]
General FictionEm uma noite agitada de primavera numa cidade distópica, a vida de duas pessoas completamente diferentes se entrelaçam com o destino. Uma empresária em ascenção e uma garota de programa, veem naquele encontro de circunstâncias duvidosas uma oportu...