Durante um mês a rotina de todos se repetiu sem maiores turbulências.
As madrugadas no hospital eram sempre agitadas e preenchidas por conversas, coisas simples do cotidiano que até pouco tempo atrás Kate e Marcel se quer tinham a chance de aproveitar. Aqueles dias trouxeram consigo um sentimento novo que ambos ainda estavam aprendendo a lidar.
Por outro lado os encontros costumeiros na floricultura eram calmos e passageiros, mesmo sem admitir Elizabeth havia se apegado ao tratamento que recebia do engravatado e esperava todos os dias pelos poucos minutos que passavam juntos, mas havia um pequeno detalhe que a incomodava mais do que qualquer coisa: Allan nunca tentou toca-la, nem mesmo uma vez.
Todas as experiências de Elizabeth a faziam acreditar que aquele deveria ser o pilar para um relacionamento estável e a ausência do toque a deixava extremamente insegura se estava havia confundido as intenções de Allan ou se estava fazendo alguma coisa de errado.
Todos os dias a loira o recebia com um sorriso radiante, e em diversas ocasiões havia escolhido seus melhores vestidos para o receber, mas Allan sempre limitava seus elogios as habilidades da loira com as plantas.
— Então esse eu não posso regar muito, tenho que deixar no sol...mas eu realmente preciso cantar para ele dar flores? – Allan perguntou com uma expressão estranha, como se estivesse envergonhado do fato, enquanto segurava o cacto redondo nas mãos, o observando com bastante cautela, enquanto a florista estava praticamente debruçada sobre o balcão devido ao cansaço de ter trabalhado o dia inteiro.
— Uhum. – Elizabeth respondeu sem nem mesmo prestar atenção, seus olhos estavam fechados então ela não pode ver o olhar de desconfiança que estava recebendo do mais velho. – Espera, não! É brincadeira.
Allan fez a sua costumeira feição de irritação, mas a loira estava rindo tanto que nem mesmo conseguiu se desculpar, já estava acostumada com a presença forte que ele tinha e agora eram raras as vezes em que ela se assustava apenas com seu tom de voz.
— Não deveria fazer brincadeiras com isso, as plantas devem ficar tristes... – Allan comentou tão baixo a última frase que Elizabeth não conseguiu escutar, mas o moreno preferiu não repetir. – Então, já se passou o prazo e seu amigo nunca mais voltou...imagino por onde ele deve estar.
Allan voltou para o balcão, vendo a loira embrulhar a planta com todo o carinho que sempre fazia.
— Ele já fez isso antes? – O engravatado a encarou pelo canto do olho, estava preocupado de certa forma, Elizabeth já havia contado boa parte de sua vida ao dono do cassino.
— Sim, várias vezes. – Elizabeth comentou com um olhar baixo, a relação entre os dois sempre foi de idas e vindas, mas ela nunca desconfiou de Joe nem por um momento, mesmo sabendo sobre a sua má fama. – Sei que é pretensioso, mas ainda acho que ele vai voltar, deve estar esperando a poeira abaixar e você se esquecer...
Assim que terminou o seu trabalho Elizabeth estendeu a mão para que o mais velho pegasse a sua nova aquisição e como sempre ele fez o impossível para conseguir fazer isso sem que suas mãos se tocassem.
— Não deveria confiar tanto nas pessoas, as vezes eles usam a nossa consideração como uma arma ou moeda de troca, e ninguém quer ser isso. – Colocando as mãos no bolso do blazer, o moreno começou a procurar sua carteira, mas no meio do caminho desviou o olhar para Elizabeth que estava tirando o avental que usava para não se sujar de terra. – Vai sair mais cedo do seu expediente?
O tom curioso não disfarçava nem um pouco o quão Allan estava interessado no cronograma da loira.
— Vou, hoje a Kate vai receber alta do hospital e finalmente vai voltar para casa, quero estar lá quando ela chegar. – Elizabeth contou a notícia com tanta animação que Allan não pode evitar desviar o olhar para não ficar com cara de bobo, o sorriso daquela garota era definitivamente o seu ponto fraco. – É uma pena termos que encerrar nossa conversa mais cedo...
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Liability [REESCRITA]
Ficción GeneralEm uma noite agitada de primavera numa cidade distópica, a vida de duas pessoas completamente diferentes se entrelaçam com o destino. Uma empresária em ascenção e uma garota de programa, veem naquele encontro de circunstâncias duvidosas uma oportu...