Capítulo IX - Cinzeiro de mármore

226 31 0
                                    

Mais um dia amanheceu naquela cidade repleta de arranha céus.

Ao contrário dos subordinados que ainda estavam a caminho dos seus respectivos trabalhos, Kate já estava em sua sala antes mesmo de amanhecer. Ela sabia exatamente que como mulher não era respeitada pelos investidores mais antigos e conservadores, então precisaria bolar uma estratégia específica para conseguir sua atenção.

O pensamento da mulher foi quebrado assim que seu celular começou a tocar sobre a mesa de mármore, e sem ver quem era, Kate atendeu.

— Por que não me atende tem dias? – Uma voz esganiçada invadiu a mente da morena, que suspirou fundo no mesmo momento. – Mas que inferno, Kate, fiquei sabendo que ameaçou nosso pai, ele precisou dar um jeito em um dos subordinados dele por sua culpa. Você não sabe pensar em sua família, não é? O que custava você fechar a merda da sua boca?

Tossindo de forma falsa, Kate ajeitou seu paletó sobre os ombros enquanto se encostava em sua cadeira de couro.

— Preferia que eu ficasse de bico fechado com uma bala encravada na minha testa? Sabe que nosso pai me ameaçou de morte, não sabe? – A voz monótona de Kate parecia tranquila, mas seu coração batia rápido com a raiva que sentia por nunca ter tido apoio de sua própria irmã.

— Então deixasse ele te matar, não sabe que as pessoas que tem o mesmo sangue que você vem em primeiro lugar? Você tem a obrigação de abaixar a cabeça se nosso pai disser algo, ele é o nosso pai e devemos respeito a ele.

Antes que pensasse em dizer algum tipo de besteira, Kate encerrou a chamada sem se despedir de Heather, como a mesma era uma advogada, qualquer coisa que Kate dissesse seria o suficiente para que a mais velha usasse contra a empresária.

Passando as mãos sobre os cabelos negros, Kate tentou manter o seu foco em seu trabalho, mas os problemas pareciam gritar em sua mente. Algumas batidas na porta foram ouvidas, a morena imaginou que fosse Marcel, como já era cotidiano, mas assim que um buquê de flores vermelhas como sangue entraram em seu campo de visão, percebeu que não se tratava de seu secretário, mas sim do homem que havia recusado a poucos dias.

— Não parece feliz em me ver, Bunny, não era esse o tratamento que eu esperava receber... – Evans tinha um toque de veneno na voz, mas a sua aura era angelical como na noite em que se conheceram. – São para você, nosso último encontro foi um pouco conflituoso, então acredito que eu deveria pedir desculpas da maneira correta...

O albino se aproximou de forma sorrateira enquanto era recebido por um olhar frio da empresária, mas isso não o intimidou em momento algum. Quando ficaram a poucos centímetros de distância Evans estendeu o braço, entregando o buquê de forma cortês.

— Isso aqui é uma empresa, não um parque de diversões, você não deveria nem estar nesse andar. Peço que se retire antes que rumores comecem a aparecer. – Kate se levantou de sua cadeira, apoiando as mãos sobre a sua mesa, a sua postura intimidadora que sempre usava com seus acionistas não pareceu funcionar também. Um silêncio se fez por breves segundos antes da porta de madeira ser aberta por um brutamontes ruivo.

— As pastas com a paleta dessa coleção acabou de chegar, senhorita... – Marcel levantou o olhar, e imediatamente seu sorriso se desfez, mostrando a sua indignação por ver o casal tão perto um do outro.

— Eu estou de saída, mude meus compromissos desta tarde para amanhã cedo, surgiu um imprevisto. – Ajeitando novamente suas roupas, Kate se dirigiu em direção a porta, onde seu secretário ainda encarava a cena boquiaberto.

Não demorou até Evans seguir a morena com um enorme sorriso vitorioso e em uma distância considerável os dois cruzaram os corredores até chegar ao estacionamento que estava completamente vazio.

Liability [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora