Capítulo XXIII - Os fardos do passado

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Aquela fatídica manhã trouxe mudanças marcantes para vida de todos os envolvidos que apesar das constantes tentativas não conseguiam seguir em frente e muito menos se esquecer do ocorrido.

Ainda que fosse doloroso, Elizabeth esperou pacientemente pelo dia em que Allan responderia as suas mensagens interessado em ouvir o outro lado da história, mas isso nunca aconteceu. Ela já deveria estar acostumada a receber esse tipo de tratamento quando seu passado vinha à tona, porém dessa vez foi difícil até falar sobre o assunto.

Todos os dias depois de chegar da floricultura a loira se ajoelhava na terra e cuidava do seu próprio jardim até o sol se pôr, manter a cabeça ocupada o tempo todo parecia ser a única maneira de se esquecer de pelo menos por alguns minutos daquele maldito homem.

Kate por sua vez podia assistir toda essa cena dramática pela janela da cozinha enquanto degustava o seu café. O olhar crítico da grisalha não disfarçava nem um pouco o quanto ela estava odiando a situação em que sua amiga estava, e mesmo com seus próprios problemas para se ocupar, não poderia ignorar a garota.

Com passos decididos, Kate atravessou a cozinha, indo diretamente até a loira que encarava as plantas do canteiro com tristeza.

— Tudo bem, já entendi que está triste e de coração partido mas aquele canalha não pode se safar assim tão fácil. – Kate estendeu seu próprio celular para a florista, que a encarou sem entender absolutamente nada. – Anda, liga pra ele e pede uma explicação, ele não pode fazer isso com você.

Elizabeth segurou o celular sem ter confiança alguma, ela já havia se cansado de ter seu número recusado e sabia que ele provavelmente desligaria quando ouvisse a sua voz, mas Kate estava ali apenas para dar o incentivo que faltava.

Mesmo depois de completar a chamada a loira não parecia ter esperança nenhuma de que daria certo, mas depois do terceiro toque a ligação foi atendida, fazendo com que um silêncio desconfortável surgisse do outro lado da linha.

— Allan? – Elizabeth pronunciou com a voz trêmula, mas a chamada continuava muda, a ponto de só conseguir ouvir uma respiração baixa. – Nós precisamos conversar sobre aquilo, não é justo o que está fazendo...

Mesmo depois de algumas tentativas nada era dito por Allan, mas ele não desligou em momento algum. Por impulso Elizabeth marcou para que eles se encontrassem na tarde daquele dia e ainda sem resposta afirmou que estaria lá, encerrando a ligação logo depois.

Assim que a florista devolveu o celular para as mãos de Kate, a mais velha cruzou os braços na frente de seu busto com uma postura rígida e séria.

— Não se esqueça de estar sempre preparada para o pior. – O comentário da mulher fez a loira levantar o olhar no mesmo momento. Kate nunca foi boa em ser sutil em seus conselhos, então acabava falando o que realmente pensava. – Homens são loucos, fazem Deus e o mundo para te conquistar e depois finge demência. Apenas não quero te ver magoada.

Após as palavras breves da mais velha, a mesma voltou para dentro da casa, andando com sua bengala de apoio que usaria por mais um bom tempo. Elizabeth voltou a olhar para o canteiro, mas não sentiu vontade alguma de continuar ali, se acabasse machucando uma planta por estar distraída iria se culpar ainda mais.

Quando passou pela cozinha viu a empresária concentrada em algum documento na tela do computador e achou melhor não incomodar, na última semana já havia tirado tempo demais de Kate contando sobre os seus problemas amorosos. Sem fazer muito barulho a garota subiu as escadas e foi em direção ao banheiro, ficar alguns minutos embaixo do chuveiro era a única coisa que conseguiria a tranquilizar agora.

As horas se passaram de forma arrastada e como estava ansiosa Elizabeth acabou saindo alguns minutos mais cedo. A pracinha na qual ela havia marcado o encontro estava completamente vazia e abandonada, a velha fonte de água da qual a loira tinha tantas memórias se quer funcionava, mas aquele lugar ainda lhe parecia confortável.

Liability [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora