Liability [REESCRITA]

Capítulo XXXI - Vicent Menezes

O caminho era sempre tranquilo, as ruas canadenses eram completamente calmas e silenciosas aquela hora da noite, deixando aberto somente os bares e alguns restaurantes. Kate já havia se acostumado com a vida noturna daquela forma, mesmo com pouco tempo de experiência. Assim como no dia anterior, ela desceu de sua moto estacionada no beco e puxou as chaves da porta dos fundos, mas antes que pudesse encaixá-las na fechadura ouviu passos atrás de si.

— Achamos ela! – Uma voz masculina falou um pouco mais alto, chamando a atenção da grisalha, que sem chance de protestar, sentiu uma pancada forte em sua nuca, a fazendo desmaiar de imediato. A última coisa que Kate sentiu foi seu celular retirado de seu bolso e alguém lhe carregando de forma desajeitada.

Durante todo o tempo em que esteve desacordada, Kate sentia como se estivesse em um sonho longo e perturbador do qual nunca conseguia sair. Havia barulhos de risadas e conversas cada vez mais altos ecoando na sua cabeça, mas naquele estado ela jamais seria capaz de reconhecer seus donos.

— Mas que inferno! Sabe quanto tempo faz que o chefe pediu para você acordar a garota? – Um homem hostil de aparência rude gritou com uma dúzia de subordinados antes de desferir um tapa forte contra o rosto de Kate que respondeu a dor com um resmungo. – Deveriam aprender a como tratar um refém antes de se envolver em um sequestro!

O silêncio prevaleceu no local, até a grisalha levantar o rosto com os olhos quase fechados, sua cabeça estava latejando demais para conseguir abrí-los.

— Bom dia, Bela adormecida! – Um dos homens falou em tom de riso, mas foi repreendido pelo brutamontes que estava agachado perto de Kate.

— O que...diabos está acontecendo? – A voz cansada e levemente ofegante da mulher soou pelo local, ela ainda estava zonza pela pancada e não conseguia entender o que se passava ao seu redor.

Enquanto os capachos brigavam para decidir qual deles iria falar primeiro, Kate conseguiu focar a sua visão em um homem afastado que estava escondido por uma meia luz. Ao contrário dos subordinados, ele parecia extremamente calmo enquanto acendia um cigarro entre os lábios.

— Nossos assuntos agora são apenas com o Montgomery. – O homem mais alto falou sério, mas assim que se virou para os seus companheiros começou a rir, havia uma sina de orgulho estampada em cada uma de suas caras. – Espero que ele esteja bem irritado por termos roubado sua namorada.

— Namorada? – Kate tinha uma expressão confusa no rosto, nunca esperava ouvir "Montgomery" e "namorada" na mesma sentença direcionada a si, e aquela situação estava cada vez mais estranha. – Com todo o respeito, senhores, mas acho que estão errados.

— Como estamos errados se vimos você falando com o mauricinho do Allan Montgomery, ele até mesmo foi até a sua casa e vocês conversaram na porta de forma íntima! – O homem próximo de Kate falou num tom ríspido, como se tivesse odiado o questionamento.

— Mas eu não tenho nada com o Allan!– Ela protestou, falando mais alto.

— Cala a maldita boca! – O brutamontes segurou a grisalha pelas bochechas, apertando com força o suficiente para machucá-la. – Mais uma palavra e cortamos a sua garganta antes mesmo do seu namorado chegar.

A respiração da mulher se acelerou, com medo do que poderia acontecer, mas ao se dar conta de que nem seu nome sabiam, ela voltou a falar com clareza.

— Eu não sou namorada dele! Meu nome é Kate, e a única ligação que tenho com os Montgomery é o cassino, eu costumo apostar lá! – Ela tentou se explicar, mas o homem apertava cada vez mais seu rosto entre os dedos. – Pode pesquisar sobre mim nas mídias sociais!

O barulho de dois tiros sendo disparados fez com que o silêncio perdurasse pelo galpão escuro e abandonado, o homem que antes estava tocando a grisalha caiu no chão enquanto apertava o próprio ombro com força tentando estacar o sangramento, mas em momento algum ousou xingar em voz alta, todos os presentes pareciam temer o que viria a seguir.