n/a: um dos meus capítulos favoritos aaaaagente, essa fic já está completa no Social Spirit, meu user é o mesmo ♥
T A E H Y U N G
O silêncio do meu quarto era quase tão ensurdecedor quanto os murmúrios acerca do meu futuro. Eu podia ouvir as vozes de papai e mamãe expressando seu lamento, como se eu fosse a pior das falhas que eles já haviam cometido. Eu me sentia assim. Me sentia um fracasso. Um impulsivo desatento que tem a capacidade de destruir tudo aquilo de bom que existe ao redor.
Se houvesse um poder capaz de sugar a vida das coisas, ele pertenceria a mim.
Suspiro pela milésima vez desde que me refugiei no cômodo. Olho ao redor, recordando-me do tempo em que destruí esse lugar com a fúria do meu fogo. As chamas dançavam pelos móveis e cortinas, destruindo tudo, mas incapazes de me destruir. O fogo sempre foi meu amigo, meu protetor – nunca motivo de medo. Os Calore não podiam ter medo nem hesitar. Eu hesitei uma vez, e olhe o que isso me custou.
Tento imaginar como seria minha vida se Rosalie não tivesse morrido; pelo contrário, se tivesse se casado comigo como foi combinado desde que éramos pequenos. Consigo sentir o cheiro pastoril de lavanda à medida que ela anda pelos campos e sorri para mim enquanto corre atrás do nosso filho, o primogênito. A menina ainda é muito novinha, mas solta risinhos de felicidade no colo da mãe enquanto tenta alcançar o irmão com seus bracinhos curtos.
Sinto uma dor do peito pela saudade de algo que nunca será.
As imagens da minha mente fértil e machucada mudam, e posso ver Katherine em um vestido branco esvoaçante. O tecido é simples, mas os desenhos que contém na peça são esplêndidos e parecem carregar grande significado para ela. Sua mão direita está coberta por uma tatuagem de hena que vai até o antebraço, e não posso deixar de notar o anel de prata que adorna seu terceiro dedo.
A luz está ao seu favor – o que não é novidade, pois a luz sempre segue Katherine Petrova por onde ela vai. A pradaria dança junto consigo e a música tradicional indiana enche meu coração de tanta alegria que rio e me levanto para dançar com ela. Quero tocá-la, quero abraçá-la, quero grudar nela para sempre e nunca deixá-la ir.
Então porque sinto que toda vez que a alcanço a deixo ir?
O medo me apossa e dissipa qualquer imagem bonita. Estou novamente no meu quarto, encarando as paredes como um idiota. Não pareço em nada com o cara majestoso retratado no quadro, e já não sei mais se quero parecer ou não. Algo dentro de mim diz que minhas ideologias destruirão qualquer chance de felicidade que tenho.
— Alteza?
Arquejo em surpresa, mas me recomponho antes que a criada perceba. Faço um manejo com a cabeça para que ela entenda que pode entrar. A garota carrega um carrinho com uma bandeja de aço, e subitamente me encontro confuso. Talvez não tão subitamente, porque estive confuso por grande parte da minha vida, mas isso é diferente.
— O que é isso? – pergunto, talvez soando rude demais.
— Uma cortesia, senhor.
E ela sai com uma reverência, sem dizer mais nada.
Me aproximo da bandeja temendo uma bomba nuclear, mas tudo o que encontro quando levanto a tampa são... sobremesas. Canela, mel, mousse de chocolate e torta de morango. Os meus favoritos... Meus olhos percorrem cada cantinho do prato, montado com delicadeza, mas não com maestria. Isso não foi feito por um profissional, constato. Há uma rosa ao lado do lugar em que larguei a tampa, de um escarlate tão intenso como o sangue dos vermelhos. Às vezes tenho vontade de sangrar que nem eles. De sangrar como alguém comum.
De repente, como quem abre a caixa de Pandora, as rosas começam a se multiplicar diante dos meus olhos, enchendo cada móvel do meu quarto. A cômoda, a cabeceira, todo o chão ao meu redor... até mesmo o vaso da plantinha morta que eu insistia em manter havia se transformado em uma bela planta, saudável e irradiante.
Tudo era luz. Eu podia sentir o brilho daquelas flores preenchendo cada poro do meu corpo, curando minha alma.
Algo no prato tremeluziu. Uma frase feita em calda de chocolate quase fez meu coração parar de bater.
"Taehyung-ah, quer se casar comigo?"
Não sei o que está acontecendo. Pelos deuses, o que... o que está acontecendo? Meus olhos procuram desesperadamente por uma resposta – e, mais do que isso, pela resposta que eu quero ouvir. As rosas desaparecem como se nunca tivessem estado ali; com exceção da do vaso, que emana vida por meio da terra fértil. Não percebo que estou prendendo a respiração até soltar um longo e excruciante suspiro.
— Eu sei que não concordamos em tudo. Aliás, nós concordamos em poucas coisas. – Ela diz, surgindo das sombras como só ela é capaz de fazer. Uma risadinha apreensiva sai de seus lábios, um único indício de seu nervosismo. O resto parece impecável. – Mas eu acredito veementemente que duas pessoas só se completam com partes diferentes, querido. Como em um quebra-cabeças.
Não respiro. Apenas aprecio sua beleza.
— E eu também acredito que fomos unidos aqui, na Seleção, por um motivo. Você talvez não acredite nos meus deuses, mas eles me fazem crer que eu devia te encontrar. Que era o meu destino encontrar você, Tae-ah. – Sua voz embarga, e meu coração bate mais descontrolado ainda dentro do peito. Sinto que vou explodir.
— E eu sei que sou desengonçada, impulsiva, teimosa e que não pareço uma dama. Sei também que não tenho tanta força quanto as outras e muito menos um pulso firme para punir. Mas você me disse uma vez que minha gentileza seria capaz de balancear a sua severidade e, assim, conseguiríamos um equilíbrio.
Equilíbrio. Paz. Porto seguro.
— Então é isso que eu quero para nós, Taehyungie. Quero viver ao seu lado pelo resto da minha vida e ser tão feliz quanto os deuses permitirem e quiserem que sejamos: e acredite, eles querem muito. E é o que eu quero. É o que eu sempre quis desde que tivemos o nosso primeiro encontro e eu deitei na minha cama depois de te dar adeus, com o coração aquecido por ter conhecido o seu lado doce. Você é tão bom, meu amor... você não enxerga o seu verdadeiro potencial.
É nesse momento que desabo, e sinto as lágrimas quentes e salgadas rolando pelo meu queixo e transitando até meu pescoço. Tudo é tão melhor com ela...
— Você será o melhor rei que a Nova Ásia já teve, e eu quero, verdadeiramente, poder ser uma rainha que chegue à sua altura. E mais do que isso, quero ser uma esposa, uma amante, uma namorada, uma amiga. Quero ser o seu equilíbrio, Kim.
Me levanto da beirada da cama.
— Você aceita ser o meu destino?
Meu beijo em seus lábios já diz tudo. Mas quero verbalizar e oficializar quantas vezes puder, pois meu coração transborda tanta felicidade que nunca achei ser capaz de sentir. É naquele segundo que confirmo o que sempre senti no fundo do peito, o sentimento que me cutucou teimosamente até desabrochar e se transformar em uma linda flor. Eu a amo.
— Eu aceito, Katherine Petrova.
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Queenstrial - [Kim Taehyung]
FanfictionO príncipe Kim Taehyung era um homem frio, e em sua cabeça, apenas duas coisas importavam no mundo: força e poder. Ele faria de tudo para conseguir sua coroa. Por essa razão, o rapaz aceita a proposta dos seus pais de realizar a Seleção, na qual tr...