I wish my mind would stop

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5 – K A T H E R I N E 

O quarto é esplendoroso. É mais do que qualquer coisa que eu poderia sonhar na vida, e este é apenas um quarto de selecionada. Imagina o da princesa? O da rainha?

Minha cabeça imediatamente repreende-me por pensar nessas coisas. Você nunca será rainha, Kat. Pare de se iludir. Quando o príncipe se apaixonaria por você? Tento analisar o redor para desviar minha atenção dessas palavras duras.

O cômodo é amplo e tem paredes marfim, que combinam com os detalhes dourados que estão espalhados por tudo; desde o rodapé até o teto. O lustre é repleto de cristais e pequenas lampadazinhas, exuberante como todo o resto. A cama é grande, maior do que eu sempre estive acostumada, e a colcha é tão macia que tenho vontade de deitar ali e não levantar mais. Parecem nuvens. Na verdade, tudo parece um sonho, e me pergunto se eu estou 'nas nuvens'. Mas o beliscão que dou no meu próprio braço denuncia que as coisas são reais.

Há duas cabeceiras, uma escrivaninha com papel e pena e uma porta branca que dá para o banheiro, tão bonito quanto o quarto. Tem até uma banheira! Eu sempre quis tomar banho de banheira. Só pode ser um sonho.

Você não tem direito de viver isso, Kat. Pense em tudo o que já fez. A minha consciência continuava falando e falando milhares de motivos do porquê não sou digna de estar aqui. Não é digna de nada, porque sua dignidade se foi há muito tempo.

Gostaria que minha mente parasse.

Queria que tudo parasse.

Quem sabe uma Merandus consegue tirar esses pensamentos horríveis da minha cabeça? Se fosse alguém que eu realmente confiasse, eu pediria – não, imploraria para que tirasse, e limpasse todas as memórias sujas que estão aqui dentro.

Resolvo ignorar minha cabeça – mais uma vez – e coloco a mala em cima da cama, tocando em seu zíper para abri-la. Porém, sou interrompida pela voz de três criadas. Lana, Jinnie e Sora são todas muito educadas e me orientam para ir até o salão do café da manhã, alegando que cuidarão de minhas coisas. Eu concordo, ainda que ache um pouco estranho. Não estou acostumada a fazerem tudo para mim, mesmo sendo uma nobre prateada.

Eu sigo com passos rijos até o salão, parando uma ou duas vezes para perguntar o caminho a algum guarda que esteja no corredor. Finalmente chego, mas não sei se devo entrar. As portas abertas são um grande convite para minha curiosidade, e justo quando dou um passo à frente...

— Senhorita Petrova. – O timbre rouco do príncipe adentra meus ouvidos sem permissão, e me viro com rapidez para onde a voz vem. – A senhorita foi a primeira a chegar.

— Alteza! – Faço uma reverência, apenas para evitar problemas como o de antes, com Helloyse. – Eu... acho que fui rápida demais?

Meu riso nervoso denuncia toda a angústia presente dentro de mim. Taehyung tem um olhar tão intenso que parece ser capaz de me consumir em segundos. As fagulhas de poder são perceptíveis em cada centímetro de seu corpo, mas os olhos... ah, os olhos ardem tanto quanto o fogo que corre por suas veias.

— Isso foi uma pergunta ou uma afirmação? – Ele questiona, mas sem resquício de maldade em sua voz. Eu me surpreendo. Pela primeira impressão que tive do príncipe, ele parecia ser um tirano que destratava a todos e era obcecado pelo poder. Mais um na lista de pecados.

— Não tenho certeza. – Confesso, e minha confusão arranca uma sombra de sorriso do Kim.

— Bem, já que a senhorita foi a primeira a chegar na mesa do café, creio que pode ser a primeira a sair comigo. – Ele fala, e quase engasgo com a saliva. – O que me diz?

— E-eu...

O príncipe está mesmo me chamando para um encontro?

— Está se sentindo indisposta?

— Não! – Gritei, e ele deu um leve tremor pelo susto. – Não, longe disso. Apenas fiquei surpresa. Mas é claro que quero.

— Fico feliz em ouvir isso.

Apesar de sua fala, ele parecia tudo, menos feliz.


A R I A I R A L

O vestido verde-esmeralda pesa muito, mas não me impede de andar com a graça de um cisne até o local indicado. Tudo me soa tão estranho... o simples fato de estar aqui, nessa competição tola para competir pela mão do príncipe – pela coroa, na visão de algumas – faz meu estômago se revirar. Taehyung é meu grande amigo, e pensar nele em algo a mais não é do meu feitio.

Sou a segunda a chegar. Percebo isso pois a figura de Katherine, da Haven, é a primeira que vejo. Ela conversa com Tae, e consigo escutar uma parte da conversa sem que me notem. Agradeço mentalmente por ser uma silfo; essa é uma de suas vantagens.

"...pode ser a primeira a sair comigo" "é claro que quero" e "fico feliz em ouvir isso" são as coisas que consigo captar, e elas são suficientes para que eu entenda o contexto como um todo. Taehyung a chamou para um encontro, mas, conhecendo-o como conheço, sei que foi por livre e espontânea pressão. Se veio dos pais, das Casas ou do povo, não sei.

Noto que ela esmaece a postura quando ele vai embora sem dizer mais nada. Ela deve ter percebido, não deve? Que ele não está nem um pouco feliz. Ela não sabe de todas as coisas que já aconteceram com ele, mas eu sei.

E não posso deixar de ter pena do príncipe de fogo.

As garotas vão chegando aos poucos. Taehyung está sentado em seu lugar na mesa, no lado esquerdo do rei, e sua irmã Eun Jin fica ao seu lado, fiel como sempre. É perceptível a falta que Jeong Gyu faz para os dois, e me pergunto se ele está feliz sendo príncipe-consorte da Nova Austrália.

O rei e a rainha são anunciados e adentram o local; sua presença forte marcando tudo, como sempre. Fazemos reverências – até Helloyse, a menina que não fez o mesmo com Tae, anteriormente – e eu sorrio e aceno para a rainha Sunmi, que me responde na mesma medida. E então o rei começa a falar.

— Senhoritas, estou muito contente de vê-las aqui hoje. – Começa. – Como vocês sabem, uma de vocês será a esposa do meu filho mais velho, Taehyung, e, futuramente, rainha da Nova Ásia. – diz. – A competição oficialmente começa hoje, e espero que todas deem o seu melhor!

— Se eu pudesse dar alguma dica a vocês, seria essa: sejam vocês mesmas. Eu era apenas uma Laris com pouco prestígio e fui escolhida. O amor é, talvez, a maior fonte de força e poder dessa vida.

Taehyung se segura para não levantar e ir embora perante o discurso sobre amor e sentimentos. Ele não suporta.

— Aproveitem o café da manhã.

Sentamo-nos para comer. Pelo canto do olho, vejo o herdeiro cortando as panquecas com agressividade. Concluo, portanto, que vai ser uma longa jornada.

Queenstrial  -  [Kim Taehyung]Onde histórias criam vida. Descubra agora