2 – T A E H Y U N GO ambiente me deixa desconfortável.
Não sei se é por causa da quantidade de famílias que está aqui em uma multidão caótica repleta de cores, aguardando sua filha passar na Prova Real e se provar digna; o escudo elétrico, o qual nos separa de quem quer que esteja lá embaixo e faz minha pele formigar pelas cargas; ou a quantidade de olhos direcionados a mim esperando qualquer indício de falha.
De qualquer forma, tenho a sensação de que meu terno está mais apertado. Minha gravata me sufoca. O único indício de conforto que tenho é olhar para minha família, cujos olhares ternos me acalentam. Minha irmã está ao meu lado, trajando um vestido preto com detalhes avermelhados e prateados que dançam pelo tecido como chamas. Eu sigo a mesma linha, e tenho medalhas distribuídas pelo peito junto com minha coroa de ferro e bronze. Ela também parece queimar. É o que somos, digo a mim mesmo. Ardentes. A Casa Calore.
Papai parece tão apreensivo quanto eu. Mamãe, por outro lado, é o sinônimo de calmaria, e o amarelo nunca combinou tão bem consigo. A rainha é sempre destaque, visto que desde que meu irmão partira para a Nova Austrália para se casar, tornara-se a única membra da família com os poderes de dobra-ventos.
Ela percebe que estou encarando-a e sorri. Eun Jin faz o mesmo e segura a minha mão.
— Vai dar tudo certo. – Sussurra.
Suas palavras me parecem sem sentido, mas resolvo aceitá-las mesmo assim e tento passar a imagem de que está tudo bem. Que não estou nervoso e, pior, não estou traindo cada célula do meu corpo e cada juramento que um dia já fiz. Lá dentro, eu sei a verdade. E me consome tão rapidamente quanto o fogo que corre em minhas veias.
No segundo em que me dou conta, papai já está começando seu discurso e todo o Jardim Espiral ressoa em êxtase. Lord Provos dá o aceno final. Meu pai me olha, como se dissesse que eu devo prestar atenção a partir de agora.
Vai começar.
Tudo fica estranhamente quieto, e assisto com olhos astutos uma garota adentrar a Arena em passos miúdos. Ela é baixa; a julgar por seus traços, nascida na Nova Ásia. É bonita. Fico curioso para saber qual é o seu poder. Presto atenção em suas vestes – são completamente brancas. Em um movimento súbito, ela ergue as mãos e eu sinto como se um enorme peso pairasse sob meus ombros. Todos ao meu redor parecem sentir o mesmo, e não consigo sentir um fiapo de magia. Até mesmo o escudo elétrico se desativa e obedece aos comandos da silenciadora.
— Seo Da-Young, Casa Arven. – Sua família grita em coro, transbordando orgulho. – Silenciadora.
Um gesto é suficiente para que ela entenda que deve parar. Faz uma reverência ao público e então se vira para a Família Real, repetindo o ato. Ela sorri para mim quando o faz, e todos aplaudimos até que ela saia.
A próxima usa um vestido vermelho com detalhes em preto, e parece um pouco mais alta que a anterior – mas, ao observar o seu andar, sei que não está usando salto alto. Uma sombra de sorriso aparece em minha face. Ela me parecia... diferente.
Um guerreiro sai do outro lado do portão e ela, empunhando uma espada, começa a lutar com ele. São movimentos simples sem a intenção de matar ou incapacitar, apenas para mostrar ao mundo o que ela é. Quando o ferro faz um corte em sua barriga, o sangue prateado escorre pelo chão. Um, dois, três. É o tempo que demora para que a ferida se cicatrize e ela volte a permanecer impecável a não ser pela mancha em seu vestido.
— Min Nari, Casa Blonos! Curandeira de sangue!
As meninas continuam entrando, uma por vez. Carros e Cygnet não me impressionam. A garota da casa Eagrie usa sua visão imediata do futuro para pegar bolinhas de tênis que voam em direções aleatórias, mas também não é grande coisa. Espero que a próxima me surpreenda.
Todo o ambiente parece frio no momento em que seus saltos adentram o lugar. O vestido azul pálido parece estar envolto de uma fina camada de nevasca, ou talvez sejam meus olhos tentando me pregar uma peça. Seus olhos são azuis e ela é tão pálida que mal consigo enxergá-la. Ainda assim, ela faz questão de marcar sua presença e me lança um olhar lascivo, ao mesmo tempo misterioso. Eu não respondo.
Suas unhas compridas parecem desenhar no ar quando uma nevasca é criada a partir da água da encanação. O manto branco cobre a Arena em poucos segundos e já posso ver algumas pessoas tremendo de frio. Contudo, como um Calore, não tenho esse problema.
— Melissa Gliacon, Casa Gliacon! – Uma única voz grita no meio do silêncio, e pelo nome, percebo que a garota é herdeira direta da Casa. Provavelmente é seu pai quem está falando. – Calafrio!
Mais aplausos. A próxima é uma garota da Haven, ao julgar pela ordem que as coisas andam. Ela é dona de uma beleza incomum; sua pele é um pouco mais escura que as demais, talvez até mais que a minha que já é naturalmente bronzeada. Ela anda com passos altivos pelo salão e, de repente, já não sou capaz de vê-la. Seu corpo reaparece em um lugar diferente. E então ela muda; manipula a luz ao seu redor para parecer loira de olhos verdes, ruiva de olhos roxos e assim sucessivamente.
— Katherine Petrova, Casa Haven. Sombria.
Noto quando seus olhos se entristecem em um milissegundo. É uma faísca tão sutil que só fui capaz de observar porque estava prestando muita atenção e, logo, procuro descobrir o porquê. Não há muitos membros da Casa Haven pelo salão superior e nenhum deles parece ter laços afetivos com a tal de Katherine, a não ser por uma menina um pouco mais nova cujos traços são parecidos. Concluo que sua família não está ali. Talvez nem esteja nesse mundo.
Eu conheço a garota da Casa Iral, e quase cuspo ao notar isso. O que Aria está fazendo aqui?, pergunto-me. Mas o olhar determinado de seu pai já responde tudo, reluzindo quase tanto quanto o vestido azul-marinho e vermelho da filha. Ela tem equilíbrio perfeito e, mesmo com aquela tonelada de tecido, consegue se mover com rapidez. Digna de uma silfo.
Quando a moça da Casa Laris adentra, todos parecem redobrar a atenção. Olho para minha mãe e ela me encara de volta, parecendo nostálgica. Era ela ali há duas décadas. Ninguém acreditava que uma dobra-ventos seria escolhida no meio de uma Samos, Merandus, Osanos... mas ali estava ela, rainha.
Papai se apaixonou.
Lerolan explode tudo. Macanthos vira pedra. A banshee da Casa Marinos já estava automaticamente eliminada – como eu poderia ter uma esposa que gritava desse jeito?! Nossas discussões me matariam! Só de ouvir o eco, meu ouvido já queria sangrar.
Ao seu modo, todas são pessoas incríveis. Algumas têm potencial de rainha. Não sei se têm potencial de ser minha esposa, mas nunca contei com me apaixonar e viver uma vida feliz, então descarto esse critério. A Prova Real termina depois de horas torturantes de apresentações e sinto uma pressão inimaginável ao saber que todos esperam tanto de mim. Para melhorar, o resto do reino assiste tudo através do Jornal Oficial.
No final do dia, estou exausto. E só está começando.
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Queenstrial - [Kim Taehyung]
FanfictionO príncipe Kim Taehyung era um homem frio, e em sua cabeça, apenas duas coisas importavam no mundo: força e poder. Ele faria de tudo para conseguir sua coroa. Por essa razão, o rapaz aceita a proposta dos seus pais de realizar a Seleção, na qual tr...