There's no place for me in anyone's heart

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4 – T A E H Y U N G

São só garotas, repito para mim mesmo. Garotas que podem arruinar a minha vida e me condenar a ser infeliz para sempre. Se esse for o preço pela minha coroa, será que eu estarei disposto a pagar? Não sei responder.

A primeira parada do dia é o encontro com as selecionadas. Depois disso, café da manhã. E o que vier em seguida é um mistério, porque não planejei nada. Minhas mãos tremem quando abrem a porta para mim e tento parecer sério e centrado ao entrar naquela sala.  Quinze garotas me esperam.

Reconheço alguns rostos da Prova Real. A garota da Arven – Da-Young, se não me engano –, Min Nari da Casa Blonos, Melissa Gliacon, Justine Evans da Samos. Ainda não decorei o nome de todas. Quando entro, todas elas fazem uma reverência; com exceção de uma.

Ela é loira de olhos azuis, mas o tom do cabelo não é albino como a maioria dos Merandus. Parece confusa quando as outras a encaram, um pouco incrédulas. Sei que Lady Arven irá surtar depois que eu sair, porque reverências são praticamente obrigatórias na realeza. Será que já terei de descartá-la? Me parece cruel manda-la embora por tão pouco. De qualquer maneira, ignoro esse erro e adentro o cômodo.

— Senhoritas – Dou um manejo de cabeça, mas não sorrio. É apenas aquela sombra, um indício de algo que poderia ser. Não sei mais sorrir.

— Alteza! O que faz aqui tão cedo? – A instrutora pergunta.

— Pensei em conhecer as senhoritas um pouco antes. Perdoe-me pela interrupção, Lady Arven. – Ando até a fileira de garotas e me sinto apreensivo. Meus olhos passam por entre os rostos e param na garota que não se reverenciou. – Qual o seu nome?

Ela parece surpresa ao ver que me dirigi a ela, e seus ombros se tencionam.

— Helloyse Williams, hã... Alteza.

Guardo esse nome e passo por ela sem dizer mais nada. Reconheço outras Casas; Nolle, Provos, Rhambos, Jacos, Welle. Aria, da Iral, me dá um sorrisinho irônico quando passo por ela – e pensar que ela está ali para ser minha esposa torna tudo mais estranho, porque somos muito amigos. Mas amigos.

Ando um pouco mais, e sei que minha postura fechada está assustando-as, mas é algo que não posso evitar. Por um momento, tenho medo. Medo de nunca ser amado e não conseguir amar de volta. Mas não posso me dar ao luxo de temer e duvidar, pois tenho que escolher uma esposa de qualquer maneira. Tenho que ter herdeiros e reinar e prosperar a Nova Ásia tanto quanto meus pais fizeram, ainda que eu não possa mais ter a linda história de amor que eles tiveram. Não acredito que uma coisa dessas possa acontecer comigo.

Não há amor para mim.

Não há lugar para mim no coração de ninguém.

— Estou ansioso para conhecê-las melhor. – Digo, depois que termino a "ronda". – Por favor, dirijam-se ao café da manhã depois de se acomodarem nos quartos. Espero que tenhamos uma experiência agradável juntos.

Então saio, e finalmente solto o ar dos pulmões.


S E O D A – Y E O N G

Eu sabia que o príncipe estava quebrado no momento em que o vi.

Na Prova Real, sua postura rígida e tensa e seu sorriso forçado demonstravam que algo o incomodava. Mas ao vê-lo de perto, onde não precisava alargar as bochechas para manter as aparências, minha constatação se tornou ainda mais forte.

Kim Taehyung estava partido por dentro.

O que me fazia questionar seriamente os motivos. Por que razão alguém da realeza seria assim? Eles tinham tudo. Riqueza, status, poder... Se bem que o fato de ter que se casar com alguém desconhecido só para manter essa linha de "força" soa extremamente cruel. Será que é isso? Será que o peso nos ombros do moreno tem a ver com o casamento?

Sei que o príncipe atiça minha curiosidade. Decido que irei tentar me tornar amiga dele, descobrir seus males e, quem sabe, conseguir ajudá-lo. Apesar do jeito frio e grosseiro, ele parece ser uma boa pessoa. Ao menos, não posso julgá-lo sem conhecê-lo, ainda mais conseguindo enxergar aquelas pequenas rachaduras em sua máscara perfeita.

Todas as meninas parecem relaxar quando ele sai do cômodo. Lady Arven se vira para Helloyse com ódio nos olhos, o rosto e o pescoço em um prateado intenso de tanto sangue que bombeia ali.

— Senhorita Williams! – O grito dela é alto e tenho vontade de silenciá-la, mesmo sabendo que ela me nocautearia primeiro. Esperanza Arven é herdeira direta da Casa e seus poderes mortais são capazes de inibir qualquer fagulha de magia em um raio de oitenta quilômetros. Ela pode desligar uma cidade se quiser.

— Eu simplesmente NÃO acredito que a senhorita se portou desse jeito na frente do príncipe! Ele é o seu soberano e o mínimo que se espera é uma reverência em demonstração de respeito!

A loira não se encolhe. Pelo contrário, parece ajeitar a postura e peitar a instrutora que quer arrancar sua cabeça.

— Eu não me curvo para ninguém.

E esse é o estopim. Quando percebo, Helloyse está com a mão no peito e se curva para frente. Ela respira curtinho, ofegante, e posso ver as gotas de suor escorrendo por sua pele branca. O peso esmagador do silêncio parte sua alma por dentro. Eu sei. Eu reconheço. Porque isso é exatamente o que eu faço.

A garota implora para que pare. Mas Lady Arven não tem misericórdia, assim como a maioria dos prateados, e ignora suas súplicas sôfregas. Eu deveria saber... se não é o pai ou a mãe do príncipe que são malvados, então haveria de ter alguém. Esse alguém era Lady Arven.

O momento parece perdurar para sempre, e não consigo mais olhar. Sinto uma mão morena encostar na minha, e a garota da Haven me olha com um semblante suplicante, como se quisesse conforto. Eu seguro a mão dela e sorrio minimamente.

— Já vai acabar. – Sussurro. Ela assente.

Então aquela pressão do ambiente, de repente, para. Não percebi que os poderes de Lady Arven estavam me afetando também até que ela resolvesse soltar a Merandus. Todas parecem aliviadas, porém tontas. A instrutora não parece nem um pouco afetada por seu ato, como se aquilo fosse rotineiro. Será que também agiu assim na Seleção da Rainha Sunmi? Por que alguém detestável daquele jeito estava no palácio?

— Para os quartos. JÁ!

A ordem é recebida, e todas nós saímos do cômodo com passinhos apressados. Helloyse sai cambaleante, amparada por mais duas meninas. A garota da Haven não solta minha mão até que estejamos escada a cima, nos corredores dos quartos.

— Obrigada por... isso. – Ela aponta para nossas mãos. Eu assinto, pois não era nada demais. – Eu só não consegui. Essa repressão me pareceu cruel demais.

— Os Arven são piores do que parecem. – Comento. Seu semblante empalidece, e percebo que posso, sem querer, ter ameaçado-a. – Olha, não foi isso que eu quis dizer...

— Não, tudo bem. – Ela sorri de leve, ainda um pouco receosa. – A propósito, sou Katherine.

— Da-Yeong.

— Muito prazer. Espero que possamos ser amigas, Da-Yeong.

— Digo o mesmo. – Sorrio.

Então Katherine adentra o seu quarto e me deixa sozinha no corredor.

Queenstrial  -  [Kim Taehyung]Onde histórias criam vida. Descubra agora