17

1.7K 164 7
                                    

DEVON

É tão estranho quanto poderia ser beijar sua melhor amiga da vida toda. Não o beijo, o beijo foi bom de um jeito surpreendente.

O que é estranho somos nós dois voltando para a mansão segurando sapatos nas mãos, no meu caso a camisa também, e não dizendo nenhuma palavra. E por isso essa sensação de que fiz uma merda na nossa amizade só cresce.

Não sei exatamente porque a beijei, talvez porque ela ficou me dizendo para me jogar e fazer algo sem pensar, ou talvez porque ela tinha acabado de dizer algo lindo sobre eu tornar o mundo dela bom, ou ainda porque essa noite ela estava ainda mais linda principalmente quando estava toda molhada naquele mar gelado.

Nossos dedos se esbarram sem querer quando nós dois tentamos passar pela porta da casa ao mesmo tempo.

- Desculpa. - Ela ri baixo e breve, mas o som alivia um pouco a minha tensão. - Então, banho e chocolate quente depois?

Se um de nós tentaria contornar a situação estranha com certeza seria ela. Maia tem essa capacidade de deixar tudo mais leve.

- Por mim ok. - Eu respondo e olho para trás vendo o caminho de água que deixamos até ir a escada. - Sua mãe vai matar a gente, não vai?

- A gente seca quando descer.

Isso é tão adolescente de se dizer, a gente costumava ter hora para voltar quando vínhamos a ilha com os pais dela durante a adolescência. Lembro de estarmos subindo devagar essas escadas no nosso aniversário de dezesseis anos porque chegamos depois do horário.

É claro que depois levamos uma bronca, depois que nosso aniversário passou. Acho que naquele dia eles nos deixaram sentir que éramos fodas.

- A luz do quarto da minha mãe tá acesa. - Maia aponta o fim do corredor quando terminamos de subir.

Dá para ver a luz acesa pela fresta da porta e por baixo dela, quando olho de volta para Maia ela está franzindo a testa.

- Em que está pensando?

Maia ri e coloca seu cabelo molhado todo para um lado do seu pescoço. - Que ela pode estar transando. É meio constrangedor.

- Nada estranho. Tenho certeza que seus pais sempre fizeram isso, ou os meus. - Eu digo a ela e uso o braço livre para a abraçar de lado, o vestido molhado e gelado dela arrepia um pouco minha pele. - Você sabe o quanto ela merece ser feliz, se divertir, conhecer pessoas.

Ela assente e encosta o rosto em meu braço enquanto seguimos pelo corredor e isso me faz lembrar da praia, ela estava andando assim comigo. Provavelmente a gente ande assim sempre, mas agora a praia está uma lembrança muito nítida.

- Quer falar sobre o beijo? - Nós paramos na porta do quarto que estou ocupando e ela desencosta o rosto de mim.

Acho que ela também estava pensando sobre a praia e automaticamente indo para o beijo.

- Você quer? - Eu pergunto de volta. - Me desculpa eu me deixei levar pelo momento, de repente parecia que estava um clima diferente.

Empurro a porta do meu quarto e jogo os sapatos e a camisa para dentro dele.

- Tudo bem. - Maia sorri e joga as botas no chão e descansa contra a parede. - Foi o momento, nós concordamos nisso. Se me permite dizer você beija muito melhor do que aos treze anos.

É visível o sorriso dela de lado sabendo que acabou de fazer um comentário bobo. Eu dou uma risada e ergo os ombros de leve.

- A prática leva a perfeição.

Por toda a vida (Metrópoles #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora