When Worlds Collide

Começo do fim

— Quem é aquela do lado de Luke?
— Não sei, mas parece que é filha de Hécate.
— Hécate? Quem é Hécate?
— Uma deusa menor, a bruxa. Vi os irmãos dela na floresta outro dia, estavam reunidos em um círculo e falando palavras estranhas, pareciam que estavam amaldiçoando o Acampamento.
— Nossa! Então Luke deveria sair de perto dessa esquisita, ela vai acabar enfeitiçando-o também.
— Pois é! Filhos dos deuses menores já não são tão confiáveis, uma filha de Hécate, então?

~~

O ambiente ao meu redor era claro. Branco como a neve e iluminado pelo que pareciam ser mil sóis.

Eu não via nada. Chegou um momento que a luz se tornou tão intensa que tive de fechar os olhos pois os mesmos ja doíam.

Quando os abri novamente, estava num templo grego.

Ou melhor, o que restou dele.

Os pilares ainda estavam lá, mas todo o resto parecia destruído. O chão de marmore possuía arranhões e buracos, o grande trono no centro estava em pedaços e todo o aspecto branco de antes havia dado lugar a um ar cinzento.

E eu não estava sozinha.

Vê-lo me trazia uma mistura de alegria e inquietação.

Ele é como eu, afinal de contas. Um renegado, filho de uma deusa menor, desprezado pelo Acampamento.

Mas será que as nossas semelhanças são mesmo maiores que as nossas diferenças?

Não tive muito tempo para pensar nessa questão.

— Você está com uma cara péssima. — Disse Ethan Nakamura, me estudando de cima a baixo.

Ele era o ponto destaque naquela imensidão clara. Suas roupas eram todas pretas, no tom mais escuro imaginável. Até mesmo o tapa olho, um dia cinzento pela velhice, parecia novo em folha.

— Não tive um dia muito bom.

— É por isso que estou aqui.

Se eu ganhasse uma moeda a cada reposta pronta que Ethan falasse, eu já estaria milionária. O filho de Nêmesis utiliza um tom na sua fala que ele sempre parece saber o que dizer, mesmo com as perguntas mais aleatórias possíveis.

— Onde é aqui? — Perguntei, já sabendo que ele não hesitaria em me responder.

Ethan olhou ao redor rapidamente.

— Nos seus sonhos. — Respondeu simples novamente com aquele tom robótico.— Vim a mando do nosso senhor.

Algo dentro de mim se arrepiou com a forma a qual Ethan se referiu a Cronos.

— O que ele quer ? — Tentei soar interessada, mas falhei tão miseravelmente que minha voz saiu como um resmungo.

O garoto deu um sorriso de lado, um típico sorriso de quem apronta algo, ou percebe algo.

— O que foi?

— Normalmente, as pessoas são repreendidas quando falam nesse tom, mas ele parece não se importar quando é você que o usa. — Apontou.

Dou de ombros, fazendo de tudo para que meu cérebro esqueça dessa informação. Ter o afeto de Cronos é a última coisa que eu preciso nesse momento.

Ainda assim, não consigo evitar o comentário:

— Talvez Luke ainda esteja lá dentro dele, em algum lugar.

Toda a postura divertida de Ethan sumiu no instante em que toquei no nome do filho de Hermes. Seu olho se tornou distante.

— Ele quer saber por que não foi você quem o alertou sobre a invasão ao Princesa Andrômeda. — Mudou de assunto friamente.