O labirinto

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Quando eu dormi, vi Luke novamente.

Eu estava a bordo do navio Princesa Andrômeda, o navio que Luke utilizava como esconderijo junto com os outros aliados de Cronos.

Eu exatamente na cabine principal, as janelas estavam abertas sobre um mar iluminado pela lua cheia. O vento frio balançava as cortinas de veludo. 

Mas eu não estava sozinha, ao meu lado estava Percy.

Vi o garoto hesitar e olhar para mim com os olhos arregalados, eu não estava menos surpresa. Era óbvio que estávamos sonhando ao mesmo tempo, ambos conscientes do que estava acontecendo. Percy não era só um personagem do meu sonho, era realmente Percy que estava ali na minha frente.

Levei o dedo indicador a meus lábios, indicando para que ele fizesse silêncio. O filho de Poseidon apontou com a cabeça para algo a sua direita e foi então que eu o vi.

Luke. Ajoelhado sobre um tapete brega redondo e em frente ao sarcófago dourado de Cronos. Aquela era a segunda vez que eu via o sarcófago e mesmo assim, estava tão assustada como da última vez.

Após a primeira guerra dos Titãs, Cronos foi destruído por Zeus e partido em milhões de pedaços, sendo jogado no Tártaro para que nunca mais conseguisse retornar.

Mas lá estava ele, dentro daquele sarcófago. Eu havia o visto pela primeira vez na missão do Mar de Monstros, quando Luke havia nos capturado e nos levado até o seu quarto no Princesa Andrômeda. Eu soube instantaneamente do que se tratava o sarcófago: aquele era o corpo de Cronos, os pedaços sendo juntados, alguém morto retornando a vida, pura magia e necromancia tão forte e obscura que me deixava zonza.

Luke fez a boa vontade de nos explicar que todas as vezes que um semideus renunciava aos Olimpianos e decidia seguir Cronos, um pedaço do Titã aparecia no sarcófago. Ele estava perto de retornar, eu conseguia sentir isso como uma pontada, uma dor de cabeça forte na região da testa.

O cabelo loiro de Luke parecia quase branco, um tom platinado. Desconfiei que talvez não fosse só por conta da luz do luar. Ele estava tão diferente, usava uma antiga túnica grega e uma espécie de capa que descia pelos seus ombros, ele parecia tão... impessoal. Quase como se não tivesse personalidade alguma, quase como se fosse divino demais, como um deus menor.

Mas seu rosto estava saudável. E isso era o que mais me assustava, ele parecia tão bem disposto como um atleta olímpico, completamente diferente da última vez que falei com ele. De repente, senti uma vontade imensa de chorar. Ver Luke assim, tão bem, me recordava de tudo de ruim que ele já havia feito não só para mim, mas como o resto do Acampamento.

Ver ele assim me lembrava que ele era o vilão.

Não.

Não posso pensar assim, ele foi manipulado, é Cronos quem está por trás de tudo isso. Ele não tem culpa, os semideuses não tem culpa...

É tão difícil pensar assim, tão difícil que não sei nem se eu consigo convencer eu mesma desse argumento. Ele me machucou, machucou Percy, Thalia, Annabeth, Grover, Clarisse... o Acampamento inteiro.

Mas ele é meu irmão...

— Nossos espiões relatam sucesso, meu senhor — disse Luke de repente, falando com o sarcófago. Novamente, eu quis chorar. Novamente, eu me lembrei que eu não podia mais confiar em Luke. — O Acampamento Meio-Sangue está enviando uma missão, como o senhor previu. A nossa parte do acordo está quase completa.

Deuses, ele sabe. É claro que ele sabe.

Excelente a voz retumbou em minha cabeça, ela era fria e chegava a ser cruel. O tipo de voz de vilão de desenho animado mas com um toque a mais de psicopatia. 

When Worlds CollideOnde histórias criam vida. Descubra agora