Hybrid [SaifahZon + TutorFigther]

Cap. 18 - Demons (Parte 2)

SAIFAH

Eles estavam sentados de frente um para o outro, com as pernas cruzadas. Zon o olhava apreensivo, e Saifah teve que umedecer os lábios e fechar os olhos — as lembranças de um dia nebuloso e sombrio inundando sua mente — enquanto se preparava para contar a história do pior trauma que sofrera em sua vida, quando ainda era uma criança.

Respirou fundo antes de abrir os olhos e olhar para as grandes mãos abertas em seu colo.

— Quando eu era criança, eu morava com meus pais em uma casa tão grande quanto a sua. Tinha dois andares e vários quartos, meu pai vivia longe, a viagem, e minha mãe era quem ficava comigo. — suspirou, olhando para as mãos. — Nós não precisávamos sair muito. Eu estudei em casa até então, minha mãe me ensinou a ler, a escrever e a fazer contas. Ela adorava matemática, acho que eu aprendi a fazer contas assim que eu aprendi a falar. — sorriu para suas mãos e lançou um olhar triste para o felino. — Nós tínhamos essa oficina, sabe? Minha mãe construía carros antigos e adorava moderniza-los, e meu pai adorava comprar as peças que ela precisava. Ela era um gênio da Engenharia Mecânica. Acho que não vi um dia em que ela não estivesse com as mãos sujas de graxa. — riu, quando sua voz se tornou embargada, e limpou uma lágrima que escorreu de seu olho, voltando a olhar para suas mãos calosas. — Eu não sabia como meu pai conseguia essas peças, como conseguia o dinheiro para as peças, eu só sabia que quando minha mãe pedia uma peça, ou um equipamento que ela dizia necessário, ele aparecia com ele nas mãos ou em um caminhão, dependendo do tamanho, na semana seguinte.

— Você não matou a sua mãe, né? — Zon interrompeu, fazendo o humano rir e olhar para o felino, que o olhava confuso.

— Não, não. — umedeceu os lábios novamente — Um dia, nós estávamos em um jantar em família. Meu pai chegara em casa para jantar pela primeira vez em algumas semanas, e minha mãe estava empolgada enquanto servia seu prato, colocando coisas e mais coisas sobre o pote de arroz. Um alarme soou muito alto pela casa, e os seguranças vestidos de preto, com um único fone de ouvido e armados, entraram na sala de jantar, cercando-nos. Lembro que minha mãe me pegou no colo, e tampou meus ouvidos. Ela dizia que ia ficar tudo bem. Que tudo ia ficar bem...

Fechou os olhos enquanto lágrimas escorreram de seus olhos.

Seus lábios continuaram contando, as imagens que viu naquele dia voltaram em sua mente, como sempre acontecia quando contava essa história.

Sua mãe o segurava no colo — ele não tinha mais do que seis anos na época, e não era muito pesado — tampando um de seus ouvidos com uma mão, enquanto apertava seu rosto contra seu próprio peito, tampando o outro ouvido, mas não fora suficiente para abafar os sons de tiros que surgiram na sala. Eles estavam cercados por seguranças, e seu próprio pai carregava uma arma consigo, descarregando-a em qualquer um que lhes oferecesse ameaças.

Os três correram juntos para fora da sala de jantar, entraram na cozinha e saíram para a garagem. O Citroën DS 95 que sua mãe reformava estava parado no centro da garagem, a pintura bege estava fosca e suja de graxa — ele não estava pronto ainda. O Porsche 911 prateado estava atrás, perto da porta de metal. Ele brilhava, e tinha vários botões internos, que Saifah adorava mexer.

Seu pai abriu o carro e sua mãe entrou no banco da frente, mas o homem não tivera a mesma sorte.

Assim que bateu a porta, trancando mulher e filho dentro do carro, sem a chave para dar a ignição, o menino ouviu o som de um tiro e o grito agudo machucou seu ouvido. Sentiu o corpo de sua mãe pressiona-lo no banco de couro.

— Fique abaixado querido, não importa o que aconteça, fique abaixado e dentro do carro. — disse a mulher, baixinho, contra o seu ouvido.

Saifah assentiu, com os olhos arregalados, sem falar uma única palavra até então.