Ceres - Você sabe quem é o Inimigo [LIVRO 1 - COMPLETO]

Capítulo Dois

O fogo ardente começou azul, suas cores intensas se transformaram num laranja avermelhado, depois as faíscas subiram ao ar e diante dos olhos intensos de Mia, elas sumiram na imensa escuridão. Apesar de estar muito abafado e quente, Mia não se afastou das chamas, gostava da quentura. Todos já tinham adormecido depois de muita cerveja, menos aquele Berbatov, ele saíra há algum tempo e não retornara, Mia pensou que talvez sua presença tivesse o irritado. Um sentimento reciproco afinal, ela apenas se sentira à vontade quando ele desaparecera.

Ele podia ter salvo sua vida uma ou duas vezes, mas ainda assim era um homem visivelmente arrogante e mal-educado.

Com o tempo em que estivera ali pareceu que eles, não Berbatov, se preocuparam em melhorar o ambiente: armaram uma fogueira, e Mia recolheu alguns frutos e até mesmo lhe deram um coberto, no qual ela se enrolara, e nesse meio tempo tiveram tempo para se apresentar:

O maior – o brutamonte – chamava-se Ari Rhys Gleccor, seu sotaque agressivo fez Mia se perguntar se ele não vinha das Terras Depois do Mar. As Terras Depois do Mar ficavam além dos quatro grandes reinos, além mesmo de Reynes, eram lugares devastados e nunca recuperados depois de grandes e antigas guerras. Continentes que foram esquecidos. Não se encontrava pessoas destes lados por ali, eles eram conhecidos como selvagens. Ari possuía uma pele dourada, um homem espadaúdo e enorme, apesar de ter todo aquele tamanho e toda aquela força, pareceu-lhe uma boa pessoa, tinha sido o mais receptivo e simpático dentre eles.

O menor dos três chamava-se Louis Legrand, um sulista em terras nortistas, algo também bem incomum, carrancudo e reservado não se deu o trabalho de trocar muitas palavras com ela. Legrand parecia ser o mais velho entre os três, possuía demasiadas marcas de idade pelo rosto assim como marcas de brigas, um sombrio tapa olho escondia um de seus olhos azuis, deixando somente as extremidades de recente cicatriz que vinha da sobrancelha.

E por último, Lucky Berbatov, vindo das terras ao noroeste. Um homem metido e arrogante, dono de um penetrante olhar que a confrontava. Ele era no que menos confiava, e claro depois de tê-lo ameaçado com sua própria espada, ele também não deveria confiar nela. Todas as informações que recebera vieram de Ari, e um pouco de Louis. Lucky não demorou muito para sumir sem dirigir a Mia nenhuma palavra sequer.

Apesar de lhe ajudarem e aparentar serem boas pessoas, não pôde deixar de se perguntar o que faziam aqui? Sozinhos e armados? Sabia que era normal viajantes andarem armados diante dos perigos que podiam encontrar numa viagem, mas com uma espada, uma faca ou um arco e flecha, não com um armamento inteiro como percebeu que eles tinham. Quando perguntou à Ari o porquê, tivera quase a certeza de ter visto Louis fazer um gesto para não dizer nada. Contudo, eles foram receptivos, deram comida, fizeram uma fogueira, contaram umas piadas e se embebedaram até dormirem enquanto ela estava aqui. Com o céu estrelado acima e a falta de sono, tudo que restava era pensar.

Será que Cirelli estava bem? Será que aquele homem que encontrei na floresta realmente estava indo para Skyblower? E se estivesse o assunto seria ela? Claro que seria ela, repreendeu-se a si própria pela ingenuidade.

Não Mia, não pense nele, não pense em Skyblower, isso apenas fará você fraquejar.

Apesar de tudo não podia acreditar que estava realmente ali, não acreditava que passara por tudo aquilo, era como em seus sonhos: na floresta, livre, para sempre? Ainda não sabia, na verdade, tinha medo da resposta. Em seus sonhos mais loucos imaginava-se em uma floresta, correndo, sentindo os raios solares em seu rosto e vento em seu corpo, a liberdade a guiava. Tinha medo de acordar e isso não passar de um misero sonho, tudo seria igual como antes, entretanto, tudo fora muito real para ter sido um misero sonho. Apesar do fato de não conseguir lembrar-se direito de onde viera a coragem para fazer aquela fuga...