Ceres - Você sabe quem é o Inimigo [LIVRO 1 - COMPLETO]

Capítulo Um - Parte II

Sentiu um tranco no seu braço que a fez retomar a consciência e no outro segundo ela foi arrancada para fora da água. À luz do dia voltou a bater em seus olhos violentamente, Mia forçou-se para abri-los. Algo a arrastava pela água. Os movimentos eram tão bruscos que a fizeram vomitar. De repente seus pés encontraram apoio e ela percebeu que estava no raso.

– Você é louca, garota? Queria se matar?! – Uma voz grossa soou atrás dela. Mia viu embaçadamente um homem que a segurava pelos braços. Sua primeira reação foi debater-se e o estranho não fez questão de segurá-la então ela caiu no chão vomitando ainda mais água e ao mesmo tempo tentando recuperar o ar que faltava no seu peito.

Sentindo o olhar do desconhecido sobre ela, esfregou seu rosto e tentou colocar-se sobre suas pernas que estavam ainda bambas devido pós-choque de adrenalina, levantou-se sozinha de costas para seu salvador, sabia que ele a encarava à espera de uma explicação, colocou uma mecha molhada atrás da orelha e virou-se de frente para ele. O homem que acabara de salvá-la, não por sua opção, mas a salvou tinha seu rosto iluminado pelos raios solares, havia pingos de água que escorriam de seu cabelo encharcado como sua calça de couro escuro. Com a luz do dia seu cabelo tinha uma tonalidade castanho clara, no seu pescoço ele carregava um colar de um dente pontudo, havia uma gota na sua ponta ameaçando despencar na imensidão. Mia reparou no seu abdômen um arranhão que talvez ela causara, mas o que mais chamou sua atenção foi uma mancha na sua mão direita, não poderia considerar um desenho por não haver forma, começava em seu antebraço e seguia até o começo das costas de sua mão, algo disforme, não repugnante, mas longe de ser bonito, apenas uma mancha roxa levemente amarronzada.

Levantou seus olhos para o rosto dele, os olhos que a encaravam carrancudamente tinham um tom verde-amarelo intenso, um tipo como ela nunca vira. A barba rala contornava seu maxilar e os lábios que possuíam um pequeno enchimento, cores rosadas talvez pelo frio de estar encharcado. Ele quebrou o silêncio com grosseria:

– Você por acaso é louca?!

Mia perdeu sua fala.

– Você não tem uma língua para falar?

Parou de encará-lo, envergonhada por sua beleza, e acenou com a cabeça, num sinal de agradecimento, mas pensou que ele entenderia que era muda. Viu a capa de Cirelli boiando aos arredores e a apanhou, logo foi se afastando em direção a margem, a cada passo provocava um jato de água deixando-a ainda menos confortável. Perto da margem olhou para ele novamente que ainda a encarava com uma expressão de poucos amigos, fez outro gesto de agradecimento e correu em direção as árvores.

Mia corria sem certeza para onde seguia, isso fizera com que suas vestes secassem mesmo com o suave frio do início de outono, também teve a sorte de chegar num vilarejo, porém não o vilarejo que Cirelli lhe indicara e ela soube isso rapidamente quando viu a quantidade de ferrarias do lugar. Seu senso de localização poderia não ser dos melhores, entretanto naquele vilarejo havia muitos pescadores. Pescadores certamente que vinham do Leste. Aquele vilarejo estava na estrada que ligava os dois reinos. E ela sabia que ele pertencia a Skyblower. Logo o sol iria se por, ela precisaria de uma carona se quisesse encontrar o vilarejo que Cirelli disse.

"Dama, você não aceitaria peixe fresco? " Um comerciante ofereceu de uma barraca, com um sorriso ela recusou. Outro pediu para que olhasse seus colares e mesmo que fossem atrativos, Mia tinha um objetivo então não se dispersaria com o mundo após as muralhas do castelo, então qual seria seu novo plano? Encontraria a amiga de Cirelli, perguntou-se essa desconhecida poderia ajudá-la chegar a Cidade-Livre? Uma vez fora do Norte, seria livre, pensou. Contaria com os seus bons estudos, arranjaria um trabalho como escriba, assim que conseguisse se estabilizar procuraria a conhecida Escola de Feiticeiros que ficava na Cidade Livre e estudaria magia pelos próximos anos, talvez nunca desenvolvesse nenhum talento magico, contudo isso não a deixava menos curiosa com tudo que se relacionava a magia.