Refletir que tudo fora real causava fortes vertigens na princesa. Ela sentia a boca seca e mantinha-se estarrecida, sentada na cama em choque com a realidade. Apenas foi capaz de provocar um movimento, erguer cabeça, quando a porta do quarto se abriu, e por ela Lucky Berbatov surgiu. Antes que ele entrasse, pareceu analisá-la de longe. Naquele exato momento todos os cacos que ela havia recolhido de coragem, foram atirados outra vez ao chão. A princesa ainda tremia se lembrando do verdadeiro ódio que sentira pelo ladrão horas atrás.
Ela descolou os lábios e pronunciou as palavras soltas e vazias antes que sua voz falhasse: – Eu precisava falar com você.
Ele adentrou o quarto com um olhar turvo. Assim que seu rosto foi iluminado com a luz matinal que entrava pela janela, ela viu o rosto ainda avermelhado pelo tapa. Os cabelos dele estavam molhados e sua pele ainda úmida, acabava de sair de seu banho. Tinha a expressão cansada e estressada. Sem dizer nada, ele atravessou o quarto e dobrou a toalha que estava em seu ombro.
– Eu realmente estou farto de drama por hoje, a melhor coisa que pode fazer no momento é dormir esta manhã e esperarmos até que ele acorde, Savannah está com ele, creio que até à noite ele desperte.
– Me perdoe pelo tapa – ela murmurou atraindo o olhar dele, Mia levantou-se da cama. – Me perdoe pelos gritos, pelas acusações e pelas agressões. E por outras coisas que também devo ter feito – sua voz era rouca devido aos gritos da madrugada.
– Eu não esperei por uma reação diferente – respondeu ele, numa voz áspera, jogando sua toalha de qualquer jeito sobre a cadeira.
– Por que não me contou, Lucky? – Perguntou incrédula, sem sair do tom baixo. – Eu poderia ter cooperado, ter ajudado ou até mesmo ter complicado menos as coisas...
– E se desse errado? – Ele elevou a voz e os olhares se cruzaram pela primeira vez.
Olhar nos seus olhos fez Mia perder a fala, ela mordeu a parte inferior da boca, sem argumentos.
– Você se culparia pela morte dele. E caso isso acontecesse, você acha que seria capaz de aguentar outra decepção, Amélia? – Ele semicerrou os olhos já sabendo a resposta.
– Sim, eu estive disposto a correr o risco de você me odiar pelo resto de sua vida, porque depois de tudo isso, sabia que um dia você seria capaz de seguir em frente sozinha – ele fez uma pausa deixando o silêncio cortante no ar. – Você superaria. Mas, se você tivesse que espetar aquela maldita adaga nele e as coisas não saíssem como o planejado, você...
A princesa, emocionada, cortou a distância entre os dois e surpreendeu o ladrão com um abraço. Ela enlaçou os braços em suas costas e aconchegou a cabeça no peito dele, escutando as batidas do coração quente de Berbatov. No primeiro momento, ele hesitou com o gesto, mas ela não se importou de sentir o calor de seu corpo e o apertou ainda mais.
– Obrigada... – ela sussurrou, ouvindo sua respiração. – Eu não seria capaz sem você, eu sou grata por tudo.
Ela sentiu levemente um braço contornar a sua cintura, mas ele não foi muito mais longe. Mia abriu os olhos e encontrou o olhar desconfiado dele sobre ela, a princesa aproximou seu rosto e encostou a boca na bochecha do ladrão, sentindo a barba malfeita roçar em seus lábios, ali deixou um beijo.
Berbatov lentamente virou seu pescoço, como se sentisse o cheiro dela e aproximou seus lábios de sua boca. A princesa se afastou sem movimentos bruscos.
Pela primeira vez Mia olhava em seus olhos sentindo algo bom e então ela abriu um sorriso, descolando o contato dos corpos.
– Você será bem recompensado com seu ouro, Berbatov. Mas acho que isso nunca chegará perto do que eu realmente lhe deverei. Obrigada Lucky – em seguida ela se direcionou para a porta, deixando o ladrão para trás.
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Ceres - Você sabe quem é o Inimigo [LIVRO 1 - COMPLETO]
Mystery / ThrillerPRIMEIRO LIVRO DA SÉRIE AS ADAGAS DE CERES: Ceres - Você sabe quem é o Inimigo? Concebida após uma grande guerra, Amélia Norwood nunca gostou da sua vida na realeza, apesar de estar destinada a tornar-se a primeira Rainha sem um Rei consorte. E...