Capítulo Vinte e Três

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O  alvorecer veio com dolência após uma noite em claro da princesa, e com ele uma dura conformação. Fora opção de Thor partir. Ela observava através da janela o gramado ser iluminado pela luz matinal, com a mão no peito. Talvez aquilo estivesse claro para todos menos para uma patética garota apaixonada. O desejo de vingança foi maior... E poderia ao menos culpá-lo por esse sentimento após ser obrigado a assassinar sua mãe com as próprias mãos?

Como ela pudera realmente acreditar que o amor seria mais poderoso que o desejo de vingança? Ceres foi morta por vingança. Ela tivera a vida em risco mais de uma vez por vingança. Seus pais a criaram para ter a vingança contra Gardênia...

Mia desconhecia quando se tornara aquela garota que acreditava em finais felizes, talvez acontecera depois de amar Thor.

Levara um longo tempo para absorver tudo aquilo e de certo modo, acreditou que devia desculpas ao ladrão boêmio. Ela quis culpá-lo por tudo que acontecera, do inicio ao fim, mas a dura realidade era que aquilo somente envolvia Mia e Thor, e um terrível conflito de gerações passadas.

A princesa observava pela janela como as nuvens escuras se foram dando espaço para a manhã da primavera. Ela não conseguia parar de pensar no príncipe nem mesmo um segundo, perguntava-se sobre sua memoria, se estaria sofrendo ou pior, se ele ainda estava vivo. Uma agonia constante que sufocava Mia, entretanto de nada poderia fazer por ele, por isso deveria fazer o que ainda estava ao seu alcance.

Assim, ela se direcionou para o quarto de Berbatov, se encontrava sozinha no longo corredor e procurava sua coragem para bater na porta. Sua mão se levantou e por mais que ela quisesse, não conseguia. Detestava todo aquele orgulho guardado. Se afastou derrotada e envergonhada, quando a porta dele se abriu. Mia se virou e avistou Berbatov lhe encarando. Ele se retirou do quarto e falou em bom som:

– Se você veio para continuar mais alguma acusação, deixe para mais tarde, comer é mais importante para evitar as dores de cabeça, também conhecidas por Mia.

– Não...

Ele a fitou por cima do ombro e resmungou: – Você é mesmo insuportável, não respeita nem mesmo a primeira refeição do dia.

– Eu disse não porque não vim te acusar de nada. Pelo menos, não dessa vez. Vim aqui para me desculpar – ela soprou.

– Eu acho que não ouvi direito, devo estar um pouco surdo desse ouvido – ele se inclinou, com um meio sorriso.

– Eu disse que sinto muito. Quis culpá-lo pelo que aconteceu entre eu e o príncipe.

– Você não disse exatamente com essas palavras ontem.

– Mas foi tudo o que pensei. Quis encontrar algum motivo para amenizar a dor de ter sido escolha dele se afastar de mim e talvez parte de mim já imaginasse, porém foi mais difícil ouvir em bom tom. E para fugir de lágrimas e de algum vazio, eu culpei você. Entretanto você apenas quis ajudá-lo, talvez não tenha sido como imaginasse, porém, não foi uma de suas piores intenções.

Mia abraçou-se, sem jeito, enquanto olhava nos olhos amarelados.

– Lindo discurso, ensaiou à noite inteira? – Ele quebrou sua posição sincera. – Está desculpada, princesa Amélia – disse com um sorriso implicante e passou andando por ela.

Mia ficou incrédula por sua reação.

– Por que ainda foge de mim? – Ela confrontou.

– Eu fujo de você?

– Sim, você foge.

Ela se aproximou de braços cruzados, ele rodopiou ficando face a face com ela, erguendo a cabeça e a olhando superiormente.

Ceres - Você sabe quem é o Inimigo [LIVRO 1 - COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora