Capítulo Sete - Parte I

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Mesmo que o sol tivesse se levantado mais cedo que o comum, muitos consideram que o dia começaria quando as trombetas soassem nas sete torres dando início as apresentações dos militares. Quanto a Mia, ela considerava o tempo de acordar e se preparar para a cerimônia uma tortura matinal. Aproveitou seus poucos segundos de serenidade após o despertar, o silêncio no quarto, enquanto acariciava seus grossos fios de cabelo refletindo sobre o sonho estranho que a assombrava desde sua fuga: uma garota de costas murmurando algo inaudível. O fato dela nunca olhar para Mia tornava algo um tanto aterrador. Mas seus sonhos nunca tiveram sentido, como memorias de coisas que nunca aconteceram.

A coragem para sentar-se sobre o colchão surgiu quando curiosamente através das grossas cortinas ela percebeu finos raios de sol tocando o soalho do chão. Levantou-se da cama e caminhou até a sacada como de costume e surpreendeu-se ao ver a manhã limpa e o céu azul, totalmente desigual uma manhã de outono. Faria calor, talvez pela última vez durante a estação.

Sua paz foi roubada quando a porta de seus aposentos foi bruscamente aberta, roliça e agourenta, Violetta Meyer invadiu o quarto acompanhada de sua equipe do mal. Começaria a sessão tortura. Rosa Meyer fazia demasiada falta, ela partira com a rainha, delicada como seu nome, Rosa sempre entendia os desejos da princesa de usar menos maquiagem ou acessórios. Violetta não! Mia a caracterizava como a gêmea do mal. Mesmo elas sendo gêmeas, Violetta Meyer exalava arrogância.

Ela surgiu com uma caixa, anunciando ter um presente da própria rainha. Um traje para a cerimônia de hoje, claro, mesmo estando longe a rainha se encarregara de encontrar algo apropriado para sua filha usar. E um novo espartilho. Além de um bilhete de como se comportar durante a cerimônia, lembrando-a amorosamente de que seria sua primeira aparição em publico após a fuga, a lista de regras era longa.

– Essa medida é duas vezes menor do que eu uso – disse perplexa ao ver o tamanho do novo espartilho.

– Você deve estar apresentável quando os reis chegarem, minha senhorita.

Mais tarde, raios solares queimavam os couros cabeludos, de uma tão maneira forte que ninguém esperava, assim como as superfícies dos trajes bordados em pura lã ou mesmo pele de animais. Mesmo que ainda fosse o início do outono, o calor era como de uma tarde de verão, ou a sensação térmica era causada pelos grossos trajes de outono que todos usavam na espera do frio. Mia sentia-se sufocada. O peso dos trajes era algo que eu podia facilmente lidar mesmo com o calor, entretanto o espartilho torturava-a, sentia-o em contato com sua pele quente e úmida de demasiado suor, amassando as costelas com cada movimento ou suspiro seu. Ela abanava o leque quase de maneira desesperada sentada na tribuna, solitária, sentindo o pano quente criar quase um forno humano. A cerimônia começaria após a chegada do rei e nesse contratempo, todos os convidados conversavam entre si sobre assuntos fúteis.

Ainda rangia os dentes de raiva quando se lembrava do quanto fora idiota de ter ido atrás de Lucky Berbatov. Se ela era tão fútil e vazia quanto ele acreditava, não deveria ter tido aquele trabalho para entregar aquele arco para aquele homem rude. Bufou.

Não, Mia. Não pense nele, não perca seu tempo!

Ela olhou em volta e enfim, no que pensar?

Sozinha na cadeira tentava não demonstrar extremo incômodo com seu traje, ainda menos com o objeto de tortura por debaixo do vestido formal. Ainda não acreditava como outras mulheres sentiam-se bem com isso apenas por estarem na moda!

Elliot, aquele que ainda dizia ser seu irmão, deixou-a sozinha para socializar-se com aqueles que participarão da cerimônia. Ele não recebera nenhuma interdição de Sua Alteza. Uma das regras na carta enviada pela rainha foi de evitar conversas com qualquer um da realeza antes de sua chegada. Então era obrigada a ficar na tribuna destinada a família real, junto das gêmeas que inventavam brincadeiras diferentes de cinco em cinco minutos. Apesar de Anastácia e Alice serem gêmeas fraternas, Mia não as confundia, Anastácia Norwood tinha seus cabelos curtos e ondulados, jovem, mas aparentava ser mais forte e realista. Alice Norwood já carregava um gênio mais calmo, bondoso e gentil. Todavia, elas nunca, nunca se separavam.

Ceres - Você sabe quem é o Inimigo [LIVRO 1 - COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora