Ceres - Você sabe quem é o Inimigo [LIVRO 1 - COMPLETO]

Capítulo Oito - Parte II

II

– Devo dizer que mesmo com roupas simples, você fica deslumbrante.

Mia meneou a cabeça em agradecimento ao elogio dispensável, apenas pensando como seria longo o dia ao seu lado, ele lhe estendeu a mão para que ela subisse na carruagem. Entraram num acordo, Nikolas Kaufmann lhe confirmou que poderia ter as respostas que ela procurava por conhecer um detetive que habitava próximo da cidade de Skyblower, esse tal amigo poderia ajudá-los a descobrir quem poderia ser Lucky Berbatov. Bastaria ela erguer alguns vilares de ouro, segundo Nikolas. Para ele conseguir o consentimento de seu pai, Kaufmann inventou que levaria a princesa numa estufa muito diversificada no interior da cidade. Seu pai, por sua vez, assentiu talvez na esperança de distrai-la dos assuntos relacionados a Berbatov, que daria sua resposta hoje, no jantar com o rei, mas independente dela, Mia estava segura que teria o que procurava antes disso.

Olhou então nos olhos carreiristas de Nikolas que lhe contemplavam de modo malicioso enquanto a mão esperava o contato da dela. Antes que Mia prosseguisse, a atenção deles foi desviada para Thor, que se aproximava em passos rápidos, alcançando a carruagem.

– Achei que você estivesse vigiando ele – ela o repreendeu com o olhar. – O que você está fazendo aqui?

– Lucky saiu do castelo para encontrar os amigos, voltará hoje à noite – anunciou. – Para onde está indo?

– Não há tempo para explicações, passarei o dia fora – Thor fitou Nikolas Kaufmann parado como uma estátua ao lado deles. – Há um detetive próximo à cidade. Estou certa de que voltarei com novidades, o senhor Kaufmann me acompanhará.

– Sua ama deveria acompanhá-la.

– Pediria a presença dela, contudo Rosa amanheceu resfriada, o ar do outono não lhe faria bem. Terei de ir apenas com a presença de Sor Nikolas – disse, tentando não demonstrar seu desdém.

– Então o Sor Kaufmann guiará o cocheiro, eu lhe acompanharei princesa.

Mia deixou escapar um olhar de espanto e também de uma discreta alegria, porém foi visível a súbita raiva nos olhos de Sor Nikolas.

– O rei estava demasiado ocupado quando autorizou essa viagem e certificou-se que eu mesmo verificasse que tudo estava em ordem. Você conhece as regras, Sor Nikolas. Estava prestes a sair do castelo sem a princesa estar acompanhada de sua ama. Então eu serei o acompanhante dela.

A voz de Thor era clara e límpida, ameaçadora ao mesmo tempo. Mia prensou os lábios para não deixar um sorriso escapar, mantendo-se séria.

– Ainda me dizem que nas terras nortistas não existe machismo – disse ela, com falso indigno, dando as costas para os cavaleiros e subindo sozinha na carruagem. Thor entrou na carruagem junto a ela e fechou a porta, a feição enfurecida de Nikolas ficou para trás. A carruagem começou a andar e Thor apenas se mantém quieto olhando janela afora, como se não tivesse feito nada, e Mia não evitou fitá-lo no estofado oposto ao seu com um sorriso malicioso até que ele percebesse.

– O que há?

– Ambos sabemos que o rei não lhe dera ordem alguma. Salvou-me de um longo dia apenas com a presença dele.

– Nota-se de longe o quanto Nicolas quer agradá-la – Thor trincou o maxilar.

– Por que simplesmente não o deixou ser minha companhia?

– Você queria que ele fosse sua companhia? – A voz dele soou direta e um pouco protetora, um vago silêncio tomou o ar e eles ouviram apenas o barulho das rodas rodando na estrada de terra.