Parte 24

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Acertou quem respondeu que seria o Francesco. Matteo chegou logo dizendo que a conversa com o pai fora melhor do que ele esperava, e a tal regra tinha ido pelos ares. Eu fiquei feliz com isso, assim como Elisa. Romeu não expressou nenhuma reação.

Falando nele, não troquei mais uma palavra com Romeu, eu ficava nervosa sempre que ele se aproximava. Ele até parecia querer conversar, mas era bem óbvio que não era o melhor momento para isso, então eu sempre recuava estrategicamente.

Matteo e eu, passamos pouco tempo depois das revelações ainda na casa, sabíamos que a gravidez de Elisa que estava apenas na terceira semana seria de risco por conta da idade um pouco avançada, então fomos embora cedo para que ela pudesse descansar.

Matteo estava animado com a decisão do pai, me avisou que teria que fazer uma reunião com os outros funcionários para dar a notícia, mas já estava animado. Eu não sei como ficariam as coisas se seu pai tivesse negado esse pedido, e isso me assustava um pouco. Será que eu já gosto tanto de Matteo, que abriria mão do meu emprego para ficar com ele? Ainda é recente, mas eu já tenho uma resposta para essa pergunta: com toda certeza, abriria.

Esse é um namoro de menos de vinte e quatro horas, mas que já havia enfrentado uma regra de ambiente de trabalho, e estava prestes a enfrentar uma crise por um terceiro elemento, que para piorar tudo ainda mais, era membro da família de uma das partes. Tem coisa mais complicada?

Eu vou ter que agarrar esse homem com unhas e dentes porque pelo o que tudo indica, o universo vai conspirar para tentar tirá-lo de mim.

Assim que chegamos em casa, por volta das seis da tarde, eu subo para tomar um banho e assim que saio do banheiro, encontro meu namorado deitado de bruços na cama. Suas costas estão nuas e ele usa apenas a calça jeans que usou durante o almoço. Eu paro enquanto ele não nota minha presença, para admirar esta obra prima. Eu esqueci de mencionar o quanto esse jeans apertado realça suas coxas e bunda.

-Sei que está aí me olhando. -Ele diz sem virar o rosto para me olhar.

-Como sabia? -Eu pergunto curiosa.

-Senti minha bunda queimar, estava encarando. -Ele acusa e vira de barriga para cima, me fazendo rir de seu comentário. -É pedir muito que essa toalha caia?

-É sim. -Eu digo indo em direção ao meu guarda roupa. Lá, pego uma calcinha preta e a visto sob o olhar atento de Matteo. Eu também visto uma camisola fina que realça o bico dos meus seios sem o sutiã. -Agora é você quem está encarando. -Eu acuso e jogo a toalha nele, que se levanta e caminha até a mim.

Eu tento, divertidamente, correr antes dele me pegar, mas é inevitável. Ele me alcança e me beija, apaixonado. É ótimo se sentir assim, ser beijada por quem você sabe que gosta de você, é um sentimento único e especial.

Mas eu me sinto culpada, sinto que não estou sendo sincera e isso me dói. Não vou conseguir transar com ele assim, por mais que eu queira.

-Eu estou cansada. -Digo entre os beijos, quando sinto sua mão subir minha camisola, ele para imediatamente.

-Quer se deitar? -Ele sugere.

-Por favor. -Eu digo.

Nós então nos deitamos e ele não tenta mais nada. Gosto de como ele atende a meus pedidos e me respeita sem pestanejar.

Estou deitada em seu peito, e ele acaricia meu braço desnudo. Escuto as batidas do seu coração e isso me acalma.

-Vai dormir aqui? -Eu pergunto.

-Não. Eu queria, mas não trouxe roupas limpas. -Ele diz.

-Vai ter que lembrar da próxima vez.  Gostei de acordar, e você ainda estar aqui. -Eu digo. E foi mesmo uma das melhores coisas que me aconteceu há semanas.

Matteo tem se tornado meu potinho de alegria, estar com ele me deixava feliz, radiante, eu me sentia totalmente entregue e não queria que essa sensação fosse embora. Mas eu tinha ficado com o seu irmão, o irmão que aparentemente ele odeia. Não foi culpa minha isso ter acontecido, eu não tinha ideia de que eles eram irmãos, e quando eu fiquei com Romeu, não estava com Matteo. Mas manter isso em segredo, é escolha minha, e se der errado, a culpa vai ser minha. Talvez ele me entenda, talvez ele veja que eu não tive culpa realmente.

-Como é sua relação com o seu irmão? -Eu pergunto curiosa sentindo suas carícias.

-Romeu? -Ele questiona surpreso.

-Tem mais irmãos? -Eu levanto a cabeça para olhá-lo, mais surpresa ainda.

-Não, só não esperava a pergunta. -Ele ri e eu abaixo a cabeça de novo, os carinhos então se direcionam para os meus cabelos.

-E então? -Eu insisto na pergunta.

-Não somos melhores amigos. -Ele se limita a dizer.

-Por que? -Eu pergunto.

-Desde crianças, nós não nos damos tão bem, sempre competimos tudo. -Ele diz e a culpa só aumenta. Será que eu fiz parte de algum plano do Romeu? -Começou com os brinquedos, depois a atenção dos nossos pais, namoradas,... até a empresa. -Ele diz por fim.

-Como seus pais reagiam a isso? -Eu pergunto.

-Nós não somos irmãos de sangue. Ainda éramos pequenos quando nossos pais se juntaram. Com medo de tratar o "não filho" de sangue diferente, Elisa concentrava mais sua atenção em mim, e Francesco nele. Meu pai tendia a mimar mais ele, Elisa a mim, chegamos até a pensar que quando meu pai se afastasse da empresa, o lugar seria deixado para Romeu. -Ele conta. Então não são irmãos de sangue, isso explica a falta de semelhança.

-Por que acha que o lugar na empresa foi deixado para você? -Eu quero saber mais.

-Tanto eu, quanto Romeu, estudamos para ocupar o lugar, mas eu sou mais responsável que ele. Ele parece não ter envelhecido. -Ele diz. -Acha que a vida é só curtição, bebida, balada..

-Entendi. -Eu digo somente.

Iniciei essa conversa a fim de aliviar um pouco a culpa, mas de nada me adiantou. Será que seria menos pior se eles fossem os irmãos inseparáveis? Talvez assim, Matteo entendesse que fora apenas um mal entendido, porque agora que sei que se odeiam, ele com toda certeza vai achar que foi um plano de seu irmão, e talvez tenha sido, talvez eu tenha caído.

-Também tem problemas na família? -Ele me pergunta.

-Uma família sem problemas não é uma família. -Eu digo. -Não lembro de boa parte da minha infância, minha mãe engravidou aos quinze e me abandonou com o meu pai que parecia me odiar. Com isso, eu descontava sendo uma adolescente rebelde. Eu saía escondido, voltava tarde,... dei tanto trabalho que cheguei a sair com alguns professores no ensino médio. -Digo e o carinho em meus cabelos param imediatamente.

-Você fez o quê? -Ele cai na risada, surpreso.

-Eu fazia o terror na vida do meu pai. -Digo rindo. -A gente se odiava. Aí ele ficou doente, foi diagnosticado com Alzheimer e antes dele piorar muito, nós fizemos às pazes. Com os lapsos de memória, às vezes ele se esquece disso. Por isso me tratou como me tratou aquele dia na clínica, e por isso me chamou de vadia. -Eu lembro e suspiro.

-Eu teria adorado ter te conhecido na sua época de rebeldia. -Ele diz, se pondo sobre mim e eu sei o que ele está fazendo, está desviando o assunto pra eu não ficar mal. Está funcionando.

-É mesmo? Queria ser meu professor? -Eu provoco.

-Você é muito danadinha. -Ele acusa e então me beija.

Nós até tentamos, mas seu celular tocou nos atrapalhando e então concordamos que estava tarde e ele precisava ir.

Eu comi um sanduíche depois que ele fora embora, e só dormi depois de receber uma mensagem sua de "boa noite".

...

Meu Chefe⚘ -Livro 1 & 2 (FINALIZADA) ✔ Onde histórias criam vida. Descubra agora