Parte 8 (Livro 2)

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Faz uns dez minutos que acabei de confessar para o pai dos meus filhos que teremos gêmeos, e ele não disse uma só palavra. Parece mega assustado.

Eu imaginei ele tendo essa descoberta de várias formas e tendo diversos tipos de reações, ficar calado não era uma delas.

-Então... você vai dizer alguma coisa? -Eu pergunto.

Mais um pouco de silêncio. Eu não consigo nem olhar para ele, é tão estranho. Então eu ouço um soluçar e finalmente consigo encará-lo.

-Você está chorando? -Eu franzo a testa e ele seca as lágrimas com as costas das mãos.

-Não. -Ele responde e respira fundo.

-Então isso que está saindo do seus olhos não são lágrimas? -Eu pergunto irônica.

-Tudo bem, são lágrimas. -Ele ri. -Eu posso tocar? -Ele aponta para a minha barriga.

-Não sem antes enxugar esse rosto. -Eu digo fazendo careta. -Peguei um certo nojo a lágrimas que não são minhas durante a gravidez. -Explico e entrego a caixa de lencinhos que deixo na mesinha ao lado do sofá. Sempre preciso dela quando assisto a maioria dos filmes, a gravidez me deixou sensível.

-Tudo bem. -Ele pega a caixinha e usa dois lencinhos para enxugar o rosto. Depois os descarta.

Matteo então se levanta. Ele respira fundo, ajeita as calças e se ajoelha. Sim, ele se ajoelha bem na minha frente e eu me lembro do dia em que caí em sua sala e ele fez o mesmo gesto pra ver se eu tinha me machucado.

-Já escolheu os nomes? -Me pergunta preocupado.

-Não, eu não consigo decidir. Desde que descobri serem gêmeos, eu gostaria que tivessem nomes semelhantes, mas eu sempre acabo enjoando dos nomes em poucos dias. Pensei que quando eu ver os rostinhos, eu saiba, funcionou com algumas pessoas na internet. -Eu digo. Ele pareceu aliviado, será que ele vai querer participar desta parte?

-Então como os chama quando conversa com eles? -Ele pergunta curioso.

-Atualmente eu chamo de número um e número dois. -Eu dou de ombros.

-Apelidou nossos filhos com números em que as pessoas se referem a necessidades fisiológicas? -Ele parece um pouco assustado e um tanto incrédulo.

-Eu fiquei sem ideias, ok? Número um é o que está na esquerda, ele é o mais calmo, dorme quase o tempo todo. Já o número dois vive chutando minhas costelas e não me deixa em paz um minuto. -Eu explico. Às vezes os gêmeos me deixavam louca, eu mal conseguia dormir, tinha algumas dores e enjoos... Mas são tudo o que eu tenho, e desde que senti eles mexendo a primeira vez, eles se tornaram tudo de que eu preciso.

-Nós temos que escolher os nomes logo. -Ele comenta.

O "nós" na frase me deixou desconcertada, é estranho finalmente ter que aceitar que os gêmeos não são só meus.

-Oi, garotinhos. Vocês não devem conhecer a minha voz, mas eu sou o papai. -Ele começa a falar baixo com o rosto perto da minha barriga, ainda com receio em me tocar. A mamãe de vocês deve ter falado muito mal de mim...

-Pode apostar, eu falei. -Não nego.

-Eu imagino. -Ele diz depois de me olhar. -Mas eu queria deixar bem claro para vocês que eu não os abandonei. -Ele volta a atenção para a minha barriga. -Eu só tenho certeza que vocês realmente estão aí há alguns minutos, porém eu já posso dizer que eu os amo com todo o meu coração. -Ele diz, Matteo parece estar falado a verdade, ele parece mesmo ter gostado da notícia e os gêmeos parecem ter gostado da voz dele porque assim que ele para de falar, eles começam a se mexer.

-Estão mexendo, se agitaram com a sua voz. -Eu sorrio. Sentir eles mexendo no meu ventre é uma sensação indescritível.

-Posso tocar? -Ele pergunta receoso e assim que eu concordo com a cabeça, ele põe as duas mãos em minha barriga.

Eu também coloco, gosto bastante de sentir, e uma barriga que comporta duas crianças de sete meses, então tem bastante espaço para quatro mãos.

Confesso que ter alguém para compartilhar essa sensação é bem legal, ter alguém que parece ter o mesmo entusiasmo que eu é gratificante. Fora difícil aparecer sozinha todas àquelas vezes no consultório. Eu não tinha ninguém na primeira consulta, nem na primeira vez que escutei os coraçõezinhos... Não tinha ninguém ao meu lado e quando descobri ser dois bebês ao invés de um só, não tinha ninguém para segurar minha mão e dizer que estava tudo bem, que eu iria conseguir. Na verdade, até tinha, eu mesma, eu tive que ser essa pessoa, visto que eu não tinha mais ninguém.

-Eu poderia ficar aqui o dia todo. -Ele sorri e me encara, suas mãos ainda estão em minha barriga.

-Eu sei, eles são maravilhosos! Eu mal posso esperar para conhecer seus rostinhos. -Digo empolgada.

-Contanto que puxem seus olhos... eu sempre gostei dos seus olhos. -Ele diz e eu suspiro. -Isso pareceu uma cantada? Me desculpe, não foi a intenção. Só quis fazer um comentário. -Ele então se levanta visivelmente incomodado.

-Tudo bem. -Eu tento confortá-lo, apesar de sim, ter se parecido muito com uma cantada. Acho que quando já se teve uma relação com alguém, é necessário medir as palavras sempre para que não confundam as coisas.

-Então você rompeu contato com todos de Chicago, exceto com Romeu. -Ele tenta tirar o foco e eu percebo a alfinetada em cheio.

-Ele é um dos meus "D'Angelo" favorito. -Eu respondo tranquilamente e dou de ombros.

-Então há mais de um. -Ele me analisa.

-Tem seu pai, sua mãe, a Beatrice... -E eu paro a lista por aí. Não, querido, eu não vou dizer o que você quer ouvir.

-Claro. -Ele parece não ter dado a mínima, mas por dentro eu sei que ele se imagina me castigando por isso.

-Então como anda tudo depois que eu fui embora? -Eu pergunto como quem não quer nada.

-Quer saber da empresa ou da minha vida? -Ele pergunta em um tom irônico.

-Meu bem, sua vida não me interessa em nada. -Eu digo entre risos. Um a zero para mim?

-Sei, andou perguntando sobre mim para o Romeu. -Ele joga no ar.

-Eu só perguntei uma vez..

-Arrá! Romeu não me disse nada, mas é bom saber que perguntou por mim. -Ele diz convencido de seu feito. Ok, o jogo está empatado.

-Tudo bem. -Eu dou de ombros e tento não parecer balançada por isso. -Eu só perguntei para saber se você já tinha ido embora para sempre com Paola, ou finalmente tinha morrido para que eu pudesse finalmente voltar. -Digo sem um pingo de arrependimento na voz.

-É mesmo? Ia voltar com os gêmeos quando achava que eu os rejeitei? Qual era o seu plano? -Ele pergunta curioso.

-Eu ia esperar eles nascerem, pedir um teste de paternidade comprovando que são seus e depois ia pedir uma pensão. -Digo tranquilamente.

-Sério? Achei que você seria do tipo que não aceitaria um tostão meu. -Ele diz intrigado.

-Eu não quero e não preciso do seu dinheiro, nem os gêmeos, não se engane. Mas se eles têm o direito de parte dos seus bens, eu não vou abrir mão disso porque tive um desentendimento com você, querido. Querendo ou não, você também contribuiu para que eles viéssem ao mundo, então é no mínimo obrigação sua ter participação nos gastos. Se eu achava ou não que você ia querer participar da vida deles, aí já é outro assunto.

-Bom posicionamento. -Ele admite. Parece orgulhoso, mas eu não estou em busca da sua aprovação.

-Eu sei.

-Quero conversar com você sobre outra coisa, se tiver tempo. -Ele diz.

-Eu já perdi o horário para entrar no serviço e você não parece querer ir embora tão cedo, sendo assim... -Eu o incentivo a falar.

-Temos que conversar sobre a Emma. -Ele diz e eu reviro os olhos.

...

Meu Chefe⚘ -Livro 1 & 2 (FINALIZADA) ✔ Onde histórias criam vida. Descubra agora