Parte 42

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A vida com Matteo estava se tornando uma verdadeira montanha-russa. Ficávamos alguns dias no alto onde tinha euforia, emoção, sensação de alegria, prazer... E outros dias que estávamos em baixo, medo, desconfiança, gritos..

Tudo só piorara com a chegada de sua prima Paola que parecia não ter limite algum. Ela aparecia a qualquer hora em nosso apartamento para tirar Matteo de casa, e quando eu digo "qualquer hora" eu não estou exagerando, a última vez que ela bateu em nossa porta, tipo, umas duas horas atrás, era meia noite. Combinamos de dormir cedo já que temos vôo para amanhã pouco depois do sol se pôr, mas até o momento nada dele chegar.

Estou furiosa por não saber o que tanto ele faz com essa mulher que é tão urgente e secreto que eu não posso saber.

Decidida a tomar alguma atitude, mando mensagem para Romeu pedindo o endereço da tal prima.

Pouco tempo depois, ele responde e me questiona, mas eu não revelo o real motivo, apenas digo que é importante ou do contrário, não estaria pedindo. A resposta seguinte vem com o endereço, então eu salto da cama, visto apenas um roupão, não tenho tempo para trocar de roupa.

Eu entro em um dos carros dele na garagem e dirijo até o tal endereço. No caminho, penso em todas as formas diferentes em que posso estrangular meu namorado e sua prima. Eu nunca fui ciumenta, mas essa história, de um tempo para cá, vem me dando nos nervos.

Chego no prédio e o porteiro custa a me deixar entrar, ele parece desconfiar de mim e me encara estranho dado a minha vestimenta.

-Olha aqui meu senhor.. -Eu respiro fundo antes que eu o xingue. -Minha prima mora aí. Eu vim vestida em um roupão, então o senhor deve imaginar o quão urgente é meu assunto com ela.

-Eu preciso interfonar antes. -Ele diz pela milésima vez.

-Não tem necessidade, apenas libere minha entrada, eu me resolvo com ela depois e garanto que o seu emprego estará a salvo. -Eu forço um sorriso.

-Tudo bem, mas se me demitirem eu vou atrás de você. -Ele ameaça.

-Ótimo, não vai precisar porque o senhor não vai ser demitido.

-Espero. -Ele aperta o botão que destrava o portão de entrada.

-Obrigada. -Eu entro, dou dois passos apressados, mas volto até o porteiro. -Qual o número do apartamento dela mesmo? A Paola. -Eu a chamo pelo primeiro nome para parecer mais íntima, mas o porteiro demonstra desconfiança diante da minha pergunta. -Eu só vim aqui uma vez e já faz um tempo. -Acrescento.

-Quarto andar, apertando 53. -Ele diz.

Eu sorrio antes de ir para o elevador.

O prédio está um completo silêncio, o que acho que é normal para as quase três horas da manhã.

O elevador se abre e meu coração acelera em expectativa. Caminho pelo corredor enquanto vou checando os números pendurados nas portas. 49... 50... 51 ... 52... 53.

Paro diante da porta e ouço risadas vindo de dentro, uma delas é de Matteo. De repente para, eu ponho a mão na maçaneta e a giro abrindo a porta.

Prestem bastante atenção na seguinte cena, foi ela quem partiu meu coração em milhares de pedaços insignificantes:

Havia um sofá grande de couro marrom, Matteo estava sentado nele. Uma taça de vinho em uma das mãos, assim como a prima Paola, mas o detalhe que mais me chocou, mais me chamou a atenção é que os dois estavam com os lábios colados, estavam se beijando. Eu não sei por quanto tempo aquele beijo durou, pois o mundo parou de girar para mim ali naquele momento

Eu suspirei e devo ter feito barulho, visto que ambos se afastaram juntos e quando Matteo me viu parada ali, naquela porta, se assustou.

-Kayla... -Sua voz sai em um susurro baixo e apavorado.

Eu me viro e saio correndo dali. Mas antes consigo ouvir Paola dizer "deixa ela, Matteo."

-Kayla, por favor. -Ouço ele atrás de mim.

O elevador demoraria, e tudo o que eu quero é sair o mais depressa dali, então eu esqueço a caixa de metal e vou direto para a escada.

São vários lances de degraus, já que estou no quarto andar, mas não sei dizer se estou tão ofegante pela corrida nas escadas ou pelo pânico que a cena me causou

Estou tonta quando vejo de longe o porteiro, minha visão está turva então percebo que eu estava chorando, meu rosto parece dormente, meu corpo todo parece dormente. Morto.

-Aconteceu alguma coisa lá em cima? -O porteiro vem até mim, preocupado.

-Eu preciso.... sair daqui.  -Digo rumando apressada para o portão.

-A srta não parece bem, o que houve lá em cima? -Me segue e volta a perguntar.

-Abre o portão. -Peço outra vez. A mão no peito, sinto o que restou do meu coração doer.

-Kayla, espera! -Ouço Matteo vindo de longe. O porteiro me olha confuso.

-ABRE A DROGA DO PORTÃO! -Eu grito e ele faz o que eu peço.

Matteo tenta correr, mas eu consigo chegar primeiro em seu carro, eu entro e travo as portas.

-Kayla, pelo amor de Deus, me escuta! Abre a porta, deixa eu entrar! -Ele pede desesperado, batendo no vidro do seu carro e tentando abrir a porta, tudo em vão.

Por que amar alguém dói tanto? Eu já senti dores de várias formas diferentes e posso garantir que esta é uma das mais terríveis.

Agora eu sinto falta da Kayla do passado, a que não amava ninguém, a que não sabia o que era o amor. Essa Kayla ao menos nunca conheceu a dor de ser enganada, traída. A dor de sentir que entregou o coração para alguém que só queria um pouco de diversão e fuga da rotina.

A Kayla atual se sente a pior pessoa do mundo...

A Kayla do passado teria sentido pena da Kayla atual. Pena e um pouco de vergonha...

Mas ainda resta um pouco de dignidade, a Kayla atual ainda não está morta.

Eu respiro fundo algumas vezes, enquanto ouço o som abafado de Matteo gritando do lado de fora do carro. Eu seco minhas lágrimas, ligo o carro e dou a partida cantando pneu, enquanto o deixo para trás.

Dirijo às pressas para o nosso apartamento e sei que é o primeiro lugar onde ele vai me procurar, então eu tento agir rápido.

Subo de elevador e entro em casa, pego uma bolsa e junto apenas as coisas mais importantes que eu consigo carregar, também pego a minha mala que estava pronta para viajarmos amanhã para Miami.

Eu ainda não consigo acreditar no que eu vi, e só consigo me perguntar o quanto eu fui burra por não ter notado os sinais.

Malas prontas, eu desço. Vou para a rua e entro no carro de aplicativo que pedi.

Meu celular vibra sem parar no bolso do roupão, eu o desligo sabendo perfeitamente quem está tentando se comunicar comigo.

A montanha-russa saiu dos trilhos, se chocou contra uma parede de concreto e me deixou soterrada debaixo dos escombros. Eu não tenho ar para respirar.

A diversão acabou.

...

Meu Chefe⚘ -Livro 1 & 2 (FINALIZADA) ✔ Onde histórias criam vida. Descubra agora