Reencontro

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- Não precisa se preocupar tanto comigo, Regulus. – Pedia com carinho.

Novamente, dispensava o auxílio do noivo.

Tragando o perfume elétrico, o corpo estremecia mediante a vitalidade que lhe atingia.

Aquilo era... O sol das primeiras horas do amanhecer derrubando as velhas folhas e sacudindo arvores, despertando a todos para contemplá-lo. E Severus tinha o corpo sugado pela necessidade em aplaudir aquele esplendor, como se o coração necessitasse daquela energia para voltar a pulsar e afastar as cinzas lhe sucumbindo.

Caminhando para a sala, fazia quanto tempo que...

Um minuto, por que diabos Sirius e James arrumava a decoração? Ou melhor, o que os "marotos" faziam ali?

Desapontando, massageou a fronte, arfando...

Profundamente.

Dando meia volta, avisava:

– Acho que ainda não me sinto bem, vou retornar para o quarto.

- Severus! – Felicitava Sirius. Levantando-se apressado, mordia o lábio para não contar o "segredo". Acolhendo-o pelos ombros, trazia até o sofá, em falsas saudades. – Tenha um pouco de consideração pelo tempo que estudamos juntos e fique conosco.

- Sirius, pare.

- É natal, pirralho.

Vencido, Regulus relaxou os ombros, assentindo ao silencioso pedido do amado sobre ficarem um pouco. Deferindo um terno beijo nos negros cabelos, ficou parado ao seu lado, atento a cada suspiro ou o mínimo sinal que pudesse indicar algum mal-estar.

Amassando uma das bolas em profundo ódio, James era a personificação dos ciúmes. Trincando os dentes para não avançar no rival, Snape sentia a raiva expelida pelos malditos feromônios infestando toda a sala.

Aos poucos, tornava-se até difícil respirar.

Afastando a mão do noivo por um educado instinto, evitava os certeiros olhos do grifinório, arrependido em ter optado por permanecer ali.

Todavia, fazendo esforço para levantar, as pernas se recusavam.

Nunca, nem em seus piores pesadelos, ele iria admitir.

Todavia, tinha falta do perfume de James.

Daqueles olhos tão determinados.

Do forte contato.

Do sufocante afeto.

Do...

- Snape! – Assustou-se Remus quase derrubando a bandeja com 04 xícaras repletas de chocolate quente. Reparando o Black caçula, mostrou os dentes, bem constrangido. - Então, você é o novo senhor Black?

- Vamos ter que aceitar este infeliz na família. - Alfinetou Sirius, aborrecido.

O rabugento rapaz ainda tentou dilacerá-lo com o cotidiano olhar repleto em ódio, contudo, não conseguiu sustentá-lo por muito tempo por conta da energia advinda de James.

O que aquele maldito pretendia provar?

Apesar de tudo, por que sentia uma felicidade tão imensa saltitando dentro de si?

Compartilhando do espaço vazio ao lado do amado, Regulus recolheu ambas as mãos entre as suas, num gesto especial de carinho.

Olhando para o licantropo, explicou apaixonado:

- Ele não quer o sobrenome Black e quem sou eu para dizer não ao amor da minha vida?

- Não ligue pro Sirius, Severus. É bom estar numa família. - Entregando-lhe uma das taças de chocolate, o sonserino levantou a mão em negação, agradecido.

Notando que o bondoso garoto insistiria, Regulus interpôs:

- Não, obrigado! Ele não está conseguindo comer nada que já vomita.

- Oh, por isto você está tão pálido. - Um grande sorriso em comemoração tomava os lábios de Remus e, inocentemente, desejou. - Meus parabéns! Está de quantas semanas?

- Como assim? - Estranhou Regulus e James desviou o olhar enrubescido enquanto o coração saltitava em nervosismo.

Observando a cena, Sirius soltou uma sonora risada, voltando a pegar as bolas e colocar na árvore.

Reparando o vermelho tingir o rosto do amigo extremamente sem jeito, começou a assobiar, evitando os comentários maliciosos que entregassem toda a situação antes da aguardada ceia.

- Não... - Protestou Severus, um tanto cansado. - E-Eu não espero um bebê. Pelo menos, não por agora.

- Até porque... - Completou Sirius, admirando o próprio reflexo na bola prateada e espionando de esguelha como o amigo implorava por silêncio. - Somos uma família tradicional e só é permitido sexo após o casamento.

- Ah, mas o Regulus não vai respeitar esta tradição. - Ponderou Remus em brincadeira e, pelo rosto desacreditado dos noivos, estavam na cara que eles respeitavam. - Ah, desculpa. - Extremamente sem graça. - Então é algo para se preocupar já que não está conseguindo comer nada.

Deixando a bandeja sobre a mesa de centro, ele tentou servir aos outros, mas o clima estava estranho demais para chocolate.

Ainda assim, o licantropo se serviu. Quando tenso, só precisava de doce. E ali requeria muito doce.

Após três longos goles, ingerindo o chocolate como água, sentou-se em frente ao casal.

Olhando a decoração da casa tão sonserina, tentou quebrar o gelo, num casual comentário:

- Quando éramos mais jovens, Sirius e James viviam perseguindo o Severus.

Ninguém riu, mas o Sirius não perdeu a oportunidade.

Deixando as bolas, fez questão de completar numa maldosa e venenosa risada:

- O James ainda hoje, acredita?

- Não é assim... - Levantando-se, sentou exatamente entre o casal. - Eu não sabia que ele seria cunhado do meu melhor amigo. Aliás, - Dando um meio abraço ao secreto amante, explicou aos demais por um pequeno sorriso. – Vou continuar perseguindo para garantir que tudo fique bem. Eu tenho muito estimo pelo Severus.

Sem compreender, Regulus se afastou.

Embora não suportasse os amigos do irmão, naquele momento, em consideração ao clima festivo, optou por manter a educação.

Aceitando uma das xícaras de chocolate, respondeu angustiado:

- Estou chamando ele para ir ao médico, mas ele insiste que é só um resfriado.

Aspirando o carinhoso cheiro, Severus abdicava a razão, rendendo-se ao cansado instinto.

Era aquele cheiro que precisava.

Tentou interagir com os demais, mas os olhos pesavam.

Mataria o maldito Potter numa outra hora, mas agora... Repousando a cabeça contra o ombro do imbecil, adormecia, como não dormia a dias.

Mordendo o próprio lábio, Remus entendia o que ocorria.

Lançando o olhar preocupado para Sirius, ria nervoso concordando com os animados planos explicados pelo mais jovem herdeiro acerca do casamento dos dois sobre um congelado rio de flores pálidas, iluminados pela lua cheia numa floresta quase inacessível.

O lincantropo nem ousou intervim como a lua cheia era uma péssima ideia.

Afinal, aquela cerimônia já teria problemas demais.  

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