Instinto

Destinos

Deixando pegadas perdidas na areia, James fechava os olhos, enfeitiçado pelo barulho do mar.

As ondas calmas.

A brisa lhe afagava o rosto.

Ele rodopiava e o mundo não importava.

Tudo era pequeno demais para representar algum perigo.

Rodopiando, poderia até voar, se quisesse.

Assim como o oceano, ele desconhecia a palavra "limites".

O que, certamente, não detinha.

Até porque quem ousaria enfrentá-lo?

Ele era...

A ventania se tornava densa.

Gotículas de chuva lhe molhava o rosto.

A primeira.

Segunda...

Intrigado, elas estavam mornas.

Abrindo os olhos, o entardecer conferia um vermelho sangue ao céu. Vermelho até demais para parecer natural.

A gotícula da chuva que lhe percorria a bochecha era... Salgada?

Eram lágrimas. Suas lágrimas...

A areia queimava em febre.

Ele não conseguia ficar ali.

Mas...

Uma criança chorava.

Onde ela estaria?

Onde estaria...?

Severus!

Várias pessoas choravam.

Desesperado-se, tentava correr em direção ao som, mas as correntes em seus tornozelos...

Ele insistia.

Ele não permitiria que fosse parado.

Ele era...

Correntes em seus pulsos.

A areia transmutava numa imensidão de correntes enferrujadas pelo céu que pingava, escorrendo como mera tinta derramada.

Mas, ele era...

Queria gritar, porém o choro se tornava mais alto, tanto que nada mais importava.

Mas...

Ele não iria desistir.

Ele era...

Ele não poderia padecer ali.

Ele...

Despertando aterrorizado, James levantou num impulso. Ofegante, o elevar do corpo foi impedido pelo braço que lhe envolvia a cintura.

Mordendo os lábios inferiores para reprimir o barulho, o nervosismo o fazia chorar, como uma criança perdida.

Jurava que os pulsos ardiam pelas correntes inquebráveis.

Jurava que...

Reconhecendo as prateleiras e a lâmpada do próprio quarto, repetia para si que só havia sido um sonho sem importância.

Sem nenhuma importância.

Levando ambas as mãos ao rosto, o corajoso grifinório abafava os soluços. Apesar dos últimos dias felizes, nas últimas semanas, tinha constantes pesadelos, sentindo a vida ri de si e de seus limites.